O poder do storytelling no marketing digital: emoção, engajamento e conversão

THE POWER OF STORYTELLING IN DIGITAL MARKETING: EMOTION, ENGAGEMENT, AND CONVERSIONTHE

EL PODER DEL STORYTELLING EN EL MARKETING DIGITAL: EMOCIÓN, COMPROMISO Y CONVERSIÓN

Autor

Márcio Rogério Vieira da Silva
ORIENTADOR
Profa. Dra. Yara Therezinha de Almeida Lozano

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/CF8BAF

DOI

Silva, Márcio Rogério Vieira da . O poder do storytelling no marketing digital: emoção, engajamento e conversão. International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

Este artigo investigou o uso do storytelling como ferramenta estratégica no marketing digital, destacando seu potencial para estabelecer conexões emocionais, engajar consumidores e impulsionar conversões. A pesquisa percorreu os fundamentos teóricos da narrativa, analisou suas aplicações práticas na comunicação corporativa e discutiu os limites éticos de sua utilização. Argumentou-se que, quando empregado com autenticidade e coerência com a identidade da marca, o storytelling humaniza a comunicação empresarial e aprofunda o vínculo com o público. Em um ambiente saturado de mensagens impessoais, a habilidade de contar histórias com propósito e verdade destaca-se como diferencial competitivo. Concluiu-se que o storytelling não apenas influencia decisões de consumo, mas também contribui para a construção simbólica de valor, promovendo relações mais duradouras entre marcas e consumidores.
Palavras-chave
storytelling; marketing digital; comunicação estratégica; engajamento; ética.

Summary

This article investigated the use of storytelling as a strategic tool in digital marketing, highlighting its potential to foster emotional connections, engage consumers, and drive conversions. The research explored the theoretical foundations of narrative, examined its practical applications in corporate communication, and discussed the ethical boundaries of its use. It was argued that, when employed with authenticity and aligned with the brand’s identity, storytelling humanizes business communication and deepens the connection with the audience. In a landscape saturated with impersonal messages, the ability to tell purposeful and truthful stories stands out as a competitive advantage. The study concluded that storytelling not only influences consumer decisions but also contributes to the symbolic construction of value, fostering more lasting relationships between brands and consumers.
Keywords
storytelling; digital marketing; strategic communication; engagement; ethics.

Resumen

Este artículo investigó el uso del storytelling como herramienta estratégica en el marketing digital, destacando su potencial para establecer conexiones emocionales, involucrar a los consumidores e impulsar conversiones. La investigación recorrió los fundamentos teóricos de la narrativa, analizó sus aplicaciones prácticas en la comunicación corporativa y discutió los límites éticos de su uso. Se argumentó que, cuando se utiliza con autenticidad y coherencia con la identidad de la marca, el storytelling humaniza la comunicación empresarial y profundiza el vínculo con el público. En un entorno saturado de mensajes impersonales, la capacidad de contar historias con propósito y verdad se destaca como un diferencial competitivo. Se concluyó que el storytelling no solo influye en las decisiones de consumo, sino que también contribuye a la construcción simbólica del valor, promoviendo relaciones más duraderas entre marcas y consumidores.
Palavras-clave
storytelling; marketing digital; comunicación estratégica; compromiso; ética.

INTRODUÇÃO

No agitado palco do marketing digital contemporâneo, onde cada clique vale ouro e a atenção do consumidor é disputada com a intensidade de um vendaval, estratégias baseadas em narrativas têm ganhado protagonismo como instrumentos poderosos de conexão emocional, engajamento genuíno e estímulo às vendas. O storytelling, essa antiga arte de contar histórias, rompe os limites da comunicação puramente informativa e assume uma função estratégica: atribuir sentido às marcas e esculpir identidades que dialogam com desejos, memórias e valores do público. Ao invés de apenas transmitir mensagens, ele tece vínculos, criando um território simbólico onde consumidores deixam de ser alvos e passam a ser personagens da jornada da marca.

O presente artigo tem como foco o uso do storytelling no marketing digital e sua relevância enquanto ferramenta estratégica na construção de vínculos emocionais entre marcas e consumidores. Em meio a um cenário marcado pela saturação de informações e pela alta competitividade, a comunicação empresarial enfrenta o desafio de se destacar e estabelecer conexões verdadeiramente autênticas. Nesse contexto, contar histórias deixou de ser uma prática restrita ao campo artístico ou cultural e passou a ser adotada como um recurso técnico com elevado potencial de influência sobre o comportamento do consumidor.

A pergunta que norteia esta pesquisa pode ser formulada nos seguintes termos: de que modo o storytelling atua na construção de vínculos e decisões de compra no marketing digital, sem perder de vista seus limites éticos? Parte-se da constatação de que, embora amplamente adotada pelas organizações, a utilização superficial ou excessivamente instrumental de narrativas pode comprometer tanto sua eficácia quanto sua credibilidade junto ao público.

O objetivo geral deste estudo é analisar o papel do storytelling como instrumento de comunicação e persuasão no marketing digital, evidenciando suas aplicações, benefícios e implicações éticas. De forma mais específica, busca-se: compreender os fundamentos teóricos que sustentam o uso de narrativas; e refletir sobre as condições que tornam uma narrativa eficaz, legítima e ética na comunicação de marca.

A justificativa para esta investigação está ancorada na necessidade de compreender o storytelling não apenas como uma tendência passageira, mas como um fenômeno comunicacional estruturado, que abrange dimensões culturais, simbólicas e estratégicas das relações entre marcas e públicos. Compreender seus mecanismos, limites e potencialidades é essencial para promover práticas comunicativas mais coerentes, éticas e impactantes no ambiente digital contemporâneo. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de natureza exploratória, com base em revisão bibliográfica de autores das áreas de comunicação, marketing e psicologia. O estudo visa compreender a aplicação do storytelling no contexto digital. 

A metodologia que norteia este estudo é de natureza qualitativa, com viés exploratório, buscando decifrar como o storytelling, ao ser entrelaçado ao marketing digital, contribui para tecer laços emocionais, fomentar o engajamento e, por fim, influenciar decisões de compra. Para isso, foi realizada uma revisão bibliográfica selecionada nos campos do marketing e da comunicação. Mais do que apenas mapear teorias, a investigação mergulhou nas raízes do contar histórias, suas camadas simbólicas e suas reverberações práticas no universo das marcas. Especial atenção foi dada às implicações éticas que rondam o uso da narrativa como estratégia, ressaltando a importância da autenticidade como pilar da credibilidade. Também foram exploradas as condições que conferem legitimidade a uma narrativa, bem como os desafios enfrentados por empresas que buscam transformar histórias em pontes genuínas com seus públicos.

Dessa forma, este artigo propõe a discutir o storytelling por meio de uma abordagem teórico-prática, apoiando-se em autores consagrados nos campos da comunicação, marketing e psicologia, além de recorrer a exemplos empíricos que ilustram sua aplicação concreta no mercado atual.

O QUE É STORYTELLING?

O termo storytelling diz respeito à prática de estruturar e transmitir narrativas com a intenção de comunicar ideias, valores, experiências ou conhecimentos de forma cativante e inesquecível. Embora enraizado em tradições orais que precedem a própria escrita, seu uso estratégico no marketing digital ganhou fôlego no século XXI, especialmente como reação à enxurrada de mensagens publicitárias e à crescente busca por autenticidade nas relações entre marcas e consumidores (Carrilho, 2014). Do ponto de vista técnico, toda boa narrativa repousa sobre pilares fundamentais: personagens, ambiente, conflito, clímax e desfecho. Esses elementos, quando bem articulados, operam como engrenagens simbólicas que despertam identificação emocional e atribuem sentido à experiência narrada (Campbell, 2007). No universo do mercado, o storytelling permite que empresas deixem de lado o discurso centrado apenas no produto e assumam uma postura relacional, em que a marca se transforma em protagonista, ou, por vezes, em guia silenciosa, da jornada vivida pelo cliente.

Para Denning (2006), uma história eficaz no contexto organizacional é aquela que comunica valores compartilhados e, simultaneamente, inspira à ação. Para tanto, precisa ser verdadeira, relevante e coerente com o propósito institucional. Caso contrário, corre o risco de soar artificial, sendo percebida mais como uma manobra retórica do que como expressão legítima da identidade de uma organização. No marketing digital, o storytelling ganha vida em múltiplos formatos e canais (vídeos, blogs, redes sociais, podcasts) e se desdobra como uma jornada narrativa onde o consumidor não é mais mero espectador, mas parte integrante da experiência. A lógica persuasiva, antes linear, torna-se um convite simbólico à coautoria, em que o valor da marca é construído de forma colaborativa com seu público (Guber, 2007).

O storytelling no contexto do marketing digital não é apenas uma técnica de comunicação, mas uma verdadeira estratégia de construção de identidade e relacionamento. Ao envolver os consumidores em narrativas autênticas e emocionantes, as marcas conseguem se distanciar das abordagens publicitárias tradicionais e se conectar de maneira mais profunda com seus públicos. No entanto, para que esse processo seja eficaz, é essencial que as histórias sejam genuínas, alinhadas com os valores da empresa e, principalmente, capazes de engajar ativamente os consumidores. Nesse novo cenário, o storytelling se configura como um convite à co-autoria, onde a marca e o consumidor se tornam parceiros na criação e evolução da experiência de marca, resultando em uma relação mais duradoura e significativa.

POR QUE O STORYTELLING FUNCIONA?

O êxito do storytelling no universo do marketing digital encontra respaldo sólido tanto na psicologia quanto na neurociência, que explicam por que as histórias têm um poder tão profundo sobre o comportamento humano. Quando uma narrativa é apresentada de maneira envolvente, o cérebro do receptor responde liberando neurotransmissores como dopamina e oxitocina; mensageiros invisíveis da empatia, da memória afetiva e do engajamento emocional (Hasson et al., 2008).

As histórias não apenas informam, elas transportam. Ativam regiões cerebrais ligadas às sensações e emoções, como se o ouvinte estivesse, de fato, atravessando os cenários descritos. Esse fenômeno, conhecido como neural coupling, cria uma espécie de dança mental entre narrador e receptor, uma sincronia que permite compartilhar estados internos e construir uma ponte cognitiva entre quem fala e quem escuta (Hasson et al., 2012). Por isso, narrativas se revelam mais eficazes do que comunicações puramente racionais, baseadas apenas em dados ou argumentos lógicos. Sob a ótica da comunicação persuasiva, Cialdini (2006) destaca que as histórias ativam, com naturalidade e fluidez, diversos gatilhos mentais como autoridade, prova social, afinidade e escassez. Em vez de pressionar ou convencer diretamente, a narrativa convida. Ela oferece ao público a chance de atribuir significado e valor ao conteúdo por meio da identificação com os personagens e seus dilemas. Mais do que uma técnica, o storytelling, segundo Santos e Souza (2020), ele permite a criação de universos simbólicos onde marcas e consumidores dividem crenças, valores e aspirações. Esse território compartilhado alimenta a sensação de pertencimento, estreita laços e fortalece a conexão emocional, o que, por sua vez, favorece tanto a conversão quanto a fidelização.

STORYTELLING E MARCAS: A HUMANIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO

No universo pulsante do marketing digital contemporâneo, a humanização da comunicação empresarial desponta como um diferencial competitivo cada vez mais decisivo. Nesse compasso, o storytelling se revela não apenas como estratégia, mas como ponte viva entre marcas e públicos, capaz de cultivar relações mais genuínas e cheias de significado. Ao contar histórias, as empresas rompem com a rigidez das instituições abstratas e passam a ser vistas como entidades que respiram — com valores, intenções e afetos que ecoam no imaginário coletivo.

Scolari (2013) aponta que vivemos mergulhados em uma era de narratividade expandida, em que o ato de consumir extrapola os limites do uso prático e adentrar territórios simbólicos, emocionais e identitários. O consumidor contemporâneo já não se satisfaz com a simples funcionalidade de um produto ou serviço. Ele anseia por histórias que dialoguem com suas convicções, revelam fragmentos de seus desejos e reafirmam a sensação de pertencimento a determinados grupos, estilos de vida ou modos de ser no mundo. Hoje, ao escolher um tênis, um smartphone ou um cosmético, o que se busca vai além da matéria, busca-se o enredo que a marca narra, os valores que ela incorpora e a forma como esses elementos se entrelaçam à própria narrativa pessoal do indivíduo.

As marcas que compreendem essa lógica e dominam a arte de contar histórias com consistência, sensibilidade e verdade conquistam muito mais do que atenção fugaz em meio ao caos da comunicação digital. Elas ganham algo raro: confiança. Conectam-se de maneira íntima com as subjetividades de seus públicos, construindo pontes simbólicas entre o que são e aquilo que seus consumidores desejam ser. Quando essa conexão narrativa é bem construída, ela não apenas comunica, ela acolhe. O ato de consumir, nesse caso, transforma-se em um gesto de identificação profunda, no qual o cliente não escolhe apenas uma marca: ele se enxerga nela, caminha com ela, vibra com seus personagens, ecoa seus valores.

Dessa forma, o consumo deixa de ser uma ação pontual e passageira para tornar-se parte de uma narrativa mais ampla, tecida entre o indivíduo e a marca, entre o real e o imaginado. Nesse enredo compartilhado, a marca assume o papel de protagonista, guia ou companheira simbólica na jornada do consumidor. E, nesse cenário, a comunicação deixa de vender somente produtos — ela passa a oferecer sentido. E sentido, nos tempos líquidos e saturados em que vivemos, talvez seja o bem mais cobiçado de todos. Esse poder narrativo pode ser claramente observado em campanhas emblemáticas de marcas como Nike, Apple e Natura, que fincaram suas identidades em histórias que exaltam superação, inovação e conexão com a natureza, respectivamente. Suas narrativas não vivem apenas na publicidade: elas se enraízam na cultura organizacional e se expandem para o relacionamento com clientes e colaboradores, refletindo propósito e essência (Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2017).

Além disso, o storytelling abre espaço para que o consumidor deixe de ser espectador e assuma um papel mais ativo, como coautor do discurso da marca. Ao ser convidado a compartilhar suas vivências ou a interagir com conteúdos narrativos, o público se envolve emocionalmente, reforçando vínculos e ampliando a fidelização (Costa, Souza-Leão, 2019). 

No entanto, o êxito dessa estratégia está intimamente ligado à autenticidade. Narrativas forjadas ou desalinhadas com a realidade da empresa soam falsas e geram desconfiança. Por isso, o storytelling precisa nascer do coração da organização refletindo fielmente sua cultura, seus valores e sua razão de existir, para que funcione como uma extensão orgânica e verdadeira do que a marca é, sente e acredita (Motta, 2016).

STORYTELLING COMO FERRAMENTA DE VENDAS

No vasto cenário do marketing digital, onde a experiência do consumidor passou a ocupar o centro das decisões estratégicas, o storytelling desponta como uma ferramenta potente de conversão. Muito além de um simples recurso estético ou narrativo, ele opera como um verdadeiro catalisador da decisão de compra, colocando o consumidor no papel principal de uma jornada simbólica que toca seus desejos, medos e aspirações mais íntimos (França, 2021; Vidrih; Mayahi, 2023).

Essa jornada, inspirada na clássica estrutura narrativa descrita por Campbell (2007) — com seus arquétipos, desafios e transformações — tem sido amplamente incorporada ao marketing de conteúdo e ao desenho do funil de vendas. Aqui, a história não apenas expõe um problema e aponta sua solução, como faz a comunicação tradicional; ela conduz o consumidor por um caminho de identificação, confiança e envolvimento emocional, até desembocar, quase naturalmente, no momento da decisão (Santos; Souza, 2020).

Marcas que dominam essa arte estruturam suas campanhas a partir de elementos reais e tocantes: histórias de clientes, bastidores da produção, relatos de superação. Esses fragmentos narrativos funcionam como prova social e conferem um ar de autenticidade, essenciais para dissolver barreiras e fortalecer a credibilidade da mensagem (Heath; Heath, 2008).

Mais que isso, as narrativas permitem a aplicação sutil de gatilhos mentais como reciprocidade, autoridade e escassez, sem que pareçam imposições. Esses elementos, quando inseridos organicamente no enredo, transformam o discurso comercial em uma conversa simbólica, mais respeitosa com o tempo, a lógica emocional e os valores do consumidor (Guber, 2007). Contudo, é preciso cuidado. Quando o storytelling é usado de forma forçada ou mecânica, sua magia se desfaz e ele corre o risco de ser percebido como manipulação. Sua eficácia como ferramenta de vendas está diretamente vinculada à coerência com a identidade da marca e à sua capacidade de oferecer valor real e legítimo ao público (Pinto Filho, 2023).

O storytelling no marketing digital emerge como uma estratégia poderosa, capaz de transformar a relação entre marcas e consumidores ao colocá-los em uma jornada compartilhada, repleta de emoção, autenticidade e propósito. Quando bem executado, ele não apenas envolve o público de forma profunda, mas também age como um catalisador para a decisão de compra, tornando o processo de vendas mais humano e natural. No entanto, o sucesso dessa abordagem depende da capacidade da marca de contar histórias genuínas, alinhadas com seus valores e que, ao invés de forçar uma transação, construam uma relação de confiança e identificação. Quando utilizada de maneira autêntica e sutil, a narrativa se torna um elo essencial entre a marca e o consumidor, resultando não apenas em vendas, mas em uma conexão duradoura e significativa.

CUIDADOS E LIMITES

Embora o storytelling detenha um potencial imenso de transformação dentro do marketing digital, seu uso demanda discernimento ético e sensibilidade narrativa. Quando aplicado de maneira descontextualizada, exagerada ou, pior ainda, desonesta, o que era para encantar pode virar desencanto, gerando desconfiança, rompimento de vínculos e até crises de reputação (Godin, 2006; Llyc, 2019).

O primeiro cuidado essencial recai sobre a autenticidade. Narrativas que não refletem a realidade da empresa ou que tentam romantizar fragilidades institucionais tendem a ruir com facilidade, sobretudo num ambiente digital hiperconectado, onde a vigilância do público é constante, e a verdade, ou sua ausência, pode ser compartilhada num clique (Bauman, 2009). Assim, o storytelling não pode funcionar como máscara, mas sim como espelho: um reflexo sincero da identidade da marca. Outro ponto delicado está na instrumentalização emocional. Histórias que tocam em temas sensíveis como superações individuais, causas sociais ou episódios trágicos, tornam-se eticamente questionáveis quando exploradas apenas como gatilhos de consumo, sem qualquer envolvimento real com os valores que evocam. Esse uso oportunista, conhecido como storywashing, fere a integridade do discurso e, com o tempo, mina a confiança construída (Costa et al., 2016).

Além disso, é preciso atenção aos limites culturais, sociais e simbólicos do público. Narrativas que desconsideram a diversidade, reforçam estereótipos ou se apropriam de lutas alheias sem legitimidade podem provocar reações adversas e acusações de oportunismo (Iborsani, 2020). Por isso, o planejamento narrativo não deve mirar apenas o convencimento comercial, mas também um compromisso ético com os contextos que atravessa.

Por fim, há um princípio que sustenta toda narrativa digna de confiança: coerência entre discurso e prática. Como bem aponta Carrilho (2014), o storytelling eficaz é aquele que se sustenta nas ações, e não apenas nas palavras. As histórias contadas, portanto, precisam estar enraizadas em experiências autênticas, respaldadas por políticas reais e atitudes cotidianas que traduzam, na prática, os valores que a marca deseja comunicar. Desse modo, lançar mão do storytelling no marketing digital exige mais do que domínio técnico ou criatividade publicitária, exige escuta atenta, tato narrativo e, acima de tudo, compromisso ético. Em um tempo em que a transparência se tornou regra e os consumidores, vigilantes e bem informados, exigem coerência, contar histórias deixou de ser um simples jogo de sedução para assumir o peso de uma responsabilidade comunicacional. Marcas que realmente desejam construir laços sólidos e duradouros com seus públicos precisam harmonizar o que dizem com o que fazem, entrelaçando palavra e prática, emoção e verdade, narrativa e vivência. Só assim o storytelling deixará de ser um ornamento discursivo para tornar-se uma expressão pulsante da alma da marca, um reflexo vivo de sua identidade, integridade e propósito no mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo evidenciou a força do storytelling como eixo central das estratégias comunicacionais no cenário atual do marketing digital. Ao revestir produtos e serviços com camadas simbólicas, as narrativas elevam o engajamento, estreitam laços emocionais entre marcas e consumidores e influenciam, com sutileza e profundidade, os caminhos que levam à decisão de compra. Mais do que uma técnica de linguagem, o storytelling se revela como uma ferramenta de identidade; um espelho narrativo através do qual as empresas podem revelar seus valores, propósitos e compromissos de maneira mais humana, transparente e afetiva. Nesse cenário, o consumidor deixa de ocupar o papel passivo de receptor para assumir sua função como coautor de sentidos, fortalecendo laços de pertencimento, reconhecimento e lealdade.

No entanto, é preciso sublinhar que o uso dessa ferramenta exige responsabilidade. Narrativas incoerentes, forçadas ou vazias de autenticidade podem rachar a imagem da marca, a expondo à desconfiança, ainda mais em tempos de alta vigilância social e exigência por coerência entre fala e ação. A verdade, hoje, não pode ser um adereço retórico: ela precisa pulsar em cada palavra dita. Sendo assim, o storytelling se estabelece como uma ponte viva entre marcas e pessoas, uma linguagem que não apenas seduz, mas conecta, emociona e transforma. Quando sustentado por sensibilidade e verdade, ele deixa de ser um recurso passageiro e se torna instrumento legítimo de construção de relações sólidas, capazes de distinguir organizações em um mercado cada vez mais ruidoso, disputado e mutável.

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