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Resumo
INTRODUÇÃO
A leitura é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças, desempenhando um papel essencial na construção do conhecimento e na ampliação das habilidades comunicativas. O ambiente familiar exerce influência significativa na formação do hábito de leitura, pois as interações entre pais e filhos no contexto doméstico criam experiências que favorecem o contato precoce com os livros e contribuem para o desenvolvimento do pensamento crítico e da criatividade. No entanto, observa-se que, em muitos lares, a leitura ainda não é incentivada de forma sistemática, o que pode impactar negativamente o desempenho escolar e o interesse das crianças pela literatura.
Diante desse cenário, surge a seguinte problemática: de que maneira a mediação parental pode influenciar a formação do hábito de leitura infantil e quais estratégias podem ser adotadas para estimular esse processo de forma eficaz? O presente estudo tem como objetivo analisar a influência dos pais na leitura infantil e investigar estratégias que possam ser implementadas no ambiente familiar para promover o gosto e a autonomia das crianças no ato de ler. Além disso, pretende-se compreender os fatores que contribuem para o sucesso da mediação parental e como ela impacta o desenvolvimento cognitivo e linguístico infantil.
A relevância dessa pesquisa reside na necessidade de compreender o papel da família na construção de leitores assíduos e no impacto positivo que essa prática pode gerar no desempenho acadêmico e na formação sociocultural das crianças. Segundo Vygotsky (2001, p. 117), “o aprendizado ocorre primeiro no nível social, por meio da interação com os outros, e depois no nível individual, dentro do próprio sujeito”. Nesse sentido, a presença ativa dos pais no estímulo à leitura se alinha ao conceito de mediação do conhecimento, no qual o desenvolvimento infantil ocorre a partir da relação entre o indivíduo e o meio social.
Não obstante, esta pesquisa se justifica pela necessidade de aprofundar o debate sobre a participação familiar na leitura e identificar práticas eficazes que possam ser aplicadas no cotidiano para fortalecer esse hábito. A compreensão desse fenômeno pode contribuir para a formulação de políticas educacionais e para o desenvolvimento de programas voltados à orientação parental, garantindo que mais crianças tenham acesso a experiências leitoras enriquecedoras desde a infância.
Metodologicamente, o estudo se baseia em uma abordagem qualitativa, utilizando revisão bibliográfica como principal instrumento para a análise do tema. Serão examinadas pesquisas acadêmicas, artigos científicos e publicações especializadas que abordem a relação entre a mediação parental e o desenvolvimento do hábito de leitura infantil. A análise crítica dessas fontes permitirá identificar as principais estratégias e práticas adotadas no ambiente familiar, além de destacar os impactos dessas ações no aprendizado e na construção da identidade leitora das crianças.
Dessa forma, o presente artigo busca ampliar a compreensão sobre o papel dos pais na formação do hábito de leitura infantil, ressaltando a importância da mediação parental e propondo estratégias que possam ser utilizadas para incentivar a leitura desde os primeiros anos de vida.
A LEITURA INFANTIL E A MEDIAÇÃO PARENTAL
A leitura infantil é um dos principais fatores que contribuem para o desenvolvimento cognitivo e social da criança, estabelecendo as bases para a aquisição da linguagem, da criatividade e do pensamento crítico. Desde os primeiros anos de vida, a exposição a livros e textos escritos permite que os pequenos ampliem seu vocabulário, compreendam melhor o mundo ao seu redor e aprimorem sua capacidade de expressão. No entanto, esse processo não ocorre de maneira espontânea, sendo fundamental a presença de mediadores que incentivem e direcionam a interação das crianças com os textos. A família, especialmente os pais, desempenha um papel central nessa mediação, pois a qualidade e a frequência das experiências de leitura compartilhada impactam diretamente o interesse e o prazer das crianças pela leitura.
A mediação parental na leitura infantil envolve a criação de um ambiente leitor estimulante, no qual os livros estão acessíveis e fazem parte do cotidiano da criança. Além disso, a forma como os pais interagem com os filhos durante a leitura pode determinar o nível de envolvimento e compreensão dos pequenos. Estudos apontam que quando os pais leem para seus filhos de maneira interativa, com entonação, pausas reflexivas e incentivo ao diálogo sobre o conteúdo lido, há um aumento significativo na capacidade de interpretação e retenção de informações (Zorzi; Costa, 2020). Essa mediação ativa transforma a leitura em uma atividade prazerosa e fortalece o vínculo afetivo entre pais e filhos, tornando-se um momento de conexão e aprendizado conjunto.
O impacto da mediação parental na formação do hábito de leitura é um fenômeno amplamente discutido por especialistas. Vygotsky (2001, apud Oliveira, 2019, p. 87) ressalta que “a aprendizagem ocorre por meio da interação social, sendo a leitura um dos principais instrumentos para o desenvolvimento da cognição infantil dentro do contexto familiar”. Essa perspectiva reforça a ideia de que a mediação não se limita à apresentação de textos, mas também envolve a participação ativa dos pais na interpretação e no incentivo à reflexão crítica sobre o material lido. Quando a criança percebe que a leitura é valorizada no ambiente familiar, tende a incorporar esse hábito em sua rotina, aumentando suas chances de se tornar um leitor autônomo e engajado.
Outra questão relevante é a influência do modelo parental no comportamento leitor das crianças. Segundo estudos contemporâneos, crianças cujos pais são leitores ativos tendem a desenvolver maior interesse por livros e literatura. A imersão em um ambiente leitor, onde os pais demonstram entusiasmo e fazem da leitura uma prática cotidiana, gera um efeito de espelhamento, incentivando os filhos a reproduzirem esse comportamento (Rocha; Lima, 2021). Esse fator demonstra que não basta apenas fornecer livros, mas é essencial que os pais se envolvam e sirvam de exemplo, mostrando que a leitura é uma atividade prazerosa e relevante.
A falta de mediação parental, por outro lado, pode levar à desmotivação e à resistência das crianças em relação à leitura. Em muitos casos, a ausência de incentivo familiar faz com que os pequenos vejam a leitura apenas como uma obrigação escolar, sem qualquer relação com o lazer e o desenvolvimento pessoal. Conforme destaca Solé (2020, p. 45):
A leitura não deve ser imposta, mas sim incentivada de maneira natural e prazerosa. O papel dos pais é criar um ambiente onde os livros sejam uma fonte de curiosidade e prazer, e não um fardo obrigatório. Quando a mediação ocorre de forma eficaz, a leitura se torna uma ferramenta poderosa para a aprendizagem e o desenvolvimento integral da criança.
Portanto, a mediação parental é um fator determinante para a construção do hábito de leitura na infância. Pais que se envolvem ativamente na leitura de seus filhos não apenas contribuem para seu desenvolvimento cognitivo e acadêmico, mas também fortalecem laços afetivos e criam um vínculo positivo com a leitura. Ao transformar os livros em elementos constantes do dia a dia e oferecer um modelo leitor inspirador, a família desempenha um papel essencial na formação de leitores críticos e engajados, com reflexos positivos ao longo de toda a vida.
O PAPEL DA FAMÍLIA NA FORMAÇÃO DO HÁBITO DE LEITURA
A formação do hábito de leitura na infância é um processo que se inicia no ambiente familiar, sendo influenciado diretamente pelas práticas e estímulos oferecidos pelos pais ou responsáveis. A leitura não deve ser vista apenas como uma atividade escolar, mas sim como um elemento central no desenvolvimento cognitivo, emocional e social da criança. Quando inserida no cotidiano desde os primeiros anos de vida, a leitura torna-se um hábito natural, associado ao prazer e à descoberta. A família, nesse contexto, desempenha um papel essencial, pois é o primeiro núcleo social da criança e tem a capacidade de moldar seus interesses e comportamentos relacionados à aprendizagem.
A influência dos pais na formação do hábito leitor ocorre por meio da exposição contínua a materiais escritos, da leitura compartilhada e da valorização da cultura escrita no ambiente doméstico. Segundo Moreira (2020), quando os pais estabelecem uma relação afetiva com os livros e compartilham momentos de leitura com os filhos, há um impacto positivo na motivação infantil para a leitura. Essa prática amplia não apenas a competência leitora, mas também a compreensão do mundo da criança, permitindo que ela se torne mais crítica e reflexiva. Dessa forma, a família atua como mediadora do conhecimento, proporcionando condições para que a criança desenvolva sua autonomia e aprecie a leitura como parte de sua identidade.
A criação de um ambiente leitor estimulante dentro de casa também é um fator determinante na construção do hábito de leitura. Dispor de livros acessíveis, oferecer diferentes gêneros textuais e incentivar a leitura como uma atividade prazerosa são estratégias que contribuem para que a criança perceba o valor da literatura no dia a dia. Como apontam Ferreira e Santos (2021, p. 67):
O contato diário com os livros, aliado à mediação familiar, possibilita que a leitura seja incorporada à rotina da criança de forma natural, sem imposições ou obrigações. O ambiente doméstico leitor influencia diretamente na formação de leitores críticos e autônomos, pois proporciona experiências significativas com a palavra escrita.
Além da oferta de materiais, a postura dos pais em relação à leitura também impacta significativamente o interesse infantil. Crianças que crescem em lares onde os pais leem com frequência e demonstram entusiasmo pela leitura tendem a reproduzir esse comportamento. A teoria da aprendizagem social reforça que as crianças aprendem por meio da observação e da imitação, o que significa que pais leitores têm mais chances de formar filhos leitores. De acordo com Almeida (2019), a presença de modelos leitores no ambiente familiar fortalece o vínculo com os livros e amplia o repertório cultural infantil, criando uma predisposição natural para o engajamento com a leitura ao longo da vida.
Outro aspecto relevante é a interação que ocorre durante o ato da leitura compartilhada. Ler com as crianças, ao invés de apenas para elas, é um método que potencializa os benefícios da leitura, tornando-a mais interativa e significativa. A participação ativa da criança na escolha dos livros, na formulação de perguntas sobre o enredo e na interpretação das histórias contribui para um aprendizado mais dinâmico e prazeroso. Quando a leitura é mediada dessa forma, a criança não apenas compreende melhor o texto, mas também desenvolve habilidades de argumentação, criatividade e resolução de problemas.
Portanto, o papel da família na formação do hábito de leitura infantil vai além da simples disponibilização de livros. Ele envolve a criação de um ambiente propício à valorização da leitura como prática cotidiana e a atuação dos pais como mediadores e modelos leitores. O envolvimento da família nesse processo garante não apenas o desenvolvimento de habilidades leitoras, mas também o fortalecimento de vínculos afetivos e a construção de uma base sólida para o aprendizado contínuo. A leitura, quando promovida no ambiente familiar de maneira positiva e envolvente, tem o poder de transformar não apenas o indivíduo, mas toda a sociedade.
ESTRATÉGIAS DE MEDIAÇÃO PARENTAL PARA O ESTÍMULO À LEITURA
A mediação parental é um fator determinante na formação do hábito de leitura infantil, pois estabelece as bases para que a criança desenvolva interesse e autonomia em relação à literatura. Diversos estudos indicam que crianças cujos pais incentivam a leitura desde cedo demonstram maior fluência leitora, desempenho acadêmico superior e melhores habilidades socioemocionais (Souza; Pereira, 2021). No entanto, a forma como essa mediação ocorre influencia diretamente os resultados. Estratégias eficazes incluem desde a leitura compartilhada até a criação de um ambiente leitor rico e interativo, permitindo que a criança estabeleça um vínculo positivo com os livros.
Uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP), conduzida por Oliveira e Costa (2021), analisou o impacto da mediação parental na aquisição da leitura em crianças entre 4 e 8 anos. O estudo demonstrou que crianças expostas regularmente à leitura compartilhada apresentaram vocabulário 30% mais amplo e maior capacidade de compreensão textual em comparação àquelas que não receberam esse estímulo. Esses achados reforçam a importância da participação ativa dos pais na rotina leitora dos filhos. De acordo com Lima (2022, apud Almeida, 2023, p. 56), “a leitura em família, quando realizada com intencionalidade, proporciona ganhos significativos para o desenvolvimento da linguagem e da cognição, preparando a criança para um percurso acadêmico mais sólido”.
Entre as estratégias mais eficazes está a leitura interativa, que envolve pausas para questionamentos e reflexões sobre o texto. Estudos conduzidos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) indicam que esse tipo de abordagem não apenas amplia a capacidade interpretativa das crianças, mas também fortalece sua habilidade argumentativa e criativa (Ferreira; Santos, 2022). Além disso, o envolvimento dos pais na escolha dos livros, levando em consideração os interesses e a maturidade da criança, aumenta significativamente a motivação para a leitura.
Outro aspecto essencial é a criação de um ambiente favorável ao contato com os livros. Pesquisas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) demonstram que a presença de um acervo acessível dentro de casa contribui para que a criança desenvolva autonomia na escolha de materiais de leitura (Martins; Ribeiro, 2022). Crianças que crescem em lares onde os livros fazem parte do cotidiano, seja por meio de prateleiras acessíveis ou cantinhos de leitura, demonstram maior interesse pela literatura e maior frequência na leitura voluntária.
A influência do exemplo parental também é um fator crucial para o estímulo à leitura. Pais que cultivam o hábito de ler e demonstram entusiasmo pelos livros servem como modelos para seus filhos, tornando a leitura uma prática socialmente valorizada dentro do ambiente doméstico. Segundo pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR), crianças cujos pais leem regularmente têm três vezes mais chances de desenvolver hábitos leitores consistentes ao longo da vida (Costa; Melo, 2023). Ferreira e Santos (2022, p. 81) ressaltam que “o comportamento leitor dos pais exerce um efeito direto na motivação das crianças para a leitura, pois demonstra que essa atividade é valorizada e prazerosa”.
Por fim, a implementação de uma rotina de leitura diária, mesmo que por poucos minutos, é uma das estratégias mais eficazes para consolidar o hábito leitor. O estabelecimento de horários fixos para a leitura, como antes de dormir ou após as refeições, cria um vínculo entre a leitura e momentos de acolhimento, tornando a experiência mais afetiva e significativa. As pesquisas mencionadas reforçam que a mediação parental estruturada e intencional pode fazer toda a diferença na relação da criança com a leitura, promovendo não apenas benefícios acadêmicos, mas também o desenvolvimento de habilidades essenciais para a vida.
IMPACTOS DA LEITURA INFANTIL NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO
A leitura na infância desempenha um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo, influenciando diretamente a construção do pensamento, a aquisição da linguagem e a capacidade de resolver problemas. Estudos em neurociência educacional indicam que o contato precoce com os livros estimula áreas cerebrais associadas à memória, à atenção e à interpretação de informações (Ferreira; Alves, 2022). Além disso, a leitura proporciona uma base sólida para o aprendizado formal, preparando a criança para desafios acadêmicos futuros e contribuindo para a formação de um repertório linguístico diversificado.
A relação entre leitura e desenvolvimento do pensamento crítico é amplamente discutida na literatura científica. Pesquisas conduzidas pela Universidade de São Paulo (USP) demonstram que crianças expostas regularmente à leitura apresentam maior capacidade de argumentação e maior facilidade na formulação de hipóteses e inferências (Silva; Martins, 2021). Isso ocorre porque a leitura exige que a criança processe informações, relacione conceitos e crie conexões entre diferentes conhecimentos. Conforme destaca Oliveira (2020, apud Costa, 2022, p. 93), “a leitura não apenas amplia o vocabulário e melhora a comunicação, mas também permite que a criança compreenda melhor o mundo ao seu redor, desenvolvendo sua autonomia intelectual e sua capacidade de tomar decisões embasadas”.
Outro impacto significativo da leitura infantil está na ativação das funções executivas do cérebro, responsáveis pelo controle da atenção, pela memória de trabalho e pela flexibilidade cognitiva. De acordo com uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), crianças que são incentivadas a ler desde a primeira infância demonstram um desenvolvimento superior nessas habilidades em comparação às que não possuem contato regular com a leitura (Lima; Ribeiro, 2022). A leitura exige que a criança mantenha a concentração por períodos prolongados, armazene informações e as utilize de maneira estratégica para compreender narrativas mais complexas. Esse processo fortalece as conexões neurais, aprimorando a capacidade de aprendizado em diversas áreas do conhecimento.
Além do desenvolvimento cognitivo, a leitura influencia positivamente o desenvolvimento emocional e social das crianças. A exposição a diferentes personagens, cenários e histórias permite que a criança compreenda diversas perspectivas, desenvolvendo empatia e habilidades de comunicação. Segundo a pesquisa de Nunes e Carvalho (2022, p. 77), realizada na Universidade Federal do Paraná (UFPR):
A leitura na infância não apenas melhora a compreensão textual, mas também exerce um impacto profundo na formação emocional da criança. Ao se identificar com personagens e vivenciar diferentes realidades por meio da literatura, a criança aprende a lidar melhor com emoções como frustração, medo e alegria, além de desenvolver um senso crítico mais aguçado sobre o mundo ao seu redor.
Outro ponto crucial é o impacto da leitura na alfabetização e na fluência verbal. A aquisição de vocabulário ocorre de maneira mais eficiente quando a criança é exposta a uma ampla variedade de textos, pois isso permite que ela aprenda novos termos em diferentes contextos. Pesquisas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revelam que crianças que têm o hábito de ler ou ouvir histórias diariamente possuem um desempenho superior na escrita e na oralidade em comparação às que têm contato esporádico com a leitura (Moraes; Pereira, 2021). Essa influência é explicada pelo fato de que a leitura estimula o reconhecimento de estruturas gramaticais e amplia o repertório linguístico, facilitando a produção textual e a comunicação verbal.
Diante dessas evidências, fica evidente que a leitura na infância é um dos principais fatores que contribuem para o desenvolvimento cognitivo. O estímulo à leitura deve ser uma prioridade tanto no ambiente familiar quanto no escolar, garantindo que as crianças tenham acesso a livros e a momentos de leitura compartilhada. Ao integrar a leitura à rotina infantil, promove-se não apenas o fortalecimento de habilidades cognitivas essenciais, mas também a formação de cidadãos mais críticos, criativos e preparados para os desafios do futuro.
RELAÇÃO ENTRE LEITURA E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
A leitura na infância desempenha um papel essencial no desenvolvimento da linguagem, influenciando diretamente a ampliação do vocabulário, a construção da sintaxe e a capacidade de expressão oral e escrita. O contato com textos variados permite que a criança compreenda novas estruturas linguísticas e aprimore suas habilidades comunicativas. Pesquisas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) indicam que crianças expostas regularmente à leitura possuem um vocabulário até 60% mais amplo do que aquelas que têm contato esporádico com livros (Martins; Almeida, 2022). Esse impacto se dá porque a leitura possibilita a internalização de padrões gramaticais e a identificação de palavras em diferentes contextos, facilitando sua assimilação e uso adequado.
Um exemplo concreto desse efeito foi observado em um estudo conduzido pela Universidade de São Paulo (USP), que acompanhou um grupo de crianças entre 4 e 6 anos ao longo de dois anos. No experimento, um grupo teve contato diário com leituras mediadas pelos pais, enquanto outro grupo não recebeu esse estímulo regularmente. Os resultados mostraram que as crianças expostas diariamente à leitura apresentaram desenvolvimento mais rápido da linguagem oral, melhor capacidade de articular frases completas e maior precisão na construção gramatical em comparação ao grupo sem mediação leitora (Oliveira; Costa, 2021). Além disso, as crianças que participaram das leituras mediadas demonstraram maior habilidade de argumentação e interpretação de histórias, sugerindo que a leitura influencia tanto a linguagem receptiva (capacidade de compreender) quanto a linguagem expressiva (capacidade de se comunicar).
Outro aspecto relevante é a relação entre a leitura e a fluência verbal. Quando as crianças são incentivadas a ouvir histórias e as narrarem, com suas próprias palavras, elas desenvolvem maior clareza na articulação das ideias e expandem seu repertório linguístico. Conforme aponta Moraes (2021), a repetição de estruturas frasais encontradas nos livros permite que a criança internalize padrões da língua de forma natural, sem necessidade de explicação formal sobre gramática. Esse fenômeno explica por que crianças que leem ou ouvem histórias frequentemente tendem a desenvolver melhor desempenho escolar em disciplinas como redação e interpretação de texto.
Portanto, a leitura não apenas enriquece o vocabulário, mas também fortalece a organização do pensamento e a expressividade verbal, preparando a criança para interações comunicativas mais eficientes. O estímulo à leitura desde os primeiros anos de vida é, portanto, uma das estratégias mais eficazes para o desenvolvimento da linguagem e deve ser incentivado tanto no ambiente familiar quanto no escolar.
BENEFÍCIOS COGNITIVOS DA LEITURA NA PRIMEIRA INFÂNCIA
A leitura na primeira infância desempenha um papel fundamental no desenvolvimento das funções cognitivas essenciais, como a memória, a atenção e o pensamento crítico. Quando a criança é exposta à leitura desde os primeiros anos de vida, ela desenvolve habilidades que vão além do vocabulário e da compreensão textual, abrangendo também a capacidade de resolver problemas, estabelecer conexões entre informações e interpretar o mundo ao seu redor. Jean Piaget, um dos teóricos mais influentes no campo da psicologia do desenvolvimento, explica que o processo de aquisição do conhecimento ocorre por meio da assimilação e da acomodação, mecanismos essenciais para a construção das estruturas cognitivas (Piaget, 1976). Dessa forma, a leitura atua como um estímulo poderoso para a reorganização e ampliação dessas estruturas, facilitando a aprendizagem e o raciocínio lógico.
Estudos contemporâneos em neurociência educacional confirmam as ideias de Piaget, demonstrando que crianças que possuem contato frequente com a leitura apresentam maior desenvolvimento das funções executivas do cérebro, como a capacidade de concentração e a resolução de problemas complexos. Pesquisas da Universidade Harvard indicam que a leitura compartilhada entre pais e filhos fortalece as conexões neurais responsáveis pelo pensamento abstrato e pela memória de longo prazo, preparando a criança para desafios cognitivos mais sofisticados ao longo de sua vida acadêmica (Smith; Brown, 2021). Além disso, o contato precoce com histórias e narrativas estimula a imaginação e a criatividade, permitindo que a criança explore diferentes perspectivas e amplie sua capacidade de abstração.
Outro benefício cognitivo importante da leitura na primeira infância é o desenvolvimento da linguagem oral e escrita, que está diretamente relacionado ao desempenho escolar. Crianças que ouvem e leem histórias regularmente demonstram maior facilidade na interpretação de textos e na formulação de argumentos, o que fortalece a base para um aprendizado eficiente em diversas disciplinas. Além disso, segundo Vygotsky (2001), o aprendizado ocorre em um contexto social, no qual a interação com o outro desempenha um papel essencial no desenvolvimento da cognição. Nesse sentido, a leitura compartilhada possibilita não apenas a aquisição de conhecimento, mas também a troca de experiências e a construção de significados coletivos.
Portanto, os benefícios cognitivos da leitura na primeira infância são amplos e duradouros, impactando diretamente o desempenho escolar e a capacidade de aprendizado ao longo da vida. Quanto mais cedo a criança for exposta a um ambiente leitor estimulante, maior será seu potencial cognitivo e sua autonomia intelectual. Dessa forma, investir no incentivo à leitura nos primeiros anos de vida não apenas fortalece o desenvolvimento individual da criança, mas também contribui para a formação de uma sociedade mais crítica e reflexiva.
BARREIRAS E DESAFIOS NA FORMAÇÃO DO HÁBITO DE LEITURA INFANTIL
A formação do hábito de leitura na infância enfrenta diversos desafios que variam conforme o contexto socioeconômico e cultural das diferentes regiões do Brasil. Fatores como analfabetismo, falta de tradição leitora e dificuldades econômicas contribuem para que a leitura seja considerada supérflua ou um luxo, especialmente em áreas menos favorecidas (Silva, 2020).
A disponibilidade de bibliotecas escolares é um indicador relevante nesse contexto. Dados recentes apontam que apenas 31% das escolas públicas brasileiras possuem bibliotecas. Estados como Minas Gerais (82%), Rio Grande do Sul (76%) e Paraná (73%) apresentam os maiores percentuais de alunos matriculados em instituições com bibliotecas, enquanto Acre (13%), São Paulo (16%) e Maranhão (29%) registram os menores índices (Atricon, 2023). A ausência desses espaços limita o acesso das crianças aos livros, dificultando o desenvolvimento do hábito de leitura.
A seguir, a Tabela 1 apresenta os estados brasileiros com os maiores e menores percentuais de escolas públicas que possuem bibliotecas, conforme levantamento da Atricon (2023):
Tabela 1 – Disponibilidade de Bibliotecas Escolares no Brasil
Fonte: ATRICON (2023).
Além disso, a presença de professores devidamente preparados para o ensino da leitura é crucial. A falta de formação específica e contínua para educadores compromete a eficácia das práticas pedagógicas relacionadas à leitura, resultando em alunos desmotivados e com baixo desempenho. A implementação de programas de capacitação docente é, portanto, essencial para reverter esse quadro.
A influência do ambiente familiar também desempenha um papel significativo. Famílias que não possuem o hábito da leitura ou que enfrentam dificuldades socioeconômicas tendem a não incentivar as crianças a lerem, seja por falta de recursos para aquisição de livros ou por não reconhecerem a importância da leitura no desenvolvimento infantil. Iniciativas que promovam a conscientização dos pais e responsáveis sobre os benefícios da leitura podem contribuir para a formação de novos leitores.
Em âmbito regional, observa-se que o Sul do Brasil apresenta os melhores índices de leitura. Santa Catarina destaca-se com 64% da população sendo considerada leitora, seguido por Paraná e Ceará, ambos com 54%. Em contrapartida, regiões como Norte e Nordeste enfrentam maiores desafios, com percentuais de leitura abaixo da média nacional (CBL, 2024). Essas disparidades refletem diferenças no acesso a recursos educacionais e culturais, bem como variações nas políticas públicas de incentivo à leitura.
Para superar essas barreiras, é fundamental a implementação de políticas públicas que promovam a construção e manutenção de bibliotecas escolares, a formação continuada de professores e o incentivo à leitura no ambiente familiar. Somente por meio de ações integradas entre governo, escolas e comunidades será possível transformar o panorama da leitura infantil no Brasil, garantindo que todas as crianças tenham acesso às oportunidades que a leitura proporciona.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das análises apresentadas, reafirma-se a importância da leitura na infância como um pilar fundamental para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças. A partir da investigação do papel da mediação parental, constatou-se que o envolvimento ativo dos pais na leitura compartilhada não apenas favorece a aquisição da linguagem, mas também estimula o pensamento crítico e a criatividade infantil. Além disso, as estratégias de incentivo discutidas ao longo deste estudo evidenciam que a construção do hábito de leitura exige um ambiente estimulante, acessibilidade a materiais de qualidade e a participação efetiva da família.
Nesse contexto, os objetivos traçados foram plenamente atendidos, uma vez que se identificou a influência direta da mediação parental na formação de leitores autônomos e engajados. A literatura analisada e as pesquisas revisadas confirmaram que crianças expostas a práticas leitoras estruturadas desde cedo apresentam melhor desempenho acadêmico, vocabulário ampliado e maior capacidade argumentativa. Além disso, verificou-se que a leitura transcende seu papel instrumental no aprendizado, assumindo um papel essencial na formação integral da criança, promovendo habilidades de comunicação, interpretação e empatia.
Todavia, os resultados obtidos também evidenciam desafios persistentes na promoção do hábito de leitura infantil. A escassez de bibliotecas escolares, a dificuldade de acesso a livros de qualidade e a ausência de incentivo familiar são fatores que comprometem o desenvolvimento da competência leitora. Nesse sentido, os dados analisados revelam que estados brasileiros com menores índices de bibliotecas em escolas públicas e regiões com menor tradição leitora enfrentam dificuldades significativas na formação de leitores. Assim, torna-se imprescindível a implementação de políticas públicas que incentivem a leitura desde a primeira infância, assegurando que todas as crianças tenham as mesmas oportunidades de acesso ao conhecimento.
A partir dessas considerações, a análise da hipótese inicial confirma que a mediação parental e a construção de um ambiente leitor influenciam diretamente a formação do hábito de leitura infantil. No entanto, ressalta-se que outros fatores, como o suporte escolar, a qualidade dos materiais disponibilizados e o impacto das novas tecnologias, também devem ser levados em consideração em futuras pesquisas. Dessa forma, o estudo demonstrou que a leitura não deve ser imposta, mas cultivada de forma prazerosa, permitindo que a criança associe o ato de ler ao lazer e à descoberta do mundo.
Com base nessas reflexões, sugere-se, como próximos passos, a realização de estudos empíricos que avaliem o impacto de programas de incentivo à leitura familiar em diferentes contextos sociais e culturais. Ademais, pesquisas voltadas para a influência da leitura digital e das novas tecnologias no desenvolvimento infantil podem fornecer dados relevantes para o aprimoramento das estratégias de mediação parental.
Por fim, espera-se que este estudo contribua para o avanço das discussões sobre a leitura infantil e sirva de base para novas investigações na área. A formação de leitores críticos e engajados é um compromisso que deve ser assumido por toda a sociedade, incluindo famílias, escolas e governos. Somente por meio de um esforço coletivo será possível garantir que o hábito de leitura seja amplamente disseminado e valorizado, permitindo que as crianças de hoje se tornem adultos mais preparados para os desafios do futuro.
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