O papel das comunidades na conservação da biodiversidade local

THE ROLE OF COMMUNITIES IN THE CONSERVATION OF LOCAL BIODIVERSITY

EL PAPEL DE LAS COMUNIDADES EN LA CONSERVACIÓN DE LA BIODIVERSIDAD LOCAL

Autor

Marisa de Souza Caldas
ORIENTADOR
Prof. Dr. Rodollf Augusto Regetz Herold Altisonante Borba Assumpção

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/D31E82

DOI

Caldas, Marisa de Souza . O papel das comunidades na conservação da biodiversidade local. International Integralize Scientific. v , n , / ISSN/3085-654X

Resumo

A biodiversidade sustenta ecossistemas e processos vitais, impactando a segurança alimentar, saúde e recursos naturais. Iniciativas globais, como os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), buscam soluções sustentáveis, destacando a importância das comunidades locais na preservação e gestão dos ecossistemas. Assim, o objetivo geral é descrever como as comunidades locais contribuem para a conservação da biodiversidade. Foi realizada uma revisão bibliográfica, abordando estudos que discutem a integração de saberes tradicionais e práticas sustentáveis, especialmente em comunidades indígenas, quilombolas e rurais. A metodologia empregada foi qualitativa, baseada na análise de artigos e relatórios de campo que tratam da interação entre as comunidades e as políticas públicas de conservação ambiental. Os resultados demonstraram que, quando as comunidades locais são integradas aos processos de preservação, elas contribuem consideravelmente para a conservação dos ecossistemas. Observou-se também que as práticas tradicionais, ligadas a um profundo conhecimento sobre o ambiente, oferecem alternativas de manejo que complementam as abordagens científicas. No entanto, a falta de apoio institucional e de políticas públicas adequadas ainda representa um obstáculo importante. Conclui-se que a colaboração entre saberes locais e as políticas públicas de conservação pode resultar em soluções mais apropriadas para a proteção da biodiversidade. A parceria entre conhecimento científico e práticas locais mostrou-se uma estratégia útil, indicando que o fortalecimento das políticas públicas e o incentivo às iniciativas comunitárias são determinantes para o sucesso das ações de conservação ambiental. A implementação de programas que promovam a participação das comunidades nas decisões sobre o uso e manejo dos recursos naturais é crucial para a continuidade dessas ações. Palavras-chave: Conservação da Biodiversidade. Comunidades Locais. Saberes Tradicionais. Políticas Públicas. Sustentabilidade.
Palavras-chave

Summary

Biodiversity sustains ecosystems and vital processes, impacting food security, health, and natural resources. Global initiatives, such as the Sustainable Development Goals (SDGs), seek sustainable solutions, highlighting the importance of local communities in the preservation and management of ecosystems. Thus, the overall objective is to describe how local communities contribute to the conservation of biodiversity. A literature review was conducted, addressing studies that discuss the integration of traditional knowledge and sustainable practices, especially in indigenous, quilombola, and rural communities. The methodology used was qualitative, based on the analysis of articles and field reports that address the interaction between communities and public environmental conservation policies. The results demonstrated that, when local communities are integrated into preservation processes, they contribute considerably to the conservation of ecosystems. It was also observed that traditional practices, linked to a deep knowledge of the environment, offer management alternatives that complement scientific approaches. However, the lack of institutional support and adequate public policies still represents a significant obstacle. It is concluded that collaboration between local knowledge and public conservation policies can result in more appropriate solutions for the protection of biodiversity. The partnership between scientific knowledge and local practices has proven to be a useful strategy, indicating that strengthening public policies and encouraging community initiatives are crucial to the success of environmental conservation actions. The implementation of programs that promote community participation in decisions about the use and management of natural resources is crucial for the continuity of these actions. Keywords: Biodiversity Conservation. Local Communities. Traditional Knowledge. Public Policies. Sustainability.
Keywords

Resumen

La biodiversidad sostiene los ecosistemas y los procesos vitales, lo que repercute en la seguridad alimentaria, la salud y los recursos naturales. Iniciativas globales, como los Objetivos de Desarrollo Sostenible (ODS), buscan soluciones sostenibles, destacando la importancia de las comunidades locales en la preservación y gestión de los ecosistemas. Así, el objetivo general es describir cómo las comunidades locales contribuyen a la conservación de la biodiversidad. Se realizó una revisión bibliográfica que abarca estudios que discuten la integración de conocimientos tradicionales y prácticas sostenibles, especialmente en comunidades indígenas, quilombolas y rurales. La metodología utilizada fue cualitativa, basada en el análisis de artículos e informes de campo que abordan la interacción entre las comunidades y las políticas públicas de conservación ambiental. Los resultados demostraron que, cuando las comunidades locales se integran a los procesos de preservación, contribuyen considerablemente a la conservación de los ecosistemas. También se observó que las prácticas tradicionales, ligadas a un conocimiento profundo del medio ambiente, ofrecen alternativas de gestión que complementan los enfoques científicos. Sin embargo, la falta de apoyo institucional y de políticas públicas adecuadas todavía representa un obstáculo importante. Se concluye que la colaboración entre el conocimiento local y las políticas públicas de conservación puede resultar en soluciones más apropiadas para la protección de la biodiversidad. La asociación entre el conocimiento científico y las prácticas locales resultó ser una estrategia útil, indicando que fortalecer las políticas públicas y fomentar las iniciativas comunitarias son cruciales para el éxito de las acciones de conservación ambiental. La implementación de programas que promuevan la participación comunitaria en las decisiones sobre el uso y manejo de los recursos naturales es crucial para la continuidad de estas acciones. Palabras clave: Conservación de la Biodiversidad. Comunidades Locales. Conocimiento tradicional. Políticas Públicas. Sostenibilidad.
Palavras-clave

INTRODUÇÃO


  A biodiversidade é fundamental para a manutenção dos ecossistemas, sustentando processos naturais que asseguram a sobrevivência de inúmeras formas de vida, incluindo a humana. A interação entre espécies, habitats e recursos naturais revela como a redução da diversidade biológica pode comprometer a estabilidade dos ecossistemas e a qualidade de vida. Nesse contexto, a preservação da biodiversidade transcende questões ambientais, impactando diretamente aspectos como segurança alimentar, recursos hídricos e saúde pública (Prates; Irving, 2015; Ferreira; Profice, 2019).  

No cenário atual, diversas iniciativas buscam fortalecer a preservação ambiental, como os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que integram a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e propõem soluções abrangentes para desafios globais. Entre essas metas, destacam-se os ODS 2, 13 e 15, que se relacionam diretamente com a agroecologia, promovendo uma produção sustentável alinhada à equidade social (Fontes; De Souza; Spinola, 2023). Entretanto, a biodiversidade continua ameaçada em níveis local e global, devido a atividades humanas como desmatamento, urbanização e poluição, agravadas pelas mudanças climáticas. Esse cenário de desequilíbrio ecológico exige respostas urgentes para garantir a conservação. Nesse contexto, as comunidades locais têm um papel importante na preservação dos recursos naturais, especialmente em regiões onde o conhecimento tradicional contribui para a gestão sustentável dos ecossistemas (Batista; Milioli; Citadini-Zanette, 2020; Córdula; Nascimento; Lucena, 2018). 

Este trabalho analisa as práticas e saberes tradicionais das comunidades locais na conservação da biodiversidade, investigando como contribuem para a preservação ambiental e avaliando seus impactos. Parte-se da hipótese de que esses saberes integram práticas de subsistência e uso responsável dos recursos naturais, podendo ser fortalecidos por políticas públicas que ampliem seu alcance regional (Batista; Milioli; Citadini-Zanette, 2020; Prates; Irving, 2015). A pesquisa destaca a relevância da valorização do conhecimento tradicional para inspirar políticas mais inclusivas e sustentáveis, promovendo a integração entre ciência e práticas comunitárias, com benefícios ecológicos e sociais em longo prazo (Córdula; Nascimento; Lucena, 2018; Ferreira; Profice, 2019).

Assim, o objetivo geral é descrever como as comunidades locais contribuem para a conservação da biodiversidade. Especificamente, busca-se caracterizar os saberes tradicionais que fundamentam essas práticas, apresentar exemplos concretos de conservação e identificar as condições necessárias para fortalecer a atuação dessas comunidades em diferentes contextos regionais.  

 

METODOLOGIA

 

A metodologia deste estudo fundamenta-se em uma abordagem qualitativa, de caráter descritivo e exploratório, estruturada por meio de uma revisão de literatura, conforme os princípios metodológicos de Creswell e Poth (2016). O objetivo foi identificar e analisar as contribuições das comunidades locais para a conservação da biodiversidade, considerando os saberes tradicionais e as práticas sustentáveis.  

As buscas foram realizadas em bases de dados acadêmicas amplamente reconhecidas, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o Google Scholar, seguindo diretrizes de revisão sistemática (Creswell e Poth, 2016). Para a seleção dos estudos, utilizaram-se palavras-chave previamente definidas, como “biodiversidade”, “conservação”, “saberes tradicionais” e “comunidades locais”, permitindo a identificação de publicações alinhadas ao tema. O corpus final de análise foi composto por uma amostra representativa de fontes relevantes, assegurando um panorama atualizado sobre a temática.  

Os critérios de inclusão priorizaram artigos científicos publicados nos últimos 10 anos (2015-2025) em periódicos de alto impacto, livros acadêmicos, dissertações de programas de pós-graduação reconhecidos e documentos oficiais, conforme os procedimentos recomendados por Bardin (2016). Foram priorizados trabalhos que apresentassem estudos de caso, análises regionais ou discussões sobre práticas de conservação baseadas em saberes tradicionais. Em contrapartida, excluíram-se artigos duplicados, revisões narrativas e fontes que não abordassem diretamente os objetivos da pesquisa. Com base nas informações coletadas, construiu-se uma análise descritiva sobre as condições necessárias para fortalecer a atuação das comunidades locais em diferentes contextos regionais, exemplificando práticas de conservação e caracterizando os saberes tradicionais que as sustentam (Creswell e Poth, 2016).

 

PRÁTICAS TRADICIONAIS DE CONSERVAÇÃO PELAS COMUNIDADES LOCAIS 

 

As práticas tradicionais de conservação pelas comunidades locais têm sido fundamentais na preservação da biodiversidade, refletindo um profundo conhecimento do ambiente e das interações ecológicas. Essas práticas incluem o manejo sustentável de recursos naturais, que, ao longo do tempo, permitiram que diversas culturas adaptassem suas atividades às particularidades dos ecossistemas. Ao invés de explorar os recursos de forma intensiva, muitas comunidades desenvolvem métodos que garantem a renovação e a sustentabilidade dos ecossistemas, como a rotação de culturas e o manejo adequado de fauna e flora (Batista; Milioli; Citadini-Zanette, 2020). 

O vínculo entre essas comunidades e o ambiente natural, estabelecido por gerações, é uma forma de gestão que equilibra as necessidades humanas com a preservação da biodiversidade. Este conhecimento não só contribui para a conservação, mas também para a resiliência ambiental, permitindo que as comunidades se adaptem às mudanças sem comprometer os recursos essenciais à sua sobrevivência (Córdula; Nascimento; Lucena, 2018). Essas práticas ancestrais, muitas vezes negligenciadas em um mundo cada vez mais globalizado, têm demonstrado resultados positivos em várias regiões. Por exemplo, em comunidades indígenas da Amazônia, a utilização de técnicas de agro florestamento permite a manutenção de uma floresta produtiva sem degradá-la, preservando sua biodiversidade e fornecendo alimentos e remédios naturais para a população local (Santos et al., 2022). 

Tais práticas, quando respeitadas e integradas a iniciativas mais modernas de conservação, podem ser eficazes na proteção de áreas de alto valor ecológico. O conhecimento tradicional também abrange o manejo da água, como técnicas de captação e distribuição que mantêm os ecossistemas aquáticos em equilíbrio, sem sobrecarregar os recursos hídricos. Esse tipo de manejo sustentável de recursos naturais revela-se cada vez mais crucial, especialmente em tempos de mudanças climáticas, quando as pressões sobre os ecossistemas aumentam  (Santos; Silva; Lima, 2023). 

A preservação de saberes tradicionais vai além de uma questão de manutenção cultural; trata-se também de uma estratégia de conservação de larga escala. Ao proteger áreas naturais com o auxílio dessas práticas, as comunidades locais se tornam guardiãs dos ecossistemas, utilizando métodos de baixo impacto que favorecem a regeneração e a continuidade das funções ecológicas essenciais. Em diversas partes do mundo, as práticas tradicionais de conservação têm sido reconhecidas como um ativo importante na luta contra a degradação ambiental, sendo cada vez mais integradas a políticas de gestão ambiental e conservação (Córdula; Nascimento; Lucena, 2018). 

Em alguns casos, a valorização desses saberes tem permitido que as comunidades obtenham apoio de organizações governamentais e não governamentais, ampliando a capacidade de proteger e restaurar os ecossistemas locais (Batista; Milioli; Citadini-Zanette, 2020). Entretanto, a manutenção e valorização dessas práticas exigem esforços contínuos para assegurar que os conhecimentos tradicionais não se percam ao longo das gerações. A educação e a transmissão intergeracional do saber são essenciais para a perpetuação dessas técnicas. Algumas iniciativas, como programas de formação de jovens em áreas rurais e projetos de integração entre ciência moderna e saberes locais, têm contribuído para essa preservação (Santos et al., 2022). 

Além disso, essas práticas necessitam ser constantemente adaptadas às novas realidades e desafios ambientais, como a pressão do desmatamento e da urbanização, que afetam diretamente as regiões em que essas comunidades vivem (Santos et al., 2022). A combinação de práticas tradicionais de conservação e políticas públicas voltadas para o reconhecimento e valorização do conhecimento local tem mostrado resultados promissores. Projetos que envolvem diretamente as comunidades na gestão de áreas protegidas, por exemplo, têm demonstrado ser eficazes em promover a sustentabilidade ambiental e a inclusão social (Santos; Silva; Lima, 2023). 

Ao envolver as populações locais nas decisões de conservação, cria-se um compromisso com a proteção da biodiversidade, o que fortalece a coesão comunitária e a conscientização ambiental. Dessa forma, as comunidades locais, apoiadas por políticas públicas, têm a capacidade de implementar práticas de conservação que não só preservam a biodiversidade, mas também garantem a continuidade das suas próprias culturas e modos de vida (Santos; Silva; Lima, 2023). 

 

USO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS NATURAIS E CONSERVAÇÃO

 

O uso sustentável dos recursos naturais está diretamente relacionado à conservação da biodiversidade, pois busca equilibrar a exploração dos recursos com a capacidade de regeneração dos ecossistemas. Isso é especialmente relevante em regiões onde as comunidades dependem diretamente dos recursos naturais para sua sobrevivência, como as zonas rurais e as áreas de floresta tropical. O conceito de sustentabilidade exige que as práticas de uso sejam mantidas dentro de limites que assegurem a renovação dos recursos e a preservação dos habitats. Nesse contexto, o uso sustentável se traduz em práticas que não apenas evitam a sobre exploração, mas também promovem a recuperação e a proteção dos ecossistemas, como a agroecologia e a pesca sustentável (Batista; Milioli; Citadini-Zanette, 2020).

A agroecologia, por exemplo, é uma das práticas que se destaca no uso sustentável dos recursos naturais. Essa abordagem visa à produção agrícola sem o uso de insumos químicos, respeitando os ciclos naturais e promovendo a biodiversidade do solo (Santos et al., 2022). A implementação de sistemas agroflorestais, em que a agricultura é praticada de forma integrada à floresta, é uma das soluções mais eficazes para promover a sustentabilidade, uma vez que mantém o equilíbrio ecológico e preserva as funções ambientais essenciais, como a regulação do clima e a proteção da água. Além disso, a agroecologia favorece a segurança alimentar das comunidades locais, ao garantir uma produção de alimentos diversificada e saudável (Córdula; Nascimento; Lucena, 2018).

A prática de uso sustentável dos recursos também envolve a pesca, em especial em áreas costeiras e fluviais, onde a biodiversidade aquática é frequentemente ameaçada pela sobrepesca. As comunidades locais têm adotado práticas tradicionais de pesca que não só evitam a exaustão dos estoques pesqueiros, mas também asseguram que as populações de peixes se reproduzam de forma natural, mantendo a saúde dos ecossistemas aquáticos. A pesca sustentável não depende apenas da limitação de captura, mas também de práticas como a proteção de áreas de desova e o uso de equipamentos que minimizem os impactos ambientais. Essas práticas têm sido fundamentais para garantir a longevidade dos recursos pesqueiros, permitindo que as gerações futuras possam continuar a usufruir desses recursos (Batista; Milioli; Citadini-Zanette, 2020).

A combinação de técnicas modernas e tradicionais é uma abordagem eficiente para garantir a sustentabilidade dos recursos naturais. Em muitas regiões, as práticas de manejo comunitário têm sido integradas às políticas públicas de conservação, permitindo que as comunidades locais tenham um papel ativo na gestão dos recursos naturais. Esse modelo de governança, que envolve tanto o conhecimento científico quanto o tradicional, tem mostrado ser eficiente na preservação de ecossistemas frágeis e na promoção do desenvolvimento sustentável. A implementação de políticas que incentivem a utilização sustentável dos recursos naturais, aliada à valorização do conhecimento local, cria condições favoráveis para a preservação de ambientes naturais, sem prejudicar as necessidades econômicas das populações (Santos et al., 2022).

No entanto, a promoção do uso sustentável enfrenta desafios, especialmente nas áreas mais afetadas por práticas destrutivas, como o desmatamento e a exploração ilegal de recursos. A criação de incentivos econômicos, como programas de compensação ambiental e certificação de produtos sustentáveis, é uma das formas de incentivar as comunidades a adotar práticas de uso responsável dos recursos naturais. Tais iniciativas podem gerar alternativas econômicas viáveis para as comunidades, ao mesmo tempo em que protegem os ecossistemas e promovem a regeneração dos recursos naturais (Córdula; Nascimento; Lucena, 2018).

 

DESAFIOS E OBSTÁCULOS NA CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE PELAS COMUNIDADES

 

A conservação da biodiversidade enfrenta uma série de desafios e obstáculos, muitos dos quais estão diretamente relacionados à falta de recursos financeiros e à pressão externa sobre os ecossistemas. As comunidades locais, que muitas vezes dependem dos recursos naturais para sua sobrevivência, se veem confrontadas com dificuldades em conciliar as necessidades econômicas com a preservação ambiental. O desmatamento, a exploração excessiva de recursos e a degradação dos solos são apenas alguns dos fatores que comprometem a capacidade das comunidades em manter práticas sustentáveis. A falta de infraestrutura, educação e apoio institucional também agrava esses desafios, tornando difícil a implementação de soluções eficazes para a conservação da biodiversidade (Batista; Milioli; Citadini-Zanette, 2020).

Outro obstáculo é a mudança climática, que afeta diretamente a biodiversidade e os recursos naturais. As mudanças nos padrões climáticos, como a alteração dos regimes de chuva e o aumento das temperaturas, têm impactos profundos sobre os ecossistemas locais, afetando a disponibilidade de recursos naturais e alterando as dinâmicas das espécies. Para as comunidades locais, essas mudanças representam desafios adicionais, pois suas práticas tradicionais de manejo podem não ser suficientes para lidar com os novos cenários impostos pelo clima. Além disso, a variabilidade climática pode dificultar a previsão de safra e a pesca, impactando diretamente a segurança alimentar e o bem-estar das populações (Santos et al., 2022).

A pressão econômica é outro fator que contribui para os obstáculos na conservação. As comunidades que dependem da exploração de recursos naturais enfrentam constantes desafios devido à crescente demanda por produtos como madeira, minérios e terras agrícolas. A expansão de atividades como a agricultura intensiva e a mineração muitas vezes entra em conflito com as iniciativas de preservação ambiental, forçando as comunidades a tomar decisões difíceis sobre como equilibrar suas necessidades econômicas e a proteção do meio ambiente. Essas pressões econômicas, quando não gerenciadas adequadamente, podem levar à degradação dos ecossistemas e à perda de biodiversidade (Córdula; Nascimento; Lucena, 2018).

Entretanto, apesar desses obstáculos, existem oportunidades para superar as dificuldades enfrentadas pelas comunidades locais. A implementação de políticas públicas que incentivem a adoção de práticas sustentáveis, como a certificação de produtos e a criação de áreas protegidas, pode ajudar a criar alternativas econômicas viáveis para as comunidades. Além disso, o fortalecimento das capacidades locais por meio de educação e capacitação em gestão ambiental é fundamental para que as comunidades possam lidar com as pressões externas e manter suas práticas de conservação. A participação ativa das comunidades no processo de tomada de decisão sobre o uso dos recursos naturais pode ser um fator-chave para garantir a eficácia das ações de conservação (Batista; Milioli; Citadini-Zanette, 2020).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

A análise dos dados obtidos nas pesquisas sobre conservação da biodiversidade evidencia variações nas abordagens adotadas por diferentes comunidades e iniciativas externas. Os resultados obtidos por Batista et al. (2020) sobre os saberes tradicionais do povo Mbya Guarani indicam que práticas ancestrais, como o cultivo de plantas medicinais e a caça de espécies nativas, são muito importantes na preservação da biodiversidade local. Esses achados reforçam a ideia de que os conhecimentos tradicionais podem ser recursos importantes para a conservação, especialmente quando são aplicados de forma integrada às políticas públicas. 

Quando comparado ao estudo de Córdula et al. (2018), que também aponta a relevância dos saberes locais na conservação, é possível notar que a pesquisa de Córdula revela que, embora o envolvimento das comunidades seja fundamental, a falta de reconhecimento institucional e a implementação de políticas externas podem limitar os resultados positivos. A comparação entre os dois estudos indica que, embora os saberes locais sejam importantes, um maior alinhamento entre as práticas tradicionais e as políticas ambientais pode aumentar a eficácia das ações de preservação.

A pesquisa de De Assis (2016), que analisa a atuação de comunidades quilombolas no Cerrado, apresenta uma abordagem distinta, destacando a importância do manejo coletivo das terras para a conservação dos ecossistemas. De Assis observa que, embora essas práticas sejam eficazes em algumas áreas, a falta de apoio governamental e a pressão de atividades econômicas externas impactam negativamente a sustentabilidade ambiental. Esse estudo encontra similaridades com os resultados de Ferreira e Profice (2019), que investigaram a percepção ambiental de comunidades rurais em torno de unidades de conservação. Ferreira e Profice apontam que a falta de integração entre as comunidades e as unidades de conservação prejudica o engajamento local nas práticas de preservação. 

Tanto os estudos de De Assis quanto de Ferreira e Profice sugerem que, para garantir o sucesso na conservação, as políticas públicas precisam reconhecer e incorporar as necessidades e os saberes das comunidades. Por outro lado, Figueiredo e Barros (2016) discutem os desafios enfrentados por caçadores em unidades de conservação na Amazônia, onde práticas culturais, como a caça, são frequentemente vistas como incompatíveis com as políticas ambientais. Seus resultados indicam que as normativas dessas unidades de conservação muitas vezes desconsideram os saberes tradicionais, levando a conflitos e dificultando a conservação efetiva. 

Em comparação com o estudo de Batista et al. (2020), que sugere a integração entre práticas tradicionais e abordagens científicas, Figueiredo e Barros alertam para a necessidade de revisar as políticas de conservação para permitir a coexistência de diferentes práticas culturais e de preservação. A diferença central entre os estudos é a abordagem das políticas públicas: enquanto Batista et al. defendem a colaboração entre saberes tradicionais e científicos, Figueiredo e Barros chamam a atenção para a necessidade de maior flexibilidade nas políticas ambientais.

A pesquisa de Jalane et al. (2024) sobre os desafios da conservação em contextos de insegurança alimentar revela um fator adicional que impacta a conservação da biodiversidade: a priorização das necessidades imediatas de sobrevivência. Jalane et al. observam que, em cenários de fome e pobreza, as comunidades tendem a adotar práticas que favorecem a satisfação de suas necessidades imediatas, deixando de lado ações de conservação. Esse achado é consistente com os resultados de Junior e Nascimento (2024), que defendem o papel da educação ambiental como uma ferramenta para empoderar as comunidades, ligando a conservação à melhoria das condições de vida. Quando comparados, esses dois estudos demonstram que políticas de conservação precisam ser mais integradas, contemplando não apenas a preservação ambiental, mas também as necessidades sociais, para garantir sua eficácia.

Embora ambos os estudos ressaltem a importância da educação ambiental, a análise de Junior e Nascimento (2024) vai além, sugerindo que a conscientização sobre os impactos das atividades humanas pode levar as comunidades a modificarem suas práticas cotidianas. O estudo de Ferreira e Profice (2019) também aponta para a importância da percepção ambiental na transformação das atitudes das populações locais. Portanto, é possível concluir que a educação ambiental pode ter um impacto positivo na conscientização das comunidades, incentivando-as a adotar práticas mais sustentáveis e, consequentemente, melhorando a conservação da biodiversidade a longo prazo.

A comparação desses resultados revela uma tendência comum: quando as políticas de conservação não consideram as especificidades culturais e sociais das comunidades, elas tendem a falhar em envolver as populações locais de forma efetiva. A análise crítica dos estudos indica que o sucesso das estratégias de conservação está intrinsecamente relacionado à integração das comunidades no processo decisório e ao reconhecimento dos seus saberes e necessidades. No entanto, para que isso aconteça, é necessário que as políticas públicas de conservação se adaptem e reconheçam a diversidade das práticas locais, criando um ambiente propício para a colaboração entre diferentes saberes e abordagens.

A reflexão sobre esses dados levanta uma questão importante sobre o papel do engajamento comunitário nas estratégias de conservação. Os estudos indicam que, enquanto as comunidades locais têm um papel importante na proteção dos recursos naturais, elas muitas vezes são desconsideradas nas políticas de conservação. O fortalecimento do vínculo entre as comunidades e as unidades de conservação pode resultar em práticas de preservação mais eficazes, além de promover o empoderamento das populações tradicionais, como sugerido por Junior e Nascimento (2024). Além disso, a adaptação das políticas de conservação às realidades locais, reconhecendo e valorizando os saberes tradicionais, pode ser uma solução para aumentar a eficácia das estratégias de preservação, como demonstram os resultados de Batista et al. (2020) e De Assis (2016).

Em resumo, os estudos analisados trazem uma visão dos desafios e oportunidades para a conservação da biodiversidade. A interação entre saberes tradicionais e políticas públicas é fundamental para garantir a sustentabilidade das ações de preservação. No entanto, é essencial que as políticas ambientais evoluam para reconhecer a complexidade das comunidades e suas práticas culturais, de modo a criar estratégias de conservação mais inclusivas e eficazes. Ao integrar as necessidades sociais, econômicas e culturais das populações locais, será possível construir uma abordagem mais holística e eficiente para a conservação da biodiversidade.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Este estudo abordou a importância das comunidades locais na conservação da biodiversidade, destacando o papel importante que elas desempenham na preservação e manejo dos recursos naturais. A análise dos estudos revisados demonstrou que o engajamento das comunidades, seja por meio de práticas tradicionais, como os saberes indígenas e quilombolas, ou por meio de iniciativas locais em unidades de conservação, foi fundamental para a eficácia das estratégias de preservação. A interação entre os saberes tradicionais e as políticas públicas revelou-se como um fator chave para potencializar os esforços de conservação e garantir a proteção dos ecossistemas e da biodiversidade local.

Foi identificado que a implementação de políticas públicas que integrem os saberes das comunidades locais é imprescindível para fortalecer a conservação. O estudo evidenciou a necessidade de uma maior colaboração entre as comunidades e as autoridades responsáveis pela gestão ambiental, a fim de otimizar as ações de preservação. O apoio a iniciativas comunitárias também se mostrou essencial para promover o empoderamento das populações e garantir soluções sustentáveis de longo prazo. Para alcançar esses objetivos, a educação ambiental e programas que incentivem a participação ativa das comunidades foram indicados como estratégias eficazes.

O estudo concluiu que a união entre ciência e saberes locais pode ser um pilar importante para as estratégias de conservação. A ciência, com suas abordagens técnicas e dados empíricos, pode se beneficiar do conhecimento tradicional das comunidades, proporcionando uma base sólida para a elaboração de políticas públicas mais eficazes e adaptadas à realidade local. Assim, para que a conservação da biodiversidade seja bem-sucedida, é necessário que as ações de preservação sejam mais inclusivas, integrando os esforços da pesquisa científica com as práticas culturais das populações locais. 

 

REFERÊNCIAS

 

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Caldas, Marisa de Souza . O papel das comunidades na conservação da biodiversidade local.International Integralize Scientific. v , n , / ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
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Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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Setembro/2024
AGOSTO-CAPA

Vol.

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Agosto/2024

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