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Resumo
INTRODUÇÃO
As transformações tecnológicas têm influenciado profundamente o cotidiano escolar, impulsionando a busca por ferramentas digitais que favoreçam uma educação mais interativa e acessível. O avanço das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) tem sido decisivo para remodelar as práticas pedagógicas e promover novos ambientes de aprendizagem, nos quais a interatividade e a personalização do ensino ganham destaque (Moran, 2015).
Nesse contexto, o software educacional GCompris destaca-se como uma proposta de aprendizagem baseada na interação, no lúdico e na diversidade de atividades pedagógicas. Desenvolvido como software livre, o GCompris é compatível com diferentes sistemas operacionais e disponibiliza mais de cem atividades voltadas às crianças entre dois e dez anos, abordando conteúdos de diferentes áreas do conhecimento (Silva et al., 2021).
A relevância do tema está ancorada na necessidade de garantir aos alunos da Educação Básica o acesso a experiências de aprendizagem digital. Em um país com desigualdades acentuadas no acesso à tecnologia, recursos como o GCompris contribuem para democratizar a educação e promover a inclusão digital desde os primeiros anos escolares (Moita et al., 2020).
A problemática que norteia esta pesquisa está relacionada ao papel das tecnologias digitais na formação do estudante e ao uso de ferramentas acessíveis, como o GCompris, para tornar o ensino mais dinâmico e eficaz. Diante disso, indaga-se: quais são as contribuições do software GCompris para o aprendizado interativo em ambientes digitais acessíveis na Educação Básica? (Almeida et al., 2024).
O objetivo geral desta pesquisa é analisar as contribuições do software GCompris para a Educação Básica, com ênfase na promoção do aprendizado interativo em ambientes digitais acessíveis. Como objetivos específicos, busca-se: a) compreender as potencialidades do GCompris como recurso pedagógico; b) identificar as habilidades desenvolvidas por meio do uso do software; e c) discutir a pertinência do uso de tecnologias livres na inclusão digital escolar (Stürmer, 2019).
DESENVOLVIMENTO
METODOLOGIA
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, de natureza descritiva, realizada por meio de uma revisão bibliográfica narrativa. A escolha por essa abordagem se justifica pela necessidade de compreender como o software educativo GCompris tem sido discutido na literatura recente, especialmente em relação ao seu uso pedagógico na Educação Básica.
A busca pelos materiais foi realizada entre os meses de março e abril de 2025, utilizando como critérios de inclusão: artigos publicados nos últimos cinco anos (2019 a 2024), escritos em língua portuguesa, com acesso gratuito e que abordassem diretamente a aplicação do GCompris no contexto escolar. Foram consideradas produções acadêmicas disponíveis em bases como Google Acadêmico, SciELO, Portal de Periódicos da CAPES, além de repositórios de universidades públicas.
Os descritores utilizados na busca foram: “GCompris”, “software educacional livre”, “educação básica”, “inclusão digital”, “letramento digital” e “aprendizagem lúdica”. Excluíram-se materiais que tratassem do GCompris em contextos não escolares, bem como resumos de eventos, duplicatas e publicações sem abordagem pedagógica clara.
Ao final da triagem, foram selecionados dez estudos que compuseram o corpus da análise. O foco da investigação esteve voltado à identificação das principais contribuições atribuídas ao uso do GCompris no processo de ensino-aprendizagem, bem como à análise dos desafios e potencialidades apontados pelos autores.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os estudos analisados apresentam evidências consistentes dos benefícios pedagógicos do uso do GCompris na Educação Básica, ilustrando como ferramentas lúdicas podem enriquecer o processo de ensino-aprendizagem. Em particular, Almeida et al. (2024) destacam que o GCompris promove um forte engajamento dos alunos ao oferecer uma aprendizagem lúdica por meio de jogos e desafios que despertam a curiosidade e o interesse pelo conhecimento. Além de tornar a aprendizagem mais atrativa, esse software incentiva a autonomia e valoriza o protagonismo infantil na construção do saber, permitindo que as crianças assumam um papel ativo em sua própria jornada de aprendizagem. Como afirmam os autores, “as atividades disponibilizadas pelo GCompris se destacaram por sua natureza lúdica e interativa, contribuindo significativamente para estimular a motivação e o envolvimento dos alunos” (Almeida et al., 2024, p. 163).
O estudo de Moita, Viana e Flor (2020) reforça como as práticas pedagógicas podem se tornar mais ricas quando incorporam múltiplas linguagens e mídias, promovendo uma educação conectada com a realidade sociotécnica das crianças. Segundo os autores, o GCompris atua como um elo entre os saberes tradicionais e as novas formas de aprender, ampliando o repertório comunicativo dos estudantes. Ao ser explorado com intencionalidade pedagógica, o software potencializa o desenvolvimento da leitura, da escrita e da capacidade de interpretar diferentes formatos de informação. Nesse sentido, “o GCompris contém dezenas de atividades e jogos inerentes a diferentes áreas do conhecimento que possibilitam, de forma lúdica, o desenvolvimento de multiletramentos” (Moita; Viana; Flor, 2020, p. 747).
Silva et al. (2021), em pesquisa realizada com alunos do Ensino Fundamental em uma escola pública do Piauí, reforçam como o GCompris pode ir além de um simples recurso tecnológico, atuando como um mediador do processo educativo. O software contribuiu para o reforço de conteúdos curriculares, como matemática e português, e para a inserção das crianças em um ambiente de aprendizagem mais significativo e interativo. A experiência relatada esclarece que, ao utilizar ferramentas como o GCompris, os estudantes aprendem e se apropriam das tecnologias como parte de sua formação. Como afirmam os autores, “constatou-se a inclusão digital de crianças ao conhecimento tecnológico e à aprendizagem de forma lúdica por meio da ferramenta GCompris” (Silva et al., 2021, p. 1).
O trabalho de Myrian Silva (2022) trouxe uma grande contribuição ao demonstrar que o GCompris também se mostra positivo no contexto da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ao acompanhar a realidade de estudantes adultos, a autora identificou que o uso do software contribuiu para a familiarização com as tecnologias e para o resgate do interesse pelo aprendizado. O GCompris favoreceu o fortalecimento de competências básicas como leitura, escrita e uso do computador, funcionando como uma ponte entre os conteúdos escolares e o cotidiano desses alunos. Como destaca a autora, “o GCompris quando utilizado nos anos iniciais do Ensino Fundamental e na Educação de Jovens e Adultos, apresentaram resultados favoráveis ao uso desse aplicativo, pois o desenvolvimento educacional dos alunos que o utilizaram obteve maiores índices de aprendizagem” (Silva, 2022, p. 5).
Stürmer (2019) conduziu uma análise criteriosa da suíte de atividades do GCompris, utilizando o método das 22 questões de Ferreira et al. (2008), e constatou seu alto potencial didático. Classificado como um software relacional, o GCompris se mostra eficiente no favorecimento da aprendizagem quando associado a práticas pedagógicas bem estruturadas. No entanto, o autor chama atenção para o papel fundamental da mediação docente nesse processo, destacando que é o professor quem torna possível a transposição didática adequada do recurso para a realidade dos alunos. Como o próprio autor afirma, é essencial reconhecer “a importância da mediação do professor para fazer a adequação e contextualização do GCompris […] e a necessidade de problematizar a inserção de softwares educacionais no contexto” (Stürmer, 2019, p. 31).
Carvalho e Chagas (2014), em pesquisa aplicada com crianças da Educação Infantil no município de Marapanim-PA, evidenciam que o GCompris atua como um facilitador do desenvolvimento infantil, sobretudo em aspectos como coordenação motora, atenção e reconhecimento de letras e números. As atividades propostas, aliadas ao uso do computador, proporcionam um ambiente de aprendizado lúdico, que estimula as crianças a interagirem com o conteúdo de forma prática e prazerosa. A pesquisa também ressalta a importância de espaços bem estruturados, como os laboratórios de informática, para ampliar os efeitos pedagógicos do software. Como destacam os autores: “Cada carta esconde um número de figuras ou o número escrito. Com essa atividade o aluno é estimulado a utilizar os componentes do computador em suas tarefas, como o mouse, que lhe ajuda a melhorar sua coordenação motora e suas habilidades cognitivas” (Carvalho; Chagas, 2014, p. 54).
A utilização do software GCompris na prática pedagógica representa um suporte repleto de recursos e ferramentas capazes de tornar o processo de letramento digital mais atraente e desafiador para a criança, pois enquanto tecla no computador, a criança pensa a escrita de uma forma diferente” (Flôr, 2018, p. 27). A partir dessa constatação, Flor (2018) reafirma a importância da presença docente na mediação das tecnologias em sala de aula. Sua pesquisa mostrou que, ao ser utilizado de forma sistemática e alinhada ao currículo, o GCompris contribui de forma expressiva para o desenvolvimento de habilidades digitais e cognitivas, permitindo que as crianças explorem a linguagem escrita por meio de experiências interativas.
“É necessário que se invista em formação continuada para que os professores estejam capacitados a utilizar os recursos digitais, como o GCompris, de forma pedagógica. Adicionalmente, a infraestrutura tecnológica ainda é um desafio em muitas escolas públicas” (Stürmer; Souza, 2020, p. 7). A partir dessa análise crítica, os autores chamam atenção para os limites estruturais e formativos que interferem diretamente na eficácia do uso do software nas escolas. Ainda que o GCompris apresente inúmeras potencialidades, sua implementação efetiva requer mais do que acesso: exige políticas públicas robustas, investimento em equipamentos e, sobretudo, valorização da formação docente como eixo central para a inovação pedagógica.
Araujo (2015) estudou a aplicação do GCompris no ensino de matemática e demonstrou que, quando integrado ao cotidiano escolar, o software se torna um recurso expressivo para tornar os conteúdos mais acessíveis e envolventes. A pesquisa evidenciou que os alunos apresentam maior interesse ao se depararem com atividades interativas e lúdicas, que promovem não apenas o reforço de conceitos básicos, mas também o desenvolvimento do raciocínio lógico e da autonomia. Além disso, a experiência digital favorece a percepção dos estudantes de que é possível aprender matemática de forma prazerosa e menos intimidante. Como destaca a autora, “por meio de jogos e atividades digitais, os alunos consigam desmistificar as dificuldades apresentadas por seus conteúdos” (Araújo, 2015, p. 30).
Por fim, o artigo de Nicolau (2019) discute a importância de submeter softwares educacionais a análises pedagógicas antes de sua adoção sistemática. Ao aplicar o método de Ferreira et al. (2008), o autor reafirma que o GCompris se enquadra como um suporte pedagógico expressivo para promover aprendizagens significativas, desde que haja alinhamento com o planejamento do professor (Nicolau, 2019).
Os estudos analisados convergem ao apontar que o GCompris é um recurso potente no processo de ensino-aprendizagem, desde que seja utilizado com intencionalidade, infraestrutura mínima e mediação adequada. Sua natureza gratuita e multiplataforma torna-o uma opção viável para ampliar o acesso às tecnologias educacionais, contribuindo com a democratização do conhecimento (Stürmer, 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos estudos sobre o uso do software GCompris na Educação Básica revela um cenário promissor para a integração de tecnologias livres no ambiente escolar. A ferramenta, ao unir ludicidade e intencionalidade pedagógica, mostrou-se uma aliada importante na construção de um aprendizado mais interativo, significativo e acessível. Ao longo da revisão, observou-se que o GCompris contribui de forma efetiva para o desenvolvimento de múltiplas competências, desde habilidades cognitivas, como o raciocínio lógico e a resolução de problemas, até aspectos relacionados à coordenação motora, letramento digital e multiletramentos.
Os estudos mostram a importância da mediação docente como eixo fundamental para o uso qualificado do software. É o professor quem transforma o potencial técnico da ferramenta em prática pedagógica efetiva, alinhando as atividades às demandas do currículo e às realidades dos estudantes. A personalização das tarefas, o acompanhamento do progresso e a articulação com outras áreas do conhecimento são dimensões que potencializam ainda mais os resultados obtidos com o GCompris.
Entretanto, a revisão também traz desafios persistentes, como a carência de infraestrutura tecnológica adequada em muitas escolas públicas e a necessidade de investimento em formação continuada para que os docentes se sintam seguros e capacitados no uso dessas ferramentas. O GCompris, embora acessível, requer um ambiente minimamente estruturado e políticas educacionais que reconheçam o papel estratégico das tecnologias na promoção de uma educação mais democrática e inclusiva.
Diante disso, conclui-se que o GCompris é mais do que um software educativo: é uma porta de entrada para experiências pedagógicas inovadoras, que respeitam o ritmo, o contexto e os interesses dos alunos. Seu uso consciente e planejado pode fortalecer o protagonismo estudantil, promover a equidade digital e ampliar as possibilidades de aprendizagem desde os anos iniciais da escolarização. Recomenda-se que futuras pesquisas explorem não apenas os impactos do GCompris em diferentes segmentos educacionais, como também sua integração com outras metodologias ativas e recursos tecnológicos, ampliando os horizontes da educação digital no Brasil.
O GCompris contribui também para a inclusão digital, ao permitir que alunos com pouco ou nenhum acesso às tecnologias possam interagir com conteúdos digitais de forma segura e pedagógica. No entanto, destaca-se a importância da mediação docente e da formação continuada para que o uso do software seja efetivamente integrado ao contexto educativo.
Recomenda-se que novas pesquisas explorem o efeito do GCompris em diferentes níveis da Educação Básica e em contextos de vulnerabilidade social, ampliando o debate sobre a inserção de tecnologias livres na educação e seu potencial para a formação cidadã de estudantes brasileiros.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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