Autor
Resumo
INTRODUÇÃO
A formação docente envolve múltiplas dimensões que transcendem a mera aquisição de conteúdos acadêmicos, abrangendo aspectos pessoais, sociais, culturais e éticos que contribuem para a constituição da identidade profissional do educador. Mais do que dominar teorias e metodologias, o professor em formação precisa desenvolver a capacidade de refletir criticamente sobre sua prática, dialogar com diferentes saberes e adaptar-se aos contextos diversos em que atua. Nesse sentido, a construção dos saberes docentes é um processo contínuo e dinâmico, que se efetiva na articulação entre teoria e prática, na vivência cotidiana da sala de aula e na constante reflexão sobre as experiências pedagógicas.
A atuação docente demanda muito mais do que o domínio de conteúdos teóricos: exige também a capacidade de transpor esse conhecimento para práticas pedagógicas eficazes e contextualizadas. No cotidiano escolar, professores enfrentam desafios constantes para articular teoria e prática, especialmente diante da diversidade dos contextos educacionais nos quais estão inseridos. Essa complexidade se manifesta em diferentes aspectos, como a heterogeneidade das turmas, as limitações estruturais das instituições de ensino e as mudanças nas políticas educacionais. Diante disso, refletir sobre as estratégias e caminhos possíveis para aproximar a formação teórica das exigências da prática pedagógica torna-se essencial para a construção de uma educação significativa e transformadora.
A identidade profissional docente é um processo dinâmico e contínuo, construído ao longo do tempo a partir de múltiplas influências. Longe de ser uma característica fixa, ela se desenvolve por meio das vivências pessoais, das interações sociais e das práticas institucionais que marcam a trajetória de cada educador. Nessa perspectiva, a formação inicial, o ambiente escolar, os valores culturais e as relações com colegas, estudantes e gestores exercem papel fundamental na constituição de quem o professor é e deseja ser em sua atuação profissional.
O desenvolvimento profissional dos professores é um dos pilares centrais para a qualidade da educação. Nesse contexto, as políticas educacionais, as condições de trabalho e a formação — tanto inicial quanto continuada — exercem influência direta sobre a prática docente, refletindo nos resultados de aprendizagem e no ambiente escolar como um todo. Entender como esses fatores se articulam e afetam a trajetória profissional dos educadores é essencial para a construção de sistemas educacionais mais justos, eficazes e sustentáveis. Este estudo propõe uma reflexão crítica sobre esses elementos, destacando suas inter-relações e implicações para a valorização e o fortalecimento da profissão docente. Refletir sobre os desafios da construção dos saberes docentes é essencial para o fortalecimento da prática pedagógica e da promoção de uma educação de qualidade.
Em um contexto educacional cada vez mais complexo e dinâmico, compreender como os professores constroem, ressignificam e aplicam seus conhecimentos torna-se um ponto central para o desenvolvimento profissional e institucional. Essa reflexão permite identificar não apenas as dificuldades enfrentadas no cotidiano escolar, mas também as possibilidades de transformação por meio de uma formação contínua, crítica e comprometida com os processos de ensino e aprendizagem.
Este artigo propõe uma reflexão sobre como esses diversos fatores contribuem para a construção da identidade docente, destacando os desafios e as possibilidades que emergem nesse processo. A valorização dos saberes da experiência é fundamental para compreender o fazer pedagógico em sua totalidade. No cotidiano escolar, professores constroem conhecimentos a partir de vivências práticas, interações com os alunos, desafios enfrentados em sala de aula e reflexões sobre a prática docente. Esses saberes, muitas vezes não sistematizados, constituem uma base sólida que orienta decisões pedagógicas, estratégias de ensino e formas de mediação do conhecimento. Reconhecer a importância desses saberes é essencial para promover uma educação mais significativa, contextualizada e humanizada, além de contribuir para a formação contínua dos profissionais da educação.
A INFLUÊNCIA DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NA FORMAÇÃO DOS SABERES DOCENTES
As políticas educacionais exercem papel central na estruturação dos sistemas de ensino e na definição dos rumos da formação docente. Elas orientam diretrizes curriculares, parâmetros de avaliação, práticas pedagógicas e os próprios modelos de formação inicial e continuada dos professores. (Teixeira, 2018). Nesse contexto, compreender a influência dessas políticas na constituição dos saberes docentes é essencial para refletir criticamente sobre a prática educativa e suas transformações ao longo do tempo.
Os saberes docentes, conforme proposto por Tardif (2002), são construídos a partir de múltiplas fontes: a formação acadêmica, a experiência profissional e o contexto sociocultural em que o professor está inserido. As políticas públicas interferem diretamente nesses campos, seja por meio de reformas curriculares, programas de capacitação, avaliação docente, ou ainda pela imposição de padrões e competências que os educadores devem adquirir. Dessa forma, a formação de saberes não se dá apenas em espaços autônomos de reflexão, mas também como resposta a determinações externas, muitas vezes normativas e reguladoras.
A implementação de políticas educacionais centralizadas, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), evidencia a tentativa do Estado de sistematizar os conteúdos escolares e, por consequência, os conhecimentos que os professores devem dominar e ensinar. Essa padronização, embora tenha como objetivo garantir a equidade no ensino, pode gerar tensões entre os saberes experienciados pelos docentes e aqueles prescritos oficialmente. Em alguns casos, isso pode enfraquecer a autonomia profissional do professor e limitar sua capacidade de contextualizar o ensino conforme a realidade dos alunos.
Por outro lado, políticas educacionais voltadas à valorização da carreira docente, à formação continuada crítica e reflexiva e ao incentivo à pesquisa na prática pedagógica podem fortalecer os saberes profissionais. Programas como o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) e a formação continuada promovida por universidades públicas são exemplos de iniciativas que visam integrar a teoria à prática, respeitando os contextos locais e as experiências dos educadores (Nóvoa, 2002; Gatti, 2009). Tais ações contribuem para a constituição de uma identidade profissional mais sólida e consciente.
Segundo Soares e Colares (2021), a análise crítica das políticas educacionais requer, portanto, uma abordagem que vá além da descrição normativa dos documentos oficiais. É necessário investigar como essas políticas se materializam nas práticas docentes e como são apropriadas, resistidas ou ressignificadas pelos professores em seus contextos reais de atuação. Isso implica reconhecer o professor como sujeito ativo, capaz de interpretar e reconstruir os saberes que orientam sua prática, mesmo diante de imposições externas (Freire, 1996).
Em síntese, as políticas educacionais têm um impacto profundo na formação dos saberes docentes, tanto como possibilidade de desenvolvimento quanto como elemento de controle. A tensão entre autonomia e regulação perpassa a construção da profissionalidade docente e desafia os educadores a atuarem criticamente em um campo marcado por disputas ideológicas e interesses diversos. A valorização dos saberes construídos na prática, articulados à formação teórica e à reflexão crítica, é fundamental para que a formação docente seja efetivamente emancipadora.
A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE E SEUS IMPACTOS NOS SABERES
A precarização do trabalho docente tem se intensificado nas últimas décadas, impulsionada por políticas neoliberais que reconfiguram o papel do Estado na oferta de serviços públicos, incluindo a educação. Este processo implica na desvalorização profissional dos professores, refletida em baixos salários, contratos temporários, sobrecarga de trabalho e condições inadequadas para o exercício da docência. Tal conjuntura compromete a qualidade do ensino e impacta diretamente na constituição e circulação dos saberes docentes (Oliveira, 2019).
A lógica gerencialista, que adentra o espaço escolar por meio da meritocracia, metas e produtividade, impõe ao docente uma atuação cada vez mais técnica e menos reflexiva. O professor, nesse contexto, é tratado como executor de tarefas, perdendo autonomia pedagógica e a capacidade de construir saberes críticos e contextualizados (Cunha, 2011). A desprofissionalização, portanto, enfraquece o papel social do educador como agente transformador, limitando seu campo de atuação ao cumprimento de conteúdos curriculares impostos por políticas centralizadas.
Além disso, a intensificação do trabalho, marcada pela ampliação da jornada e pela exigência de múltiplas funções administrativas e burocráticas, dificulta a formação continuada dos professores. Essa sobrecarga compromete o tempo necessário para estudo, planejamento e reflexão sobre a prática docente, inviabilizando a construção de saberes pedagógicos mais consistentes (Tardif, 2002). A precarização não afeta apenas as condições materiais, mas também os processos formativos e identitários do professor.
Outro aspecto crítico é o impacto da precarização sobre a saúde mental dos docentes. A pressão constante, o medo da instabilidade e a falta de reconhecimento social e institucional geram estresse, ansiedade e adoecimento psíquico (Frigotto, 2017). Em um ambiente de trabalho hostil e inseguro, torna-se difícil sustentar práticas pedagógicas inovadoras ou manter o entusiasmo necessário para a produção e troca de saberes no espaço escolar. (Menezes, 2019)
Nesse cenário, Horn e Machado (2018) argumentam que os saberes docentes são fragmentados e descontextualizados, uma vez que a formação do professor passa a ser vista sob uma ótica instrumental, focada na aquisição de competências técnicas em detrimento da formação humanista e crítica. A escola, por sua vez, é convertida em um espaço de reprodução de conteúdos padronizados, esvaziando-se de seu potencial emancipador (Nóvoa, 2009). O conhecimento perde sua dimensão social e cultural, sendo reduzido a mercadoria submetida às demandas do mercado.
A ausência de políticas públicas voltadas para a valorização docente aprofunda ainda mais o problema. A falta de investimentos em infraestrutura, formação e carreira impede que o professor atue com dignidade e profissionalismo. A educação, ao invés de ser um direito social, passa a ser tratada como um serviço, onde o professor é apenas um prestador, e não um intelectual comprometido com a formação crítica dos sujeitos (Saviani, 2007).
Frente a esse panorama, é fundamental resgatar a centralidade do docente como produtor de saberes e protagonista do processo educativo. Isso requer a reconstrução de políticas que garantam condições dignas de trabalho, formação continuada de qualidade, valorização salarial e reconhecimento social da docência como profissão essencial à cidadania e à democracia (Cardoso; Delpino; Dorneles, 2012). O enfrentamento da precarização não é apenas uma pauta corporativa, mas um imperativo ético e político em defesa da educação pública. (Horn; Machado, 2018)
Portanto, os impactos da precarização do trabalho docente nos saberes não podem ser subestimados. Eles comprometem a qualidade da educação, a formação integral dos estudantes e a própria função social da escola. É urgente reverter esse processo e construir coletivamente uma nova valorização da docência, que reconheça o saber docente como elemento central para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
A PRÁTICA DOCENTE COMO ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO E RESSIGNIFICAÇÃO DOS SABERES
A prática docente vai muito além da simples transmissão de conteúdos. Ela se configura como um espaço dinâmico, dialógico e reflexivo, onde o professor constroi, reconstrói e ressignifica saberes a partir de sua experiência cotidiana em sala de aula. Nesse contexto, o fazer pedagógico é permeado por interações sociais, desafios contextuais e aprendizagens contínuas, que contribuem significativamente para o desenvolvimento profissional do educador.
Segundo Tardif (2002), os saberes docentes não são homogêneos nem originados unicamente na formação inicial. Eles se constituem a partir da vivência, da prática e das trocas culturais no ambiente escolar. Esses saberes são múltiplos, sendo construídos na intersecção entre conhecimento acadêmico, experiências pessoais e o contexto social e institucional em que o professor está inserido. Assim, a prática pedagógica torna-se um lócus privilegiado para a reelaboração desses conhecimentos.
A formação contínua do professor, ancorada em sua prática, é essencial para que ele possa adaptar-se às demandas contemporâneas da educação. Gauthier (2006) argumenta que o profissional reflexivo é aquele que aprende com a ação, por meio da reflexão na ação e sobre a ação. Essa postura possibilita que o docente reveja estratégias, compreenda os resultados de sua atuação e desenvolva novos modos de ensinar, o que evidencia a prática como um espaço formativo.
É muito pertinente conceber o ensino como a mobilização de vários saberes que formam uma espécie de reservatório no qual o professor se abastece para responder a exigências específicas de sua situação concreta de ensino (Gauthier et al., 2006, p. 28).
O cotidiano escolar, com seus desafios e imprevisibilidades, exige do professor uma postura investigativa. A prática docente, nesse sentido, torna-se também um campo de pesquisa, onde o professor atua como um pesquisador de sua própria realidade. Para Moran (2015), essa perspectiva contribui para a valorização do conhecimento prático, rompendo com a hierarquia tradicional entre teoria e prática, e promovendo a emancipação intelectual do educador.
Tardif (2012) afirma que:
Diante dessa situação, os saberes experienciais surgem como núcleo vital do saber docente, núcleo a partir do qual os professores tentam transformar as suas relações de exterioridade com os saberes em relações de interioridade com sua própria prática. Nesse sentido, os saberes experienciais não são saberes como os demais; são, ao contrário, formados de todos os demais, mas retraduzidos polidos e submetidos às certezas construídas na prática e na experiência (p. 54).
Além disso, a ressignificação dos saberes na prática está intimamente relacionada com a mediação das relações interpessoais na escola. O diálogo com os estudantes, os colegas de profissão, a gestão escolar e a comunidade favorecem a construção coletiva de sentidos e significados, fortalecendo a identidade docente. Freire (1996) enfatiza que ensinar exige escuta, humildade e abertura ao outro, sendo o ato educativo um processo dialógico por excelência.
De acordo com Teixeira (2018), a prática docente também é influenciada por políticas públicas, cultura institucional e recursos disponíveis, o que implica em uma constante necessidade de adaptação e reinvenção por parte do professor. Nesse cenário, a flexibilidade, a criatividade e o compromisso ético tornam-se competências indispensáveis para ressignificar os saberes frente às exigências e transformações sociais e educacionais.
Compreender a prática docente como espaço de construção e ressignificação de saberes implica reconhecê-la como um processo formativo permanente, que se alimenta da experiência, da reflexão e da interação. Isso demanda políticas de valorização do magistério que considerem o professor como sujeito ativo de sua formação, e não apenas como receptor de conhecimentos teóricos. (Menezes, 2019)
Portanto, é necessário fomentar práticas pedagógicas que promovam a autonomia, a colaboração e a inovação. Ao considerar a docência como prática social situada, compreendemos que os saberes docentes se constroem no diálogo entre teoria e prática, entre o vivido e o pensado, entre o individual e o coletivo. É nesse movimento constante que o educador se constitui como sujeito de saberes e agente de transformação social.
O IMPACTO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NOS SABERES DOCENTES
A inserção das tecnologias digitais no ambiente educacional tem provocado transformações significativas nos saberes docentes, exigindo novas competências e reformulações nos modos tradicionais de ensinar. A era digital impõe desafios e oportunidades aos professores, que precisam não apenas dominar conteúdos específicos de sua área, mas também saber utilizá-los em articulação com ferramentas tecnológicas. Dessa forma, os saberes docentes, que já compreendiam dimensões pedagógicas, curriculares e experienciais, passam a incorporar também o saber tecnológico.
Segundo Tardif (2014), os saberes docentes são construções sociais resultantes das experiências, formações e práticas dos professores. Nesse sentido, as tecnologias digitais atuam como mediadoras na construção de novos saberes, na medida em que modificam as práticas pedagógicas e as formas de interação em sala de aula. O professor deixa de ser apenas transmissor de conhecimento e passa a desempenhar o papel de mediador, facilitador e designer de experiências de aprendizagem mediadas por tecnologia. (Lalueza; Crespo; Camps, 2010)
Com o uso de ambientes virtuais de aprendizagem, plataformas educacionais, recursos multimídia e ferramentas interativas, a didática se amplia e se transforma. Os professores precisam dominar não apenas o conteúdo, mas também estratégias pedagógicas que envolvem o uso eficaz dessas tecnologias. Isso exige formação continuada e um olhar crítico sobre as implicações do uso da tecnologia no processo de ensino-aprendizagem (Moran, 2015).
No entanto, a integração das tecnologias digitais à prática docente não ocorre de forma homogênea. Muitos professores enfrentam barreiras como a falta de infraestrutura, resistência à mudança, ausência de formação adequada e políticas públicas insuficientes. Além disso, há um descompasso entre a rapidez com que as tecnologias evoluem e a velocidade com que os sistemas educacionais se adaptam a essas mudanças (Kenski, 2012).
A formação docente, portanto, precisa considerar a integração das tecnologias de maneira crítica e reflexiva. Não basta o domínio técnico das ferramentas digitais; é necessário compreender os impactos sociais, culturais e pedagógicos que elas trazem para o contexto escolar. A abordagem tecnopedagógica se torna fundamental para promover uma educação significativa e contextualizada no século XXI (Pretto; Macedo, 2011).
Além disso, os saberes docentes contemporâneos requerem habilidades socioemocionais, colaborativas e investigativas, que são potencializadas pelo uso das tecnologias. O trabalho colaborativo em redes, a produção de conteúdo digital e a personalização do ensino são práticas cada vez mais presentes e valorizadas, exigindo do professor uma postura ativa e flexível diante das mudanças (Valente, 2013).
Em síntese, o impacto das tecnologias digitais nos saberes docentes é profundo e multifacetado. Ele exige repensar a formação, a prática e a identidade profissional dos professores. O desafio está em construir uma cultura pedagógica que valorize a inovação, a autonomia e o protagonismo docente, alinhada às demandas de uma sociedade em constante transformação digital.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A construção dos saberes docentes é um processo dinâmico, complexo e fortemente influenciado pelas políticas educacionais vigentes. Essas políticas moldam os currículos, os programas de formação inicial e continuada, além das diretrizes que regem a prática pedagógica. Quando orientadas por uma perspectiva tecnicista ou meramente burocrática, podem limitar a autonomia docente e enfraquecer o desenvolvimento crítico e reflexivo dos professores. Por outro lado, políticas inclusivas e formativas tendem a valorizar a experiência do professor, ampliando suas possibilidades de atuação e de construção do conhecimento.
Outro fator determinante é a precarização do trabalho docente, que impacta diretamente a qualidade da formação e a consolidação dos saberes. Salários defasados, jornadas exaustivas, múltiplos vínculos empregatícios e a ausência de condições adequadas de trabalho são elementos que comprometem o tempo e a energia necessários para o estudo, a reflexão e a elaboração de práticas pedagógicas significativas. Assim, a construção dos saberes docentes acaba sendo interrompida ou enfraquecida, afetando diretamente o desempenho profissional e o processo de ensino-aprendizagem.
No entanto, mesmo diante das adversidades, a prática docente configura-se como um espaço potente de construção e ressignificação dos saberes. O cotidiano da sala de aula, com seus desafios e particularidades, oferece oportunidades concretas de aprendizagem profissional. É no confronto com a realidade escolar, nas trocas com os colegas e na escuta dos estudantes que os professores reelaboram constantemente seus conhecimentos, adaptando teorias às práticas e criando novas estratégias pedagógicas. A experiência prática, portanto, torna-se uma fonte legítima e fundamental na formação docente.
As tecnologias digitais, por sua vez, têm provocado mudanças significativas no modo como os saberes docentes são construídos e aplicados. A incorporação de recursos tecnológicos ao processo de ensino exige do professor não apenas domínio técnico, mas também uma compreensão crítica sobre seu uso pedagógico. A cultura digital amplia o acesso à informação e possibilita novas formas de interação e aprendizagem, mas também impõe desafios relacionados à curadoria do conhecimento, à mediação didática e à formação continuada dos educadores.
Dessa forma, os saberes docentes precisam ser compreendidos como construções coletivas, históricas e situadas, que vão muito além do conhecimento técnico ou teórico adquirido em cursos formais. Eles envolvem a articulação entre teoria e prática, saberes experienciais, éticos, culturais e afetivos. A valorização desse caráter multifacetado é essencial para promover uma formação docente que seja, ao mesmo tempo, crítica, sensível às realidades escolares e comprometida com a transformação social.
Em síntese, os desafios enfrentados na construção dos saberes docentes revelam a necessidade de políticas públicas que valorizem a profissão, garantam condições dignas de trabalho e promovam uma formação continuada que respeite a complexidade da prática docente. Cabe à sociedade e aos gestores educacionais reconhecer que o professor não é apenas um transmissor de conteúdos, mas um sujeito que produz saberes, constrói sentidos e desempenha papel central na formação cidadã e no desenvolvimento humano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, Karlane Holanda. O Prêmio Escola Nota Dez e suas implicações à subjetividade das crianças do 2º ano do ensino fundamental do estado do Ceará. 2020. 237f. Tese retirar o azul e o sublinhado 132 (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2020. Disponível em: http ://repositorio .ufc .br /handle /riufc /52316. Acesso em: 12 de fevereiro de 2025.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.
CARDOSO, A. A.; DEL PINO, M. A. B.; DORNELES, C. L. Os saberes profissionais dos professores na perspectiva de Tardif e Gauhier: contribuições para o campo de pesquisa sobre os saberes docentes no brasil. In: IX ANPED SUL Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul, Caxias do Sul, 2012. Acesso em: 15 de fevereiro de 2025
CUNHA, M. I. Formação de professores em tempos complexos: perspectivas conceituais e processos em tensão. In: Jornadas Transandinas de Aprendizagem: Ensinar e Aprender num mundo complexo e intercultural. Acta. Frederico Westphalen: URI/FW, p. 91-105, 2011. Acesso em: 25 de fevereiro de 2025
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FRIGOTTO, Gaudêncio. A educação e a crise do capital: uma análise da atual conjuntura. São Paulo: Cortez, 2017.
GATTI, Bernardete A. Formação de professores: condição para uma escola de qualidade. Revista Brasileira de Educação, v. 14, n. 40, p. 160-169, 2009.
GAUTHIER, Clermont. Et al. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o saber docente. 2ª ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2006.
HORN, Geraldo Balduino; MACHADO, Alexsander. A reforma do ensino médio no discurso neoliberal da liberdade e da qualidade da educação. Jornal de Políticas Educacionais, v. 12, n. 24, 2018, p. 1-22. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/jpe/article/view/61057 Acesso: 14 de março de 2025.
KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 6. ed. Campinas: Papirus, 2012.
LALUEZA, José Luis; CRESPO, Isabel; CAMPS, Silvia. As tecnologias da informação e da comunicação e os processos de desenvolvimento e socialização. In: COLL, César; MONEREO, Charles. Psicologia da educação virtual: aprender e ensinar com as tecnologias da informação e da comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 47-65. Acesso em: 20 de março de 2025.
MENEZES, Hermeson Claudio Mendonça. Estado gerencial e avaliador: os des(caminhos) da democracia e a preservação do establishment. 2019. 166 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Programa de PósGraduação em Educação, Fortaleza, 2019. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/handle/riufc/47829. Acesso em: 25 de fevereiro de 2025.
MORAN, José Manuel. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. 4. ed. Campinas: Papirus, 2015.
NÓVOA, António. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa: Educa, 2009.
OLIVEIRA, Dalila Andrade. Trabalho docente e precarização: uma leitura crítica. Belo Horizonte: Autêntica, 2019.
PRETTO, Nelson De Luca; MACEDO, José. Tecnologia e formação de professores: uma articulação necessária. Salvador: EDUFBA, 2011.
SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2007.
SOARES, Lucas de Vasconcelos; COLARES, Maria Lília Imbiriba Sousa. Avaliação educacional ou política de resultados? Educação & Formação, Fortaleza, v. 5, n. 15, set./dez. 2020, p. 1-24. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/redufor/article/view/2951 Acesso: 03 de abril de 2025.
TEIXEIRA, Valéria Resende. Políticas públicas na educação brasileira: formação de professores e a condição do trabalho docente / Organização Atena Editora. 241 p. – (Políticas Públicas na Educação Brasileira; v. 8) – Capítulo XV – Profissão docente e síndrome de Burnout: adoecimento e perca de sentido. Ponta Grossa (PR): Atena Editora, 2018.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 19. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
VALENTE, José Armando. Tecnologia na escola: a teoria na prática. Campinas: Unicamp/NIED, 2013.
Área do Conhecimento
Submeta seu artigo e amplie o impacto de suas pesquisas com visibilidade internacional e reconhecimento acadêmico garantidos.