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Resumo
INTRODUÇÃO
A família é o ambiente em que a criança cria seus primeiros vínculos afetivos e aprende as primeiras normas e cultura. Já a escola, é o segundo ambiente em que o aluno tem contato com outras pessoas, regras e culturas diferentes com as quais está acostumada.
Dessa forma, ambas instituições são consideradas bases fundamentais para o desenvolvimento da criança e para a construção de outras relações. Apesar dessa relação ser de extrema importância, construir essa relação de forma efetiva está cada vez mais difícil, visto que as famílias são diferentes e que nos dias atuais a configuração da mesma está se diversificando cada vez mais. O livro “Diálogo Escola-Família”, descreve essa relação fundamental como:
A relação entre escola e família é de enorme complexidade. Isso ficou mais do que demonstrado por pesquisas das áreas pedagógica e psicológica sobre as mudanças na Educação, o maior conhecimento das formas de ensino e aprendizagem e a importância da vida familiar para o desenvolvimento da criança. O que antes era claro – a escola “ensinava” e a família “educava” – agora é muito intrincado. A vida familiar contemporânea, transformada pelo modelo econômico vigente e pelas tecnologias, caracteriza-se por novos usos de tempo para o cuidado com os filhos e também por variadas configurações , como abordamos anteriormente e reforçamos aqui: famílias monoparentais, famílias com filhos nascidos de inseminação artificial ou de doação de esperma ou óvulos anônimos, de pais ou mães homosexxuais, de pais separados que compartilham guarda etc. (Diálogo Escola-Família, 2019, p. 34)
Toda essa complexidade exige da equipe escolar um olhar renovado para as famílias das crianças, dos adolescentes e dos jovens que estão hoje nas escolas. Ao pensar no acompanhamento das famílias em sua singularidade, sem julgamento de valor ou preconceito, a escola contribui muitíssimo para o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes. Como veremos nos próximos capítulos, que sua opinião seja discordante; o cuidar para comunicar e para compartilhar o sentido das ações, como nos orientam José Toro e Nísia Werneck. (Diálogo Escola-Família, 2019, p. 34)
Mesmo com toda a variação existente na estrutura familiar nos dias atuais, ainda se faz necessário construir um vínculo com esses responsáveis para que a escola possa cumprir com um processo educativo que visa o desenvolvimento integral desse aluno, não apenas transmissão de conteúdos.
O processo educativo deve partir dos conhecimentos prévios dos alunos e da comunidade escolar em que está inserida, mas é necessário ter metas e evolução, para ser efetivo. Assim, é necessário encurtar laços entre família e escola para que o processo seja significativo para todos os envolvidos, havendo quebra de preconceitos, orientação, troca de conhecimentos e valorização cultural. O livro Diálogo Escola-Família descreve um pouco sobre a importância dessa relação e como pode ser desenvolvida nas escolas, em seus trechos:
A escola, ao privilegiar a aproximação com as famílias como parte de seu trabalho, fortalece o pilar do cuidado. Essa ação se dá quando acolhe os alunos sem conceitos construídos antes mesmo de conhecê-los e considerando os conhecimentos que eles trazem ao chegar, bem como o apoio que podem (ou não) ter em seus lares. Ela cuida para que as desigualdades sociais não se transformem em desigualdades escolares, por meio do apoio à compreensão do papel do estudante que os alunos necessitam incorporar para se desenvolver. Aliás, ao contrário e de maneira utópica – mas por que não sonhar ? – , é o espaço ideal para transformar as desigualdades sociais em igualdade de oportunidades. (Diálogo Escola-Família, 2019, p. 36)
Ao matricular-se na escola, cada estudante leva consigo as circunstâncias sociais e econômicas de seu contexto familiar e social. Assim, aqueles cujas famílias têm experiências e valores próximos aos da escola, além de recursos para investir no apoio a sua carreira acadêmica, vivem uma experiência mais significativa. Tais famílias comunicam-se com a escola com mais regularidade, conversam com seus filhos sobre as atividades escolares, participam dos eventos, das reuniões e da vida escolar, e valorizam os sonhos dos alunos/filhos.(Diálogo Escola-Família, 2019, p. 36)
A escola é um direito da comunidade. colocar-se a serviço das famílias que a compõem; não é um privilégio ou um favor prestado à comunidade. (Diálogo Escola-Família, 2019, p. 37)
FAMÍLIAS ESPECIAIS
As famílias de crianças que recebem um laudo ou que são portadoras de necessidades especiais, enfrentam situações traumáticas, desde o momento em que começam a perceber características na criança até o fechamento do laudo e outras são surpreendidas logo no nascimento ou durante a gestação, necessitando de apoio para lidarem com seus medos, dúvidas e angústias. Diante das dificuldades apresentadas por essas famílias, no ano de 2004, o Ministério da Educação elaborou um Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, trazendo orientações aos Municípios, Escola e Família. No que se refere a família, podemos destacar:
As famílias de crianças, jovens e adultos com necessidades especiais associadas ou não a deficiência vivenciam uma situação bastante peculiar: a maioria se percebe sozinha para administrar as dificuldades que se apresentam em tal situação. Os sentimentos de desamparo são muito frequentes e não podem ser ignorados. ( Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, 2004, p. 13)
Também neste aspecto o município, enquanto poder público, tem a responsabilidade de oferecer o suporte necessário. Profissionais capacitados devem ser disponibilizados, como suporte às famílias, para informar acerca dos recursos disponíveis na comunidade. ( Programa Educação Inclusiva: Direito à Diversidade, 2004, p. 14)
O referente trabalho não visa uma vitimização ou um tratamento privilegiado para os responsáveis de alunos com necessidades especiais, mas reforça que esses pais necessitam de mais atenção e apoio, por se depararem com uma nova realidade, que é totalmente desafiadora. Esses pais necessitam de auxílio constante para conhecerem melhor seus filhos, para receberem orientações, para compartilhar informações sobre a rotina dessa criança e para ajudá-los a enfrentar o medo, o preconceito e a angústia que faz parte desse processo, mas que ao receber um olhar diferenciado, faz toda a diferença.
Todos os alunos são diferentes, mas é muito normal que os alunos que possuem alguma característica ou comportamento fora de um padrão determinado pela sociedade, logo é visto como diferente ou deficiente e até mesmo sua família é vista como diferenciada. Por isso é necessário a escola desenvolver a inclusão, para que todos os pais tenham acesso às informações sobre as necessidades especiais dos alunos, para que possam respeitar esse aluno e sua família e serem desenvolvidas práticas inclusivas acolhedoras, para que o ambiente se torne inclusivo e que todos os envolvidos no processo ensino e aprendizagem possam ter a oportunidade de praticar a empatia.
O livro, Formação de Professores e Práticas Educativas, destaca em um trecho a realidade enfrentada pela família, considerada aqui, família especial, que diz:
Os pais dos alunos com N.E.E., deparam-se com dificuldades que os outros pais não chegam a ter. As patologias das crianças podem ter um forte impacto no seio familiar, principalmente se esta é severa, e consequentemente nas interações que dela se estabelecem. Por vezes gera até mesmo questões de ansiedade e frustração (NIELSEN,2000). (Formação de Professores e Práticas Educativas, 2023, p.162)
Trindade (2004) questiona da seguinte forma, quem são essas pessoas consideradas deficientes? São pessoas como nós, nascidas do mesmo impulso criador, integrais em sua condição de seres humanos, mas limitadas em seu desempenho. São cegos, surdos, mudos, paraplégicos, deficientes mentais, autistas, Down, paralisados cerebrais, etc. E por possuírem uma constituição biológica distinta da comum são, geralmente, estigmatizados e segregados por uma sociedade não acostumada com as diferenças e que lhe nega o respeito à sua dignidade de pessoa humana e aos seus direitos de cidadão (educação, saúde, trabalho, lazer e convívio social). (Formação de Professores e Práticas Educativas, 2023, p.162)
A família de uma criança com NEE tende a ser marginalizada pela sociedade e pelas suas atitudes e crenças preconceituosas. A família tem que se adaptar à realidade das NEE tanto internamente, pelo reposicionamento das suas prioridades enquanto família, como externamente, pela convivência com preconceito e com a falta de oportunidades, de compreensão e de apoios. Para a família, a presença de um filho com NEE requer um trabalho de fortalecimento e flexibilização da dinâmica familiar para a promoção do desenvolvimento global e inclusão desse filho (GLAT, 2004).(Formação de Professores e Práticas Educativas, 2023, p.162)
A escola de forma inclusiva quando reconhece e as diferenças dos alunos durante o processo educativo, possibilitando dessa forma, a participação e desenvolvimento de todos. Para que essa prática se dê de forma responsável é necessário que novas práticas sejam desenvolvidas e ajustadas à realidade dos alunos com necessidades educacionais específicas.(Formação de Professores e Práticas Educativas, 2023, p.163)
Nesse processo de adaptação e construção de um novo saber, a família tem participação fundamental, pois não há como se pensar na inclusão e desenvolvimento do aluno com deficiência sem a parceria efetiva da família junto à escola. A ligação da família com a escola potencializa o processo de ensino e aprendizagem do educando na etapa educacional. A escola complementa as ações da família e vice-versa. (Formação de Professores e Práticas Educativas, 2023, p.163)
Para entrelaçar estas instituições primordiais na vida humana, é importante abordar como ocorre essa parceria na vivência de educandos com necessidades especiais inseridos na rede regular de ensino, considerando as contribuições desta relação família-escola, vinculando-a com o processo educacional destas crianças inclusivas.(Formação de Professores e Práticas no Educativas, 2023, p.163)
Dessa maneira, segundo Facion (2009), pode-se afirmar que o processo de inclusão possui caráter sócio interacionista, o qual aborda a essência do estudante sob mediação que é feita juntamente com a interação no meio e com os outros.(Formação de Professores e Práticas Educativas, 2023, p.163)
INSTITUIÇÃO ESCOLA
É a segunda base das relações e aprendizagem para as crianças, onde começam a perceber diferenças culturais, comportamentais, de aprendizagem e normas. Também, é o ambiente em que há padrões e normas onde ser diferente gera anseios em todos os envolvidos com a criança/aluno, anseios estes que podem fazer crescer ou traumatizar. Dessa forma, a escola exerce um papel importantíssimo desde a observação de comportamentos, perpassando pela troca de informações, orientação à família e planejamento de ações para a evolução desse aluno que pode ser público de Necessidades Educacionais Especiais ou não.
Quem são esses alunos? De acordo com o Censo Escolar 2004, é considerado público da Educação Especial:
A educação especial é uma modalidade de educação escolar que integra a proposta pedagógica da escola regular, promovendo, entre outras ações, o atendimento educacional especializado (AEE) aos alunos com deficiência, transtorno do espectro autista (TEA) e altas habilidades ou superdotação. No Censo Escolar são coletados dados de alunos matriculados na educação regular (classes comuns) e na educação especial (classes ou escolas especiais). Neste documento, serão apresentados os conceitos da educação especial coletados nos cinco formulários que compõem o Sistema Educacenso: Escola, Turma, Aluno, Gestor e Profissional Escolar em Sala de Aula. (Glossário da Educação Especial Censo Escolar, 2024, p.04)
Segundo a Lei Brasileira de Inclusão (Lei no 13.146/2015) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), ratificada no Brasil em forma de Emenda Constitucional, por meio do Decreto Legislativo no 186/2008 e do Decreto no 6.949/2009, da Presidência da República:Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas (Brasil, 2009). (Glossário da Educação Especial Censo Escolar, 2024, p.04)
São intervenções que podem serem desenvolvidas pela escola:
UM POUCO DE PRÁTICA
Em uma Escola da Rede Pública, foi desenvolvido um trabalho com alguns pais dos alunos que frequentavam a Sala de AEE (Atendimento Educacional Especializado). A clientela era composta por alunos com laudos concluídos, por alunos que estavam em processo de Avaliação Multidisciplinar e por alunos que estavam realizando sondagens na Unidade Escolar para saber da necessidade de serem encaminhados para a realização de Avaliação Multidisciplinar. Primeiramente realizei uma pesquisa interna na documentação dos alunos para conhecer um pouco mais a situação de cada um antes do primeiro contato. Os contatos com os familiares aconteceram da seguinte forma:
1º Contato: Preenchimento de ficha de Anamnese, de forma individual, com a realização de dinâmicas e conversa informal;
2º Contato: Reunião informativa com os responsáveis dos alunos, para a divulgação de informes sobre os atendimentos. Com a participação de um grupo de mães de crianças especiais, fundadoras de uma ONG, para compartilharem suas experiências de vida e informações;
3º Contato: Roda de conversa com a participação dos pais de todos os alunos atendidos, juntamente com a equipe escolar, composta por monitores de inclusão, professora da sala de AEE e pedagogo. Foi desenvolvida a dinâmica do rolo de barbante, em que na medida em que o rolo iria passando pelas mãos dos presentes, cada um relatava um pouquinho de sua experiência de vida ou desabafo. Esse momento foi enriquecedor e emocionante com trocas e aconselhamentos.
4º Contato: Momentos marcados de forma individual de acordo com a necessidade da Escola e da família;
5º Contato: Encerramento com pais e filhos, para o compartilhamento de atividades realizadas no decorrer do ano.
Vale destacar, que além desses momentos, a Educação Especial se fez presente em datas comemorativas, eventos e na Semana da Educação Especial, momentos utilizados para reforçar a inclusão e fortalecer o laço família e escola.
Nesses momentos de trocas entre as famílias e escola, foram enriquecedores, tanto para os familiares como para a escola, o que contribuiu para o avanço dos alunos, cumprindo com o objetivo de incluir.
Ao promover momentos de trocas de vivências e informações, os familiares envolvidos demonstraram se sentir seguros e não julgados, ao ponto de expor suas dificuldades, anseios e dúvidas, pois estavam se sentindo acolhidos pela Comunidade Escolar. Foram momentos em que puderam praticar a empatia entre as famílias, em que foram se orientando e se apoiando.
A Comunidade Escolar, além de conhecer a realidade do aluno, não mediu esforços para manter a família informada e acolhida, fazendo a inclusão acontecer verdadeiramente. Vale ressaltar a importância de todos os cooperadores da escola participarem desses momentos, pois acabam entendendo as particularidades dos alunos e começam a enxergar a inclusão com um novo olhar.
Os alunos em que os pais participaram e se propuseram a se unir com a escola para ajudar no processo de inclusão de seu filho, tiveram evolução em seu desenvolvimento, não apenas na aprendizagem, mas um desenvolvimento global, o que despertou em outros responsáveis o interesse para buscar informações e outros de participarem no processo de construção da inclusão na Unidade Escolar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A parceria escola e família se faz necessária em todas as modalidades de ensino, pois quanto maior esse vínculo, melhor será o desenvolvimento do aluno, da comunidade escolar e da sociedade em geral. Tratando-se da Educação Especial, esse vínculo é fundamental para que haja avanços e conquistas. Vale destacar, que a empatia faz toda diferença nessa relação,para que o amor cresça e a inclusão aconteça, envolvendo não apenas a família do aluno especial, mas toda a comunidade escolar, para que haja entendimentos, compreensão e respeito.
Quando nos propomos a conhecer a realidade do outro, deixando de lado os preconceitos ou conhecimentos prévios de outras fontes, oferecemos ao outro a oportunidade de defesa para expressar e mostrar aquilo que de verdade enfrenta, pois é impossível se envolver no desconhecido ou com julgamentos preestabelecidos. À medida em que conhecemos, os pensamentos modificam, as ações vão criando forma e a inclusão acontece.E incluir é conhecer, é fazer parte, é trazer para dentro, é fazer crescer e é amar.
A inclusão não é uma tarefa fácil, mas é possível, quando se há o desejo de fazer acontecer.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ARANHA, Maria Salete Fábio. Educação Inclusiva v. 4: a família – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2004.
BARRETO, Denise Aparecida; SANTOS, Igor Tayrone Ramos dos; GUSMÃO, Rogério (org). Formação de Professores e Práticas Educativas – Vitória da Conquista, 2023.
INEP; MEC. Glossário da Educação Especial Censo Escolar 2024 – Brasília- DF, 2024.
PEREZ, Tereza. Diálogo escola-família: parceria para aprendizagem e o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes – São Paulo: Moderna,2019.
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