A Educação na Era Digital – Percepções e Aprendizagem dos Nativos Digitais

EDUCATION IN THE DIGITAL AGE – PERCEPTIONS AND LEARNING OF DIGITAL NATIVES

EDUCACIÓN EN LA ERA DIGITAL – PERCEPCIONES Y APRENDIZAJE DE LOS NATIVOS DIGITALES

Autor

Marivaldo Duarte Maciel
ORIENTADOR
 Profª Drª Simone Aparecida Marendaz

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/EE589B

DOI

, . A Educação na Era Digital – Percepções e Aprendizagem dos Nativos Digitais. International Integralize Scientific. v 5, n 45, Março/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

Este artigo apresenta brevemente o cenário geracional e suas relações com a tecnologia, desde a Geração Baby Boomer até a Geração Beta. Procura entender o contexto destes nativos digitais, a intimidade prática e a sua peculiar liberdade com as novas tecnologias. Percebe a dinâmica das transformações causadas na sociedade pela era da informação e comunicação e seus impactos no processo educativo. Ressalta a influência da escola como instituição ativa na condução de ruptura da acomodação de pensamentos e da passividade social. Propõe uma educação contemporânea com a utilização de instrumentos digitais, com propostas escolares capazes de conduzir o estudante com suas expectativas de aprendizagem. Indica o entendimento das novas gerações sobre as mudanças oferecidas pela globalização e a necessidade de adequação do cenário educacional atual. Enxerga o professor como peça fundamental no progresso natural e evolutivo da aprendizagem. Discute as metodologias ativas no aproveitamento da curiosidade digital das novas gerações no despertar para o conhecimento, com estratégias inovadoras e criativas que ensinam a aprender e a ensinar. Este estudo traz em sua estrutura de pesquisa uma revisão bibliográfica, com o objetivo de analisar o contexto pedagógico vivenciado pelos alunos nativos digitais, a atribuição docente neste domínio de metodologias ativas capazes de atender às habilidades tecnológicas trazidas pelos estudantes para a sala de aula, priorizando a qualidade do ensino e da aprendizagem.
Palavras-chave
Nativos digitais. Impactos no processo educativo. Ruptura da acomodação de pensamentos e da passividade social. Metodologias ativas. Estratégias inovadoras e criativas.

Summary

This article briefly presents the generational scenario and its relationship with technology, from the Baby Boomer Generation to the Beta Generation. It seeks to understand the context of these digital natives, their practical intimacy and their peculiar freedom with new technologies. It perceives the dynamics of the transformations caused in society by the information and communication era and their impacts on the educational process. It highlights the influence of the school as an active institution in leading the break from the complacency of thoughts and social passivity. It proposes a contemporary education with the use of digital instruments, with school proposals capable of guiding the student with their learning expectations. It indicates the understanding of the new generations about the changes offered by globalization and the need to adapt the current educational scenario. It sees the teacher as a fundamental part in the natural and evolutionary progress of learning. It discusses active methodologies in taking advantage of the digital curiosity of the new generations in awakening them to knowledge, with innovative and creative strategies that teach how to learn and teach. This study includes a bibliographical review in its research structure, with the objective of analyzing the pedagogical context experienced by digital native students, the teaching assignment in this domain of active methodologies capable of meeting the technological skills brought by students to the classroom, prioritizing the quality of teaching and learning.
Keywords
Digital natives. Impacts on the educational process. Breaking the accommodation of thoughts and social passivity. Active methodologies. Innovative and creative strategies.

Resumen

Este artículo presenta brevemente el escenario generacional y sus relaciones con la tecnología, desde la Generación Baby Boomer hasta la Generación Beta. Se busca comprender el contexto de estos nativos digitales, su intimidad práctica y su peculiar libertad con las nuevas tecnologías. Comprender la dinámica de las transformaciones provocadas en la sociedad por la era de la información y la comunicación y sus impactos en el proceso educativo. Se destaca la influencia de la escuela como institución activa a la hora de propiciar una ruptura con la acomodación del pensamiento y la pasividad social. Propone una educación contemporánea utilizando instrumentos digitales, con propuestas escolares capaces de orientar a los estudiantes en sus expectativas de aprendizaje. Indica la comprensión de las nuevas generaciones sobre los cambios que ofrece la globalización y la necesidad de adaptarse al escenario educativo actual. Ve al docente como parte fundamental del progreso natural y evolutivo del aprendizaje. Discute metodologías activas para aprovechar la curiosidad digital de las nuevas generaciones para despertarlas al conocimiento, con estrategias innovadoras y creativas que enseñen a aprender y a enseñar. Este estudio incluye una revisión bibliográfica en su estructura de investigación, con el objetivo de analizar el contexto pedagógico vivido por los estudiantes nativos digitales, la tarea docente en este dominio de metodologías activas capaces de atender las competencias tecnológicas traídas por los estudiantes al aula, priorizando la calidad de la enseñanza y el aprendizaje.
Palavras-clave
Nativos digitales. Impactos en el proceso educativo. Romper la acomodación de los pensamientos y la pasividad social. Metodologías activas. Estrategias innovadoras y creativas.

INTRODUÇÃO

A sociedade moderna vivencia particularidades bem significativas que impactam na linguagem, identidade, comportamento e no modo de vida das pessoas por influência das novas tecnologias. Com isso, a convivência humana vai ficando cada vez integrada a dependência de novas habilidades para lidar com essa realidade e enquadrar-se a esse mundo globalizado. 

Esse movimento modernista exige de nós um certo consumismo digital atrelado a sua universalidade de comunicação e de informações que permitem um suporte que agrega praticidade, organização e produtividade em nossa rotina diária, impulsionando o movimento escolar para horizontes do aprender a aprender com traços que convergem para uma harmonia com as tecnologias ainda mais intensa e transformadora.  

A educação do futuro permite-nos aprender e ensinar para além dos limites físicos da escola e dos livros didáticos, redefine o contexto pedagógico ampliando suas possibilidades por estratégias inovadoras e metodologias ativas como instrumentos de libertação da autonomia e para o protagonismo social dos estudantes.

O processo educacional consiste em um ciclo evolutivo das transformações causadas pelas mudanças significativas que disseminam informações instantâneas e sinalizam um sentido sem volta. Os recursos de ensino utilizados pelos professores nesse processo, necessitam de novas habilidades e competências adaptadas a uma mentalidade inspiradora que personifique a nova dinâmica do conhecimento.

A essência das novas gerações é puramente digital e isso configura-se em um desafio inspirador para o nosso sistema de ensino, principalmente na medida em que traz possibilidades de um conceito de ensino-aprendizagem mais moderno e disruptivo. Neste sentido, cabe ao professor procurar se familiarizar com as novas exigências sociais e dominar seus novos instrumentos de trabalho.

Esta pesquisa foi realizada dentro de um estudo fundamentado por especialistas e estudiosos que contribuíram com esta revisão bibliográfica, permitindo analisar cientificamente o contexto de ensino-aprendizagem vivenciado por professores e estudantes na era digital. O objetivo deste estudo é analisar a utilização das tecnologias digitais pelo professor com metodologias ativas, criatividade e inovação, aproveitando as habilidades tecnológicas dos estudantes nas aulas, privilegiando a qualidade do ensino e da aprendizagem, enaltecendo a autonomia e o protagonismo do estudante.

OS ALUNOS NATIVOS DIGITAIS E O PAPEL DA ESCOLA NA ERA DA TECNOLOGIA

A nova paisagem social trazida pelo avanço das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) e pela internet, cristaliza o processo de adaptação pelo qual passa a educação. Essa evolução educacional histórica e disruptiva identifica a necessidade de apropriação de novas habilidades e competências no trato com os instrumentos digitais pelo professor para poder “ensinar” o aluno, este agora nativo digital, capaz de materializar com maestria e eficiência, o potencial tecnológico. Para Carrara (2020, p. 56), os “nativos digitais” são “aqueles nascidos após 1980 e que têm habilidade para usar as tecnologias digitais”.

Como forma de direcionamento de ideias e melhor compreensão do cenário geracional, suas características e relações com a tecnologia ao longo do tempo, temos a Geração Baby Boomer ou explosão de bebês (1946-1964), nascidos após a Segunda Guerra Mundial; a Geração X (1965-1979), expressão usada inicialmente por Robert Capa, que a via como uma geração desconhecida. Depois, o canadense Douglas Coupland, em seu livro Geração X – Contos para uma cultura acelerada (1991), relata a vida dos jovens nascidos entre 1970 e 1980.

Segundo Santana (2021), a Geração Y ou Millennials (1980-1990) já apresentava atributos tecnológicos e habilidades com múltiplas informações e relações com o mundo virtual, cresceu no universo globalizado e no rápido desenvolvimento da tecnologia, acostumados à comunicação instantânea e conectados à diversidade de mídias existente, abertos à atualização das novas tecnologias. Para ele, a geração subsequente, a Geração Z (a partir de 1991), também conhecida como “Geração Digital” / “Geração Online” / “Geração Conectada” ou “Geração Pontocom”, traz consigo o gosto pela navegação rápida e alternada nos ambientes virtuais. Por fim, temos a Geração Alpha (2013-2024) e a Geração Beta (2025-2039). Estes nativos digitais recebem várias informações ao mesmo tempo pelos seus dispositivos móveis e apresentam cada vez mais uma relação de familiaridade com estes recursos, imersos pela naturalidade eminentemente prática, curiosa e autodidata. 

 A incursão pela evolução das tecnologias traz aspectos contemporâneos e favoráveis ao contexto social e da escola, com reflexos que acompanham os anseios da globalização. A concepção de ensino e aprendizagem ganha uma aparência dinâmica, de mobilização e engajamento do aluno na condição de principal agente de sua aprendizagem, com aportes síncronos (tempo real e simultâneos) num sincronismo de ideias e de presença, diálogos e descobertas que ensinam, e assíncronos (sem acontecerem simultaneamente, ficando registrados), com conveniência de acesso em outro momento.

A mediação pedagógica coloca em evidência o papel de sujeito do aprendiz e o fortalece como protagonista de atividades que vão lhe permitir aprender a atingir seus objetivos, dando um novo colorido ao papel do professor e aos novos materiais e elementos com que ele deverá trabalhar para crescer e se desenvolver (MASETTO, 2013, p. 152). 

O homem de hoje apresenta uma identidade digital caracterizada por Gasser & Palfrey (2011, p. 27) apud Carrara (2020, p. 56) como “a identidade do Século XXI”. Neste sentido, segundo estes estudiosos, percebe-se uma espécie de confronto entre a identidade pessoal e social com as transformações da era da informação, surgindo situações além das necessidades básicas como vestir-se e alimentar-se, por exemplo, mas pautadas em informações advindas da internet.

Este novo modo de ser, agir e interagir “conectado” no meio social apropria-se de todos nós sem nenhuma cerimônia. A rapidez e a praticidade na realização dos nossos compromissos diários e obrigações básicas, permitidas pela diversificação de possibilidades tecnológicas e digitais, podem proporcionar fenômenos de interdependência que acomodam nossas atitudes pela contemplação das facilidades que trazem. A escola, como instituição ativa, deve procurar evitar essa acomodação de pensamentos e de ideias, sem deixar margem para reproduções alienadas que alimentam a passividade social.

É extremamente interessante levar à reflexão sobre a proposta de ensino que contemple essas novas gerações e o seu papel na sociedade. Segundo Cortelazzo et al. (2018, p. 17), “é preciso garantir que os estudantes tenham a autonomia necessária para que desenvolvam novos conhecimentos, competências, habilidades e a capacidade de responder aos avanços sociais e tecnológicos com iniciativa e projetos sustentáveis”. Como visto, a dimensão da educação ganha um contexto contemporâneo por vias de códigos e instrumentos digitais que influenciam nas propostas escolares e na autonomia da aprendizagem, trazendo um mundo de linguagens próprias e expectativas aos novos alunos e de desafios à escola.

Com a evolução da sociedade tecnológica, a escola passou a receber alunos acostumados a experimentar as novidades digitais desde muito cedo, dando-lhes habilidades práticas e capacidades que vagam pela sensação de liberdade e de uma vida paralela construída e controlada por eles e para eles, com comunicação própria, donos do tempo e do espaço. 

Basicamente eles já nasceram em meio a tecnologia. Jogos digitais e computador já existiam quando eles foram concebidos. Eles convivem excepcionalmente bem com a tecnologia e, o mais importante, gostam de utilizá-la. Participam de grupos, comunidades virtuais. Skype, Twitter, WhatsApp, Facebook e Instagram formam a base da comunicação com seus amigos (mesmo que eles estejam a apenas alguns passos de distância). Possuir inúmeras redes sociais e canal no YouTube para eles é fundamental e, por isso, seu tempo de foco é muito rápido e sua distração é frequente (CORTELAZZO et al., 2018, p. 60).

O cardápio de alternativas criadas pela vivência tecnológica dos alunos nativos digitais pede uma compreensão moderna e concepções atuais do professor sobre a amplitude destas ferramentas nos espaços de aprendizagem. Literalmente, as novas gerações acompanham a difusão das mudanças oferecidas pelo mundo globalizado e sabem, por convicção, a necessidade de adequação do professor, da escola e dos sistemas educacionais. 

O cenário parece desafiador para os docentes. Contudo, não interpretamos o termo “desafiador” como um problema ou ameaça à credencial do professor, pelo contrário, interpretamos como elemento de inspiração absoluta na busca pela qualificação profissional permanente, com sentimento de pertencimento ao progresso natural da educação e da humanidade. 

O estudante nativo digital vivencia experiências on-line capazes de consolidar/complementar seu aprendizado de sala de aula, podendo ressignificar o seu “no hall” previamente estruturado, abrindo espaço para análises, questionamentos e debates, influenciando positivamente no processo de construção do conhecimento. Para Moran (2013, p. 34), “aprender exige envolver-se, pesquisar, ir atrás, produzir novas sínteses, é fruto de descobertas”.

Essa participação ativa do aluno no processo pode estabelecer relações interpessoais saudáveis, gerando um ambiente de confiança e de autoconfiança, possibilitando a troca e a partilha de experiências, habilidades e saberes necessários. Assim, o processo ensino-aprendizagem é uma obra que necessita ser planejada e executada com o envolvimento pleno de estudantes e professores – seus coautores; refletindo e dialogando em cada etapa com inteligência coletiva, promovendo a integração e a harmonia participativa. Para Gadotti (2023, p. 38), “ao contrário, na visão autoritária, que nega o outro, e na visão liberal, que apenas tolera o outro, o outro é sempre considerado como um objeto da educação, seja para domesticar, seja para moldar”.

Os estudantes, agora nativos digitais, passam a ter voz em sala de aula quando o assunto é tecnologia, os papéis começam a se inverter. Os professores aprendem com os alunos e, muitas vezes, sentem-se desconfortáveis ao demonstrar inabilidade com recursos tecnológicos, mas aos poucos entendem que esse processo é progressivo e sem volta (SOARES, 2021, p. 50).

Nestes tempos, as facilidades de acesso às informações através das novas tecnologias auxiliam na movimentação/inversão dos papéis de aprendente e ensinante entre o professor e o aluno, cada um com seu estilo próprio é capaz de replicar e contribuir na ação pedagógica. Repercutir e aceitar este diálogo construtivo ainda precisa romper paradigmas tradicionais que permanecem no cenário escolar. Na verdade, essa inquietante democratização de papéis permite suavizar o que podemos chamar de corresponsabilidade no processo ensino-aprendizagem ou o que Rocha; Gouveia & Peres (2021, p. 23), chamam de “a dupla face do ensino e da aprendizagem”.

O soar inovador e criativo de promoção do ensino/aprendizagem pode gerar sensações agradáveis nos estudantes, ilustrando boas experiências socioemocionais e cognitivas com a apropriação de mecanismos digitais na estrutura das aulas, adequando o ensino às novas tendências tecnológicas e metodológicas.

Se o papel da escola é atender as perspectivas dos estudantes e as expectativas da sociedade globalizada, precisa moldar novas formas de ensinar e aprender semeando naturalmente experiências com as tecnologias digitais, estabelecendo laços com a aceleração tecnológica. Essa maturidade disruptiva da escola em lidar com a inovação pedagógica permite desfragmentar e adaptar o trabalho do professor para a nova cultura educacional do século XXI.

A velocidade evolutiva pela qual passa a sociedade não permite mais doutrinar os estudantes sem a coexistência destes instrumentos que representam a revolução cognitiva da humanidade. A dimensão escolar vai além das obrigações acadêmicas, não “simplesmente” produz impacto na valorização pessoal e profissional do cidadão, mas pode personalizar as transformações sociais.  

Diante desta realidade, não se pode negar que a educação, e mais precisamente a escola, é um dos pontos estratégicos para disseminar a importância de se acompanhar a evolução tecnológica, uma vez que esta preza pela formação de indivíduos para viver no seio de uma sociedade que “respira” os reflexos da globalização (CARRARA, 2020, p. 55).

O trabalho do professor com as novas gerações exige momentos imprescindíveis de reflexão crítica sobre o uso consciente e ponderado dos recursos digitais e da internet, com o objetivo de mobilizá-las para uma aplicabilidade cautelosa com apuração criteriosa e controle, evitando devaneios e rupturas que afetem a ética digital e o desenvolvimento equilibrado de suas capacidades sociocognitivas. 

Como dizemos, o repensar educacional passa, inevitavelmente, por linhas inovadoras movidas pela realidade imersa no ecossistema tecnológico e digital, e pede posturas seguras e bem pensadas de professores e alunos, voltadas para o aperfeiçoamento profissional docente e da aprendizagem saudável do estudante. Navegar pelo universo das infinitas possibilidades tecnológicas pode despertar nos jovens sensações de empoderamento e auto afirmação no ciclo de amizades e riscos à saúde física e mental das crianças.

Há de se convir que, para utilizar as redes para fins de formação nas diversas disciplinas escolares, impõe-se um mínimo de precauções. Todavia, para que os alunos não se tornem escravos das tecnologias e façam escolhas lúcidas, o desenvolvimento do espírito crítico e de competências aguçadas parece mais eficaz do que censuras. Em um determinado colégio, um software impede o acesso, desde as salas de aula, a todo site que contenha a palavra “criança”! Para se proteger da pedofilia, interditam-se muitas outras coisas. A alternativa seria, evidentemente, desenvolver o julgamento e a autonomia… (PERRENOUD, 2000, p. 133). 

Com base nas opiniões apresentadas, é factível entender que precisamos de escolas do futuro preparadas para o agora, que sejam desafiadas a desenvolverem metodologias ativas que atendam às necessidades tecnológicas, com professores atualizados e atuantes digitais, que oportunizem aprendizados significativos e experiências transformadoras aos seus alunos. 

Construir aprendizagens com as crianças e jovens nos dias de hoje é uma proposta que demanda inspiração e muita habilidade do professor, eles estão movidos pelo raciocínio acelerado condicionado pela velocidade instantânea das facilidades digitais. Mentalmente, estes alunos nativos digitais “flutuam” na imensidão das respostas prontas, cômodas e nos perigos da internet, e precisam de orientação e direcionamento, estímulos intelectuais e diálogos que emanem postura crítico-reflexiva sobre as informações que recebem. Os princípios de uma cultura digital saudável devem começar na família e desenvolvidos pela escola.

É importante ter equilíbrio na remodelagem do contexto educacional, passando prioritariamente, pela atenção às vias insalubres da internet que ameaçam as boas relações entre a tecnologia digital, o conhecimento e a segurança psicossocial dos aprendizes.  

METODOLOGIAS ATIVAS NO CONTEXTO DE APRENDIZAGEM DAS NOVAS GERAÇÕES

O ensinar e o aprender são condições paralelas de momento e de circunstâncias que nos fazem perceber o quão frágeis de conhecimento somos diante da realidade. Por esta reflexão, entendemos a importância da construção coletiva do processo ensino-aprendizagem que se faz no despertar promissor da compreensão e do reconhecimento individual dos saberes inacabados e insuficientes. Partindo deste princípio, o processo escolar jamais poderá ser estático/paralisado ou mesmo unilateral, sem a dinâmica da convivência (concordância e/ou discordância) de pensamentos e de ideias. 

Dentro desta proposta, Moran (2018, p. 04), argumenta que “metodologias ativas são estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada e híbrida”, e ressalta ainda nesta linha de pensamento que “as metodologias ativas dão ênfase ao papel protagonista do aluno, ao seu envolvimento direto, participativo e reflexivo em todas as etapas do processo, experimentando, desenhando, criando, com orientação do professor”.

A opção por adormecer o ímpeto e a curiosidade das novas gerações na fria rotina do existir monótono de estratégias e metodologias apáticas e pouco ou nada envolventes pode afastar a alegria do despertar para a conhecimento, das descobertas que ensinam, da riqueza de sentimentos movida pela capacidade de aprender e ensinar incondicionalmente.

Os técnicos em educação desenvolveram métodos para avaliar a aprendizagem e, baseados em seus resultados, classificam os alunos. Mas ninguém jamais pensou em avaliar a alegria dos estudantes – mesmo porque não há métodos objetivos para tal. Porque a alegria é uma condição interior, uma experiência de riqueza e de liberdade de pensamentos e sentimentos. A educação, fascinada pelo conhecimento do mundo, esqueceu-se de que sua vocação é despertar o potencial único que jaz em cada estudante (ALVES, 2012, p. 18-19).

Na verdade, trata-se, de fato, de um paradoxo. Não se pode fazer educação sem a alegria de ensinar e aprender. Para Alves (2012, p. 19), os professores são “pastores da alegria”, no entanto, o fascínio da educação pelo conhecimento do mundo não a permite abrir mão do potencial vivo e presente dos estudantes, pelo contrário, esse potencial é o que impulsiona a sua aprendizagem e os objetivos escolares.

O processo escolar não pode ser desenhado à limitação por muros revestidos de ideias que engessam para a passividade sem o entendimento de que o ensinar precisa caminhar a passos que estimulem a curiosidade do aprendiz, sendo a curiosidade um atributo essencial e inegociável da aprendizagem. Como bem diz Freire (1996, p. 35), 

A curiosidade com inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento, como sinal de atenção que sugere alerta faz parte integrante do fenômeno vital. Não haverá criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos.

Segundo Aranha (2021), as metodologias ativas de aprendizagem estão constituídas na expressão “no more passive students” – “não mais estudantes passivos”. Não ser passivo diante das inquietações sociais é instância inicial e primordial na formação das novas gerações, com concepções claras do papel ativo na sociedade.

A curiosidade é inata e naturalmente permissiva na dimensão humana e ainda potencializada nos ciberespaços, agora contextos de convivência social dos nativos digitais. Para Moran, (2018, p. 03) apud Aranha, (2021, p. 56), “toda aprendizagem é ativa em algum grau, porque exige do aprendiz e do docente formas diferentes de movimentação interna e externa, de motivação, seleção, interpretação, comparação, avaliação, aplicação”. Segundo Soares (2021), a educação passiva e descontextualizada preocupada com a transmissão dos conteúdos vem sendo substituída por uma educação ativa, voltada para o protagonismo do aluno/cidadão na sociedade.

Claramente, o que se pretende com isso é mobilizar todos os atores educacionais (sociedade civil no âmbito geral e mais especificamente o poder público, pais, alunos e professores) na criação de elementos e ambientes estruturados e inovadores que sejam capazes de assegurar uma educação participativa e de qualidade, que (reconheça, entenda e atenda o potencial dos seus alunos nativos digitais, podendo despertar o sentimento de envolvimento/engajamento na caminhada ao conhecimento.

Como vimos, as mudanças tecnológicas transformam o ambiente escolar e também os seus alunos, cada vez mais instruídos e habilidosos com as tecnologias digitais. Aqui cabe, o entendimento e a reflexão do professor de que todos nós somos afetados diretamente pela bagagem digital advinda da revolução tecnológica, logo, pede a atualização de sua práxis pedagógica como responsabilidade social.

Nesse contexto, a escola depara-se com alunos que chegam com várias informações, diferentemente dos estudantes de vinte ou trinta anos atrás. Os professores, muitas vezes, mantêm determinado modelo de aula e querem que os alunos tenham o mesmo desempenho ou interesse dos estudantes do passado. Porém, isso não acontece mais! (SOARES, 2021, p. 31).

Ser criativo e inovador não são atribuições exclusivas do professor, mas sim de todo ser humano. A criatividade é uma necessidade básica e indispensável na vida porque representa a capacidade planejada ou mesmo imprevisível de resolução dos problemas que enfrentamos diariamente, descobrindo ou mesmo desenvolvendo qualidades como habilidade e competência. Entretanto, ser inovador é saber trabalhar com inteligência a criatividade, sendo capaz de concretizar ou consolidar as ideias que surgem, com um bom repertório que fuja do habitual ou do senso comum, com aparência mutável, atrativa e agradável. Em suma, a palavra criatividade deriva do verbo criar, ou seja, ter a capacidade de fazer brotar “coisas novas”, já inovar é fazer diferente do convencional, resistindo ao modismo massificado um tanto quanto tradicional.

Mensurar a suficiência do ser criativo ou mesmo inovador é um exercício constante de autorreflexão. Quando se trata de educação, ser eventualmente criativo pode não ser suficientemente útil, é necessário desenvolver uma mentalidade criativa, possibilitando, com talento, um treinamento crescente de materialização das oportunidades, aperfeiçoando suas ideias e qualificando as estratégias.  

É preciso desenvolver a mentalidade criativa. É acreditar que podemos criar os futuros desejáveis. Nosso cérebro está sempre nos oferecendo um leque de possibilidades, mas apenas gerar ideias não é o suficiente. O que as pessoas com mentalidade criativa têm de diferente são o repertório amplo e a capacidade de recorrer a ele. Trata-se de desmontar e remontar as próprias vivências, as próprias experiências e os próprios saberes. É combinado o que se sabe com o que se conhece que se cria algo (DAROS, 2023, p. 03, grifo do autor).

Na construção deste novo momento educacional exposto ao mundo das TDICs que move as exigências e os desafios impostos aos modelos pedagógicos, com vertentes de inovação e novas formas de pensar e repensar o potencial criativo e inovador de alunos e professores, vive a busca por afirmação dos ambientes escolares, com seus propósitos colaborativos, suas dificuldades e suas particularidades. Assim, neste contexto, a escola precisa se reinventar, flexibilizando, adequando e adaptando o seu currículo a essa sociedade. Para Bannell et al., (2016, p. 77), “a escola, portanto, deixou de ser o único lugar de legitimação do saber, em função da legitimação social de uma variedade de saberes que circulam por outros canais, difusos e descentralizados”.

Os impactos das tecnologias digitais na educação são acessórios fundamentais na desconstrução de percepções fragmentadas ainda existentes, do ensinar e aprender pelo formato expositivo convencional estabelecido e padronizado ao longo do tempo e sustentado pelo quadro e pincel, desenhadas pelo enfileiramento dos “alunos-plateia” que assistem passivamente as aulas, mergulhados nos entediantes e intermináveis discursos do professor. Hoje, estas tecnologias digitais podem contribuir e muito com uma pedagogia inovadora baseada em metodologias ativas, permitida pela sofisticação do mundo globalizado, com elementos que revalorizam o pensar e o agir didático-pedagógicos e a aceitação dos aprendizes ao espaço escolar e ao aprendizado com autonomia e protagonismo. 

Hoje, as apresentações multimídia são espetáculos “luz e som” cada vez mais sofisticados, aos quais podem ser incorporados elementos de sínteses. Amanhã, a realidade virtual permitirá a um aluno munido do capacete adequado explorar a época pré-histórica, viajar ao centro da Terra ou ir à Lua. Não como em um simples filme em que o espectador é prisioneiro do enredo, mas como se ele fosse ator e pudesse tomar decisões que modifica efetivamente a sequência da história (PERRENOUD, 2000, p. 135).

Naturalmente, na medida em que a sociedade do conhecimento evolui, apresenta um contexto bem mais amplo e diferenciado de possibilidades e instrumentos teórico-práticos em todas as esferas profissionais e sociais. Nos tempos de hoje, a inovação é fugaz e imprevisível. A cultura digital é a direção a ser seguida pelas instituições escolares por todas as suas nuances, aprimorando suas capacidades e adaptando-se aos novos desafios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A condição disruptiva dos espaços educacionais pelos traços tecnológicos e digitais fomentam novas perspectivas para os estudantes na medida em que permitem associar os conteúdos escolares ao contexto das novidades sociais. Os modelos de ensino então previsíveis começam a ganhar contornos de inovação e criatividade na dimensão prática do professor com tons de envolvimento e protagonismo estudantil.

Esse novo olhar para a educação permite modernizar as percepções com relação à estrutura das nossas escolas, mas principalmente, o trabalho desenvolvido por elas, com as expertises dos educandos e professores na condução do processo alinhado ao potencial das TDICs.

Na era do conhecimento digital e da internet é importante considerarmos e valorizarmos a essência da convivência humana, aproveitando a praticidade destas tecnologias, aceitando o aperfeiçoamento gradativo individual e coletivo com empatia mental aos conceitos contemporâneos de ensinar e aprender nos novos espaços educativos, discutindo e construindo pontes de conscientização e reflexão sobre os cuidados com as novas gerações nos ciberespaços do mundo globalizado.

As salas de aula ganharam limites além dos seus espaços físicos a partir da entrada das experiências tecnológicas digitais, principalmente quando revelado o potencial de aprendizagem concedido por elas em qualquer tempo ou espaço, instrumentalizando a autonomia do aluno no centro da construção do próprio aprendizado e oportunizando ao professor ferramentas atualizadas aos interesses dos aprendizes e da sociedade. 

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2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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v. 5
n. 45
A Educação na Era Digital – Percepções e Aprendizagem dos Nativos Digitais

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