As influências da cultura digital na prática docente: Desafios e possibilidades

THE INFLUENCE OF DIGITAL CULTURE ON TEACHING PRACTICE: CHALLENGES AND POSSIBILITIES

LA INFLUENCIA DE LA CULTURA DIGITAL EN LA PRÁCTICA DOCENTE: RETOS Y POSIBILIDADES

Autor

Wellington Gomes de Souza
ORIENTADOR
Prof. Dr. Rafael Ferreira de Souza

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/D47DE2

DOI

Souza, Wellington Gomes de . As influências da cultura digital na prática docente: Desafios e possibilidades. International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

A cultura digital diz respeito ao conjunto de hábitos, atitudes e crenças que orbitam em torno da utilização de tecnologias digitais no dia a dia. Isso abrange a criação, a troca e o consumo de conteúdos digitais, bem como as interações na internet e a utilização de dispositivos como computadores, celulares e redes sociais. Esse fenômeno se destaca pela velocidade das inovações tecnológicas, pela capacidade de conexão em escala global e pela ampliação do acesso à informação. Na área da educação, a cultura digital vai além de simplesmente refletir a utilização das tecnologias; ela serve como um meio de inovar as abordagens de ensino e as interações entre educadores e estudantes. A implementação de ferramentas digitais, como plataformas de aprendizado virtual, mídias sociais, aplicativos voltados para educação, vídeos e materiais multimídia, altera a dinâmica do ensino e da aprendizagem, proporcionando novas possibilidades de interação e cooperação
Palavras-chave
Cultura Digital. tecnologias. educação. mídias sociais.

Summary

Digital culture refers to the set of habits, attitudes and beliefs that revolve around the use of digital technologies in everyday life. This includes the creation, exchange and consumption of digital content, as well as interactions on the internet and the use of devices such as computers, cell phones and social networks. This phenomenon stands out due to the speed of technological innovations, the capacity for connection on a global scale and the expansion of access to information. In the area of ​​education, digital culture goes beyond simply reflecting the use of technologies; It serves as a means of innovating teaching approaches and interactions between educators and students. The implementation of digital tools, such as virtual learning platforms, social media, education-oriented applications, videos and multimedia materials, changes the dynamics of teaching and learning, providing new possibilities for interaction and cooperation.
Keywords
Digital Culture. technologies. education. social media.

Resumen

La cultura digital se refiere al conjunto de hábitos, actitudes y creencias que giran en torno al uso de las tecnologías digitales en la vida cotidiana. Esto incluye la creación, el intercambio y el consumo de contenidos digitales, así como las interacciones en internet y el uso de dispositivos como computadoras, teléfonos celulares y redes sociales. Este fenómeno se destaca por la velocidad de las innovaciones tecnológicas, la capacidad de conexión a escala global y la expansión del acceso a la información. En el ámbito de la educación, la cultura digital va más allá de simplemente reflejar el uso de las tecnologías; Sirve como un medio para innovar los enfoques de enseñanza y las interacciones entre educadores y estudiantes. La implementación de herramientas digitales, como plataformas virtuales de aprendizaje, redes sociales, aplicaciones orientadas a la educación, videos y materiales multimedia, cambia la dinámica de la enseñanza y el aprendizaje, brindando nuevas posibilidades de interacción y cooperación.
Palavras-clave
Cultura digital. tecnologías. educación. redes sociales

INTRODUÇÃO

A cultura digital, caracterizada pela presença constante das tecnologias da informação e comunicação (TICs), tem exercido uma influência profunda e abrangente sobre a educação. A crescente adoção de dispositivos móveis, redes sociais, plataformas de ensino online e diversos recursos digitais no dia a dia dos estudantes alterou a forma como se dá o ensino, obrigando os educadores a se adaptarem a um novo contexto educacional. Nesse cenário, as responsabilidades do professor se expandiram, demandando não apenas conhecimento do conteúdo, mas também a habilidade de empregar as tecnologias para facilitar e enriquecer o processo de aprendizado. Entretanto, a integração da cultura digital na educação apresenta desafios consideráveis, que necessitam ser investigados e compreendidos.

O propósito deste estudo é analisar como a cultura digital impacta a atuação dos educadores, ressaltando os obstáculos que eles encontram e as chances que as tecnologias proporcionam para aprimorar a educação. A investigação será realizada por meio de uma revisão da literatura e de casos práticos, focando nas metodologias digitais que podem ser utilizadas no ambiente escolar.

A cultura digital refere-se a um conjunto de hábitos, atitudes e princípios que estão ligados à utilização das tecnologias digitais na vida diária das pessoas. Ferramentas como a internet, redes sociais, dispositivos móveis e plataformas digitais mudaram a forma como a sociedade se comunica, troca informações e consome conteúdo. No âmbito educacional, a cultura digital facilita o acesso ao conhecimento para um maior número de pessoas, ao mesmo tempo que demanda abordagens inovadoras para o ensino e a aprendizagem.

No setor da educação, a dinâmica entre ensino e aprendizagem é atualmente observada com clareza e um consenso entre estudantes e educadores acerca da importância de incorporar novos recursos que promovam uma interação mais eficaz, além de aprimorar a capacidade do aluno de assimilar o conhecimento.

A introdução das mídias digitais na educação formal questiona os modelos tradicionais de ensino que até então estavam consolidados. Esses modelos costumavam girar em torno do professor, que era visto como o único portador do conhecimento a ser transmitido aos alunos, que por sua vez, eram avaliados quanto à capacidade de aprender. Entretanto, a adoção de novas abordagens metodológicas, especialmente aquelas que utilizam tecnologias modernas, facilita o processo de ensino e aprendizagem e, simultaneamente, incentiva a interação entre os estudantes e os dispositivos tecnológicos fora da sala de aula. Incorporar essa realidade ao ambiente escolar significa compartilhar experiências, formulando hipóteses para resolver atividades em computadores, explorando e procurando novas técnicas didáticas que promovam o aprendizado online. Isso promove, portanto, uma reestruturação dos currículos e destaca a necessidade de reinventar a função do professor no ensino.

AS INFLUÊNCIA DA CULTURA DIGITAL NA PRÁTICA DOCENTE: DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Discutir sobre tecnologia envolve considerar as maneiras como compreendemos e aplicamos as inovações que foram criadas, desenvolvidas e utilizadas para propósitos específicos. Portanto, não se trata apenas de reconhecer a existência de uma técnica qualquer e observar seu emprego imediato, pois isso revela como nos apropriamos do que é inventado e oferecido em nosso dia a dia. Historicamente, diversas tecnologias foram empregadas na educação, e sua identificação não requer grande esforço. Muitas vezes, na prática pedagógica, diferentes tecnologias são utilizadas simultaneamente. Nesse contexto, é fundamental reconhecer suas aplicações e tendências no cotidiano. Hoje em dia, as tecnologias digitais predominam neste cenário tecnológico, subordinando as outras ou limitando seu alcance, moldando assim a configuração social. Contudo, para que a educação se entrelace com a tecnologia e promova a inclusão digital, Rondelli (2007) enfatiza que:

A inclusão digital não é somente oferecer computadores, pois isso seria o mesmo que dizer que salas de aula, cadeiras e quadro negro garantiriam a escolarização e aprendizado dos alunos. É preciso que se tenha objetivos claros com o uso destas máquinas, tendo assim, a inteligência profissional dos professores e as diretrizes de conhecimento como guia para se chegar a tais resultados esperados.

Contudo, o computador continua a ser uma ferramenta que suscita incertezas, controvérsias e críticas quando empregado para fins educacionais. Assim, a capacitação dos professores para atender às novas demandas educacionais, especialmente relacionadas ao uso da tecnologia na educação, é fundamental. De acordo com Perrenoud (2006), esse processo de formação deve incentivar o desenvolvimento do senso crítico, da observação e da pesquisa, além de habilidades para imaginar, recordar e categorizar as leituras, que são essenciais para as práticas e estratégias de comunicação.

Portanto, é fundamental que esses professores estejam adequadamente preparados para proporcionar uma formação de qualidade aos estudantes, que estão cada vez mais imersos em tecnologias como smartphones Android, iPods, notebooks, sistemas de GPS, DVDs e outros dispositivos. Isso permite que o educador possa aprimorar suas habilidades, sejam elas críticas, reflexivas ou criativas (Dias, 2008).

Assim, discutir a integração de tecnologias na educação envolve considerar tanto os dispositivos utilizados quanto os softwares que os operam. Há um aumento na utilização de projetores multimídia, computadores com acesso à internet e, em certos casos, até mesmo smartphones. Surge também a diversidade de plataformas virtuais de aprendizado, blogs e redes sociais de comunicação. Esse cenário se manifesta em práticas específicas, como aulas interativas, projetos temáticos e o trabalho com conteúdos direcionados. São empregados laboratórios, salas especializadas e as tradicionais salas de aula.

O progresso tecnológico desempenha um papel fundamental na transformação sociocultural, mas é a sociedade que possibilita essa evolução, apoiando as inovações. A tecnologia, por sua vez, não possui autonomia, pois é utilizada pelo ser humano dentro das interações entre cultura, tecnologia, sociedade e educação. Portanto, essa nova configuração gera mudanças significativas na forma como concebemos a prática pedagógica, especialmente a atuação dos educadores, que é constantemente reinterpretada e até reinventada com a introdução de cada nova tecnologia no setor educacional. Segundo Akagi (2008), novas modalidades de comunicação e interação estão sendo criadas através das redes eletrônicas e das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), permitindo a troca de informações entre grupos e a colaboração mútua, independentemente das barreiras de distância e tempo. Além disso, essas tecnologias emergentes oferecem a vantagem de armazenar grandes volumes de dados, facilitando o acesso à informação, que pode ser utilizada, por exemplo, no processo de ensino-aprendizagem, contribuindo para a construção do conhecimento.

Entre as diversas inovações que marcaram a evolução da humanidade, as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) englobam os instrumentos que facilitam a troca de informações por meio de diferentes canais. Esses instrumentos incluem dispositivos eletrônicos que surgiram no final do século XX, como rádio, televisão, gravadores de áudio e vídeo, além de tecnologias móveis sem fio (TMSF) como multimídias, redes telemáticas, robótica, celulares, MP3 players, assistentes digitais pessoais (PDAs) e notebooks. Esses recursos têm sido alvo de inúmeras investigações acadêmicas devido às novas possibilidades que oferecem no processo de ensino e aprendizagem, especialmente em formatos online. A capacidade de alunos em locais geográficos distintos interagirem em tempos variados representa uma importante vantagem para a educação mediada por tecnologias (LIGUORI, 1997). Os autores mencionados destacam que o espaço criado por essas novas tecnologias não é uma suposição acerca da condição humana, da cultura, da sociedade, da educação e da vida.

Durante a pandemia global, Andrade e Cardozo (2023, p. 4) enfatizam que “Devido à tragédia mundial gerada pela COVID-19, juntamente com as instabilidades administrativas no país, os sinais que indicavam a entrada e saída de estudantes e professores nas comunidades foram silenciados”. O papel das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) nas escolas tornou-se evidente com a crise provocada pelo SARS-CoV-2, levando as instituições de ensino a implementarem o ensino remoto, utilizando diversas ferramentas tecnológicas. Esses recursos foram fundamentais para a disseminação de conhecimento entre os alunos e para a continuidade da interação entre professores e estudantes durante o processo educativo. Esse período desafiador forçou os educadores a desenvolverem novas competências tecnológicas para atender às demandas emergentes da educação, cumprindo assim sua função social de preparar os alunos para os desafios da vida. Os professores enfrentaram com bravura esse novo momento na história.

A pesquisa intitulada “Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) e o Processo de Ensino” (Schuarz; Sarmento, 2020) evidenciou várias falhas em relação à integração de conhecimentos digitais na formação de educadores. Entre os principais obstáculos identificados estão a falta de incentivos que promovam a aquisição de habilidades digitais, a escassez de apoio técnico e pedagógico nas instituições de ensino, a resistência dos professores, a utilização limitada de ferramentas tecnológicas no processo de ensino e aprendizagem, além de um conhecimento geral ou básico sobre o uso de computadores. Em relação à formação docente, é importante destacar a carência nas propostas curriculares no que tange à inclusão de dispositivos tecnológicos. Os currículos da Educação Superior costumam adotar uma abordagem tradicional na capacitação de professores. Não se questiona a relevância dos aspectos tradicionais na educação, porém, em uma sociedade marcada pela presença das TDICs, é insustentável imaginar a formação de educadores sem que haja um desenvolvimento das competências necessárias para atuar em um ambiente social repleto de inovações tecnológicas.

Dessa forma, destaca-se a “falta de um incentivo que favoreça essa apropriação ao longo da formação, assim como a carência de apoio técnico e pedagógico nos contextos educacionais” (Schuarz; Sarmento, 2020, p. 430). É essencial reconsiderar os modelos de formação, facilitando a adequada integração das tecnologias digitais de informação e comunicação na formação de professores, com o objetivo de preparar os educadores para um cenário educacional atual, que está sempre em transformação.

Outro obstáculo apresentado por essas tecnologias é a colaboração no trabalho, pois o universo digital amplifica consideravelmente a cooperação. No entanto, isso não ocorre de maneira automática ou intuitiva. É necessário implementar práticas que favoreçam mais o trabalho em equipe e a troca na criação do conhecimento. Segundo Ferreira (1998), há algumas premissas fundamentais, segundo Piaget, que precisam ser consideradas se quisermos estabelecer um “ambiente virtual construtivista”. Dentre elas, destaca-se a necessidade de que o ambiente possibilite, e até imponha, uma interação intensa entre o aprendiz e o objeto de estudo. Essa interação deve ir além, conectando o objeto de estudo à realidade do indivíduo, considerando suas condições, de modo a incentivá-lo e desafiá-lo, enquanto permite que novas situações criadas sejam ajustadas às estruturas cognitivas já existentes, favorecendo seu desenvolvimento.

De acordo com Masetto (2013 apud Oliveira; Silva, 2022, p. 9), é essencial que o educador se familiarize com as novas tecnologias, seja capaz de utilizá-las e compreendê-las, a fim de planejar um processo de ensino e aprendizagem que seja mais envolvente e dinâmico para seus alunos. O professor, atuando como mediador na formação, deve criar ambientes que favoreçam a construção do conhecimento dos alunos por meio de estratégias pedagógicas modernas, que estimulem a curiosidade, o interesse, a criatividade, o pensamento crítico e a autonomia, habilidades necessárias para enfrentar os desafios sociais que requerem uma compreensão e domínio das tecnologias digitais para serem resolvidos. No entanto, para que isso aconteça, é fundamental que o educador reavalie suas abordagens de ensino, seja receptivo a mudanças, inove nas metodologias e utilize as ferramentas tecnológicas em sua prática educativa. Um aspecto relevante a ser considerado, conforme Akagi (2008), é que qualquer espaço de ensino-aprendizagem precisa possibilitar uma variedade de estratégias de aprendizado. Isso é essencial não apenas para abranger o maior número possível de pessoas que, indubitavelmente, utilizarão abordagens distintas, mas também porque as táticas empregadas individualmente podem divergir em função de fatores como interesse, familiaridade com o tema, organização dos conteúdos, motivação e criatividade, entre outros. Ademais, o ambiente deve favorecer uma aprendizagem que seja colaborativa, interativa e autônoma.

Os autores Carneiro, Figueiredo e Ladeira(2020) “A importância das tecnologias digitais e seus desafios na formação docente”, destacaram dois desafios significativos: a insuficiência de investimentos na educação e a formação dos docentes. Analisemos alguns documentos legais que regulam a formação de professores. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394/96, no artigo 62, inciso 1º, estabelece que “A União, o Distrito, os Estados e os Municípios, em regime de colaboração, promoverão a formação inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais de magistério” (Brasil, 1996). A LDB 9.394/96 apresenta a responsabilidade das entidades políticas brasileiras em cooperar na formação e capacitação dos professores, garantindo que estes se apropriem dos conhecimentos e metodologias de ensino contemporâneas, favorecendo assim o aprendizado dos alunos (Brasil, 1996).

Promover e estimular a formação e continuada de professores (as) para a alfabetização de crianças, com o conhecimento de novas tecnologias educacionais e práticas pedagógicas inovadoras, estimulando a articulação entre os programas de pós-graduação stricto sensu e ações de formação continuada de professores (a) para a alfabetização (Brasil, 2014, p. 6).

O documento mencionado estabelece a necessidade de formação e desenvolvimento profissional dos educadores, a fim de que possam dominar novas tecnologias educacionais e metodologias inovadoras a serem incorporadas ao currículo e ao planejamento escolar. O intuito é facilitar a familiarização dos alunos com tecnologias, aprimorar seu letramento digital e promover sua autonomia na geração de novos saberes. A Base Nacional Curricular Comum define, na competência geral 5:

Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar de disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva (Brasil, 2018, p. 9)

A meta 5 da BNCC (Brasil, 2018) destaca a relevância e a necessidade crescente de integrar as tecnologias digitais de informação e comunicação na educação dos alunos. Isso visa capacitá-los a adquirir as habilidades e competências essenciais para entender o funcionamento dos computadores, utilizando essas ferramentas de maneira ética e responsável ao lidar com dados e informações digitais. Além disso, prepara-os para resolver problemas que beneficiem tanto a si mesmos quanto aos outros. Ao criar um ambiente que incorpora tecnologias, o educador amplia as possibilidades de transformação no ambiente escolar, implementando práticas inovadoras que apresentam o conteúdo de forma diferenciada e estimulam a autonomia dos alunos na construção de seu próprio conhecimento.

Lamentavelmente, a ausência de uma política pública dedicada à educação impede a realização das metas estipuladas no PNE e, especialmente, a inclusão dos alunos na cultura digital. Atualmente, o acesso à internet é restrito a um número limitado de pessoas, afetando principalmente aqueles que vivem em áreas rurais. As legislações no Brasil preveem investimentos técnicos e financeiros para a formação e capacitação de educadores, a compra de recursos educacionais, a contratação de serviços de internet, entre outras despesas necessárias, para que a comunidade escolar utilize ferramentas tecnológicas a fim de explorar a cultura digital e estimular a criatividade, o pensamento crítico e a reflexão, reinterpretando os conhecimentos adquiridos com as novas informações disponíveis no ambiente virtual. Se todos os recursos destinados à educação fossem utilizados adequadamente, muitas dificuldades enfrentadas nas escolas seriam reduzidas, eliminando a necessidade de a comunidade escolar se mobilizar para organizar eventos como festinhas, vendas de sobremesas, sorteios, rifas, brechós e outras iniciativas criadas para arrecadar fundos que cobrissem despesas e adquirissem materiais administrativos e pedagógicos. É importante destacar que algumas iniciativas bem-sucedidas realizadas nas escolas são financiadas por seus idealizadores, e a quantidade dessas práticas poderia ser ampliada caso houvesse o suporte necessário nas instituições. Essa realidade desalentadora resulta em desinteresse e desmotivação de alguns educadores em buscar novas formas de ensinar, especialmente aquelas alinhadas aos modelos digitais contemporâneos. Outro ponto relevante é a carência de recursos enfrentada pelos alunos, já que muitas escolas têm acesso ao serviço de internet e a laboratórios de informática, enquanto outras dependem de “vaquinhas” organizadas pelos professores para financiar seu uso. As instituições que dispõem de laboratórios de informática sem conexão à internet, por não receberem manutenção regular, acabam perdendo essa infraestrutura, em desacordo com as exigências legais que definem a instalação de tais laboratórios nas escolas.

A instituição de ensino deve promover uma aproximação entre os alunos e o uso de aplicativos e outras ferramentas para facilitar o aprendizado dos conteúdos escolares. Para isso, o docente precisa estabelecer, em seu planejamento, quais são os objetivos a serem alcançados ao integrar um recurso tecnológico, alinhando-se aos interesses dos alunos, ao seu aprendizado e, principalmente, à sua formação integral. É importante destacar que, ao escolher os recursos, o professor deve levar em conta a realidade econômica da turma, especialmente se a escola não contar com um laboratório de informática e acesso à internet para a execução das atividades propostas, garantindo assim que todos os alunos possam participar de um processo de ensino e aprendizagem dinâmico.

A cooperação e a troca internacional surgem como chances únicas no cenário da cultura digital. Ferramentas de comunicação e plataformas na internet possibilitam que alunos e professores trabalhem juntos, ultrapassando limites geográficos. Segundo Santos (2023, p. 78), “a cultura digital no âmbito educacional proporciona oportunidades para experiências de aprendizagem que são genuinamente globais e multiculturais”.

A inserção da cultura digital na educação apresenta diversos obstáculos. A questão da exclusão digital é uma preocupação relevante, especialmente em nações com amplas diferenças socioeconômicas. Ferreira e colaboradores (2024, p. 90) ressaltam que “na ausência de políticas eficazes para a inclusão digital, a cultura digital no âmbito educacional pode agravar desigualdades em vez de suavizá-las”. Outro desafio importante é a capacitação dos educadores para esse novo cenário. Equipar as instituições de ensino com tecnologias avançadas não é suficiente; é essencial que os docentes sejam preparados para usar essas ferramentas de maneira pedagógica e eficiente. Costa (2022, p. 112) destaca que “a formação dos professores para a cultura digital deve transcender o mero treinamento técnico, priorizando o desenvolvimento de habilidades pedagógicas digitais”. Além disso, a cultura digital impõe desafios aos métodos de avaliação tradicionais. Competências valorizadas no ambiente digital, como criatividade, colaboração e pensamento crítico, muitas vezes não são facilmente quantificáveis pelos métodos de avaliação convencionais. Martins (2023, p. 134) propõe que “é fundamental reconsiderar os sistemas de avaliação para que eles reflitam de maneira adequada as competências adquiridas em um ambiente de aprendizado digital”.

A incorporação da cultura digital no ensino cria possibilidades para novas estratégias educacionais. Abordagens ativas, como o aprendizado orientado a projetos e a sala de aula invertida, são aprimoradas com a aplicação de tecnologias digitais. Rodrigues (2025, p. 178) destaca que “a cultura digital oferece um contexto propício para testarmos novas metodologias de ensino, tornando o processo de aprendizado mais dinâmico e envolvente”.

A inserção da cultura digital na educação tem o potencial de aumentar a inclusão de alunos com necessidades especiais de aprendizado. Ferramentas assistivas e plataformas customizadas proporcionam apoio específico para esses estudantes. Segundo Pereira (2023, p. 222), “ao ser adotada de maneira inclusiva, a cultura digital pode atuar como um potente nivelador de oportunidades educacionais”. Outro ponto relevante é o desenvolvimento de habilidades socioemocionais dentro do ambiente digital. A interação mediada por tecnologias apresenta novos desafios e oportunidades para aprimorar competências como empatia, comunicação eficaz e inteligência emocional. Souza (2022, p. 244) enfatiza que “a cultura digital na educação deve focar não apenas no crescimento cognitivo, mas também no aspecto socioemocional dos alunos”. Além disso, a cultura digital influencia a administração educacional, disponibilizando novas ferramentas para a análise de dados, a tomada de decisões e o acompanhamento do desempenho acadêmico. Oliveira (2025, p. 266) observa que “a incorporação de tecnologias de big data e analytics na gestão educacional pode resultar em uma alocação de recursos mais eficaz e em intervenções pedagógicas mais precisas e oportunas”. Por último, é fundamental entender que a cultura digital na educação é um fenômeno em contínua transformação. Tecnologias emergentes, como realidade virtual, inteligência artificial avançada e Internet das Coisas, têm o potencial de trazer inovações significativas para o campo educacional.

De acordo com Santos (2024, p. 288), “o que está por vir para a educação será determinado pela habilidade de incorporar e ajustar constantemente novas tecnologias, priorizando sempre o crescimento completo dos estudantes e a oferta de um aprendizado que tenha significado e pertinência no contexto atual”.

Em última análise, é possível perceber que o processo de apropriação tecnológica está se infiltrando no âmbito educacional, gerando transformações que podem ser mais ou menos relevantes dependendo da maneira como nós, educadores, a adotamos. Isso não deve ser visto apenas como ferramentas avançadas para uma nova prática pedagógica, mas também como elementos que podem redefinir o cenário educativo. Em uma obra de Libâneo (2003), encontramos fundamentos que respaldam essa função profissional, enfatizando que estagnar não é uma solução. O autor sugere que o educador deve assumir a postura de um novo profissional da educação, responsável por fornecer e organizar informações e conhecimentos pertinentes, oriundos de fontes que façam sentido para a realidade de seus alunos, uma vez que cada estudante possui características únicas.

Chega-se à conclusão de que a sociedade atual está cada vez mais ligada a uma cultura de informação fundamentada em dados acessíveis por meio da navegação em redes eletrônicas. Entretanto, é importante ressaltar que é responsabilidade do educador adotar uma atitude proativa, atuando como mediador do aprendizado e proporcionando abordagens críticas sobre a utilização da tecnologia digital, permitindo assim que o estudante ocupe o papel de sujeito ativo, e não apenas de espectador no ambiente virtual.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A era digital proporciona uma excelente chance de customizar o processo de aprendizagem. Recursos tecnológicos, como plataformas de ensino personalizadas e aplicativos pedagógicos, possibilitam que os alunos avancem em seu próprio ritmo, levando em consideração suas necessidades e competências específicas. Essa abordagem individualizada é fundamental para acomodar as diversas maneiras de aprender dos estudantes, oferecendo uma educação mais inclusiva e disponível para todos.

As tecnologias digitais democratizam o acesso à informação. A internet e as plataformas de educação online disponibilizam uma ampla gama de materiais educativos, incluindo vídeos, artigos, e-books, tutoriais e fóruns de debate. Esse acesso instantâneo e sem restrições ao conteúdo possibilita que os estudantes aprofundem seus conhecimentos, adquiram novas habilidades e investiguem assuntos de seu interesse, além de tornar o aprendizado autônomo mais acessível.

A era digital influência de maneira intensa a atuação dos professores, apresentando tanto obstáculos quanto possibilidades. De um lado, a demanda por capacitação constante, a disparidade no acesso às tecnologias e a quantidade excessiva de informações representam dificuldades importantes. Por outro lado, as oportunidades para individualizar o aprendizado, o aumento do acesso ao conhecimento, a formação de competências contemporâneas e a promoção de métodos ativos e colaborativos são aspectos essenciais para uma educação mais inovadora e acessível.

Para que os educadores possam tirar o máximo proveito das possibilidades apresentadas pela cultura digital, é essencial que haja um comprometimento com a capacitação profissional, implementação de tecnologia adequada e suporte das instituições. A incorporação da cultura digital deve ser encarada não como um fardo, mas sim como uma chance de revitalizar o ensino, oferecendo aos estudantes uma formação mais abrangente, envolvente e em sintonia com as demandas da sociedade atual.

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Referencias

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Acesso em: 2024-09-03.

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