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Resumo
INTRODUÇÃO
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, o comportamento e a interação social dos indivíduos. Diante desses desafios, torna-se essencial desenvolver estratégias pedagógicas que favoreçam a inclusão e a aprendizagem de crianças com TEA. O ensino da matemática, disciplina muitas vezes considerada abstrata e desafiadora, pode ser significativamente potencializado por meio do uso de jogos educativos, os quais promovem o interesse, a atenção e a motivação dos alunos.
Segundo Vygotsky (1991), a aprendizagem se dá por meio da interação com o outro e com o meio, sendo os jogos ferramentas fundamentais nesse processo. No contexto da educação inclusiva, os jogos pedagógicos possibilitam a construção de conhecimentos matemáticos de forma lúdica e concreta, respeitando os diferentes ritmos e estilos de aprendizagem das crianças com TEA.
Dessa forma, este trabalho propõe uma reflexão sobre a importância dos jogos como recurso metodológico no ensino da matemática, contribuindo para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional da criança com autismo.
Portanto, esta pesquisa teve como objetivo geral, analisar a importância da utilização de jogos no ensino da matemática como estratégia de aprendizagem para crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Já os objetivos específicos foram: compreender as características do TEA e suas implicações no processo de aprendizagem; investigar como os jogos contribuem para o ensino da matemática; identificar práticas pedagógicas eficazes que utilizam jogos no contexto da educação inclusiva e refletir sobre os benefícios dos jogos na aprendizagem de crianças com TEA no ensino da matemática.
A inclusão de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo no ambiente escolar é um direito garantido por lei, e exige dos profissionais da educação uma constante busca por metodologias que atendam às necessidades específicas desses alunos. Dentre essas metodologias, destaca-se o uso de jogos, os quais favorecem a aprendizagem por meio da ludicidade e da interação.
Piaget (1971) afirma que o jogo é uma atividade essencial para o desenvolvimento da criança, pois contribui para a construção do conhecimento de forma prazerosa e significativa. No caso de alunos com TEA, os jogos tornam-se ainda mais relevantes, uma vez que favorecem o desenvolvimento de habilidades matemáticas, sociais e cognitivas.
Além disso, o uso de jogos na matemática permite que o conteúdo seja apresentado de maneira concreta, auxiliando na compreensão de conceitos abstratos e na resolução de problemas. Assim, este trabalho se justifica pela necessidade de ampliar o olhar sobre práticas pedagógicas inclusivas e eficazes, promovendo a aprendizagem de forma equitativa.
Este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa de natureza qualitativa, com abordagem bibliográfica. De acordo com Gil (2008), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já publicado, constituído principalmente por livros, artigos científicos e publicações acadêmicas.
Foram selecionadas obras e autores que tratam da educação inclusiva, do ensino da matemática e da utilização de jogos no processo de ensino-aprendizagem. A pesquisa teve como objetivo analisar os principais conceitos e contribuições teóricas acerca do uso de jogos como ferramenta pedagógica no ensino da matemática para crianças com TEA.
O AUTISMO E OS JOGOS MATEMÁTICOS
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por dificuldades na comunicação social e por comportamentos repetitivos e restritivos. Essas características impactam diretamente o processo de aprendizagem, exigindo práticas pedagógicas diferenciadas e adaptadas às especificidades de cada criança. No contexto escolar, o uso de recursos lúdicos, como os jogos pedagógicos, tem se mostrado eficaz para promover a aprendizagem, especialmente em áreas mais abstratas como a matemática.
Segundo a Associação Americana de Psiquiatria (APA, 2014), o TEA manifesta-se de formas variadas e em diferentes níveis de intensidade, sendo fundamental que os educadores adotem estratégias individualizadas que considerem os interesses, habilidades e limitações de cada aluno. Nesse sentido, os jogos pedagógicos podem contribuir significativamente para a aprendizagem, uma vez que favorecem a motivação, o envolvimento e o desenvolvimento de habilidades cognitivas e sociais.
O uso de jogos no ensino da matemática permite transformar conteúdos abstratos em experiências concretas e manipuláveis. De acordo com Borba e Penteado (2012), o jogo é um recurso que aproxima o aluno da construção do conhecimento matemático, promovendo o raciocínio lógico e a resolução de problemas de maneira mais prazerosa e significativa.
Para Kishimoto (2010), o jogo educativo é um instrumento didático que integra a ludicidade ao ensino, promovendo a interação e o desenvolvimento de competências. No caso de crianças com autismo, os jogos estruturados ajudam a criar um ambiente previsível, o que favorece a concentração, o aprendizado e a redução da ansiedade.
Ainda, Silva e Schmidt (2016) ressaltam que os jogos pedagógicos, quando planejados com objetivos claros e adaptados às necessidades do aluno com TEA, contribuem para a inclusão, a autonomia e o desenvolvimento da linguagem matemática. A mediação do professor durante o jogo é essencial para direcionar a atividade ao aprendizado, respeitando o ritmo de cada criança.
Outro ponto relevante é o papel da tecnologia no ensino de alunos com TEA. Oliveira et al. (2020) destacam que os jogos digitais podem ser aliados importantes, oferecendo recursos visuais, sonoros e interativos que captam a atenção dos estudantes e promovem o engajamento no conteúdo matemático.
A inclusão escolar é um direito assegurado por lei e um compromisso ético e pedagógico que visa garantir a todos os alunos, independentemente de suas condições, o acesso à aprendizagem em ambientes educativos equitativos. No caso de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), a inclusão requer estratégias específicas que respeitem suas particularidades e promovam o desenvolvimento de suas potencialidades. Nesse contexto, os jogos pedagógicos, especialmente no ensino da matemática, despontam como importantes recursos de apoio à inclusão.
O TEA é caracterizado por dificuldades na comunicação e na interação social, além de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades (APA, 2014). Essas características impactam diretamente o processo de aprendizagem, exigindo intervenções que sejam ao mesmo tempo estruturadas e atrativas. Os jogos atendem a essas demandas por possibilitarem um ambiente lúdico, motivador e estruturado.
Para Kishimoto (2010), o jogo é um recurso didático que permite à criança experimentar, criar, refletir e resolver problemas, integrando aspectos cognitivos, sociais e afetivos do aprendizado. No ensino da matemática, essa abordagem lúdica favorece a internalização de conceitos muitas vezes abstratos, promovendo a construção do conhecimento por meio da prática e da interação.
Segundo Borba e Penteado (2012), os jogos matemáticos ajudam os alunos a desenvolver o pensamento lógico, a tomada de decisões, o planejamento de estratégias e a compreensão de regras. Esses elementos são essenciais para crianças com TEA, pois os jogos oferecem previsibilidade, clareza e repetição — aspectos fundamentais para o conforto e o engajamento dessas crianças em sala de aula.
Vygotsky (1991), ao tratar da aprendizagem como um processo social, afirma que o desenvolvimento ocorre por meio da mediação do outro, especialmente em situações de interação. Assim, o uso de jogos pedagógicos no ensino da matemática para crianças com TEA não apenas facilita a apropriação dos conteúdos, mas também estimula a comunicação, o trabalho em grupo e a socialização.
Estudos contemporâneos reforçam a importância do jogo como facilitador da inclusão. Para Silva e Schmidt (2016), os jogos promovem o protagonismo dos alunos com autismo, favorecendo o desenvolvimento da autonomia, da autoestima e da linguagem matemática. Ao serem inseridos em atividades lúdicas, esses alunos tendem a demonstrar mais interesse e envolvimento nas tarefas escolares.
Além disso, os jogos podem ser adaptados de acordo com o nível de desenvolvimento da criança, permitindo um ensino mais personalizado. Oliveira et al. (2020) apontam que os jogos digitais também oferecem alternativas eficazes, pois proporcionam ambientes visuais interativos que estimulam a atenção, a memória e a resolução de problemas matemáticos.
Portanto, os jogos no ensino da matemática funcionam como uma ponte entre o conteúdo curricular e a realidade da criança com TEA, tornando a aprendizagem mais acessível, prazerosa e inclusiva. Quando planejados e aplicados com intencionalidade pedagógica, esses recursos são instrumentos poderosos para transformar a sala de aula em um espaço de equidade e desenvolvimento para todos.
Portanto, os jogos matemáticos como recurso pedagógico não apenas facilitam a compreensão dos conteúdos, como também respeitam as particularidades das crianças com autismo, promovendo um ambiente inclusivo e favorável à aprendizagem significativa. A integração entre ludicidade, mediação pedagógica e adaptação curricular é essencial para o sucesso no ensino da matemática nesse contexto.
OS JOGOS E A INCLUSÃO
O ensino da matemática representa um dos maiores desafios dentro da prática pedagógica, especialmente quando se trata de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Essa condição neurológica afeta o desenvolvimento da comunicação, da interação social e do comportamento, exigindo estratégias diferenciadas de ensino e aprendizagem que considerem as necessidades individuais dos alunos. Nesse contexto, os jogos educativos surgem como recursos pedagógicos eficazes, pois aliam ludicidade, interação e construção de conhecimento de forma significativa.
De acordo com Vygotsky (1991), a aprendizagem é um processo mediado socialmente, no qual o sujeito se desenvolve por meio da interação com o outro e com o meio. Essa perspectiva enfatiza a importância do professor como mediador da aprendizagem e reforça o uso de práticas que promovam essa mediação, como os jogos. No caso de crianças com TEA, os jogos favorecem a criação de ambientes estruturados e previsíveis, proporcionando segurança e estimulando a participação ativa.
Além disso, segundo Piaget (1971), o jogo é uma atividade essencial para o desenvolvimento da inteligência da criança, pois permite a assimilação de novos conhecimentos por meio da experimentação e da manipulação de objetos. Essa abordagem se mostra especialmente relevante para alunos com autismo, que apresentam uma forma de aprendizagem mais concreta e visual, necessitando de estímulos táteis e estruturados para compreenderem conceitos abstratos como os da matemática.
Brougère (1998) também reforça o valor pedagógico do jogo, destacando que ele não é apenas um passatempo, mas um instrumento de construção do saber. O autor aponta que o jogo permite que a criança elabore estratégias, tome decisões e resolva problemas, elementos essenciais para o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático.
Pesquisas contemporâneas têm evidenciado que os jogos, tanto analógicos quanto digitais, promovem melhorias na concentração, no raciocínio lógico e na socialização de crianças com TEA. Oliveira et al. (2020) relatam que o uso de jogos digitais no ensino da matemática proporciona um ambiente visualmente atrativo e adaptável às necessidades de cada aluno, contribuindo para a inclusão educacional e o desenvolvimento da autonomia.
Outro aspecto importante é a relação entre jogo e motivação. Para Kishimoto (2010), o jogo oferece um ambiente motivador que favorece a aprendizagem ativa e significativa. No ensino da matemática, essa motivação pode ser um fator crucial para manter o interesse da criança com autismo, que frequentemente apresenta dificuldades de atenção e de manutenção do foco.
Portanto, o uso de jogos no ensino da matemática para crianças com TEA representa uma abordagem metodológica inovadora e necessária, capaz de integrar aprendizagem, ludicidade e inclusão, respeitando as especificidades do desenvolvimento infantil e favorecendo a aprendizagem significativa.
A MATEMÁTICA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
A inclusão de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) no ambiente escolar tem gerado reflexões acerca das práticas pedagógicas que melhor atendem às suas necessidades específicas. No processo de ensino-aprendizagem da matemática, disciplina que frequentemente apresenta desafios mesmo para alunos neurotípicos, torna-se fundamental o uso de estratégias diferenciadas, como os jogos pedagógicos, que proporcionam uma aprendizagem mais concreta, interativa e significativa.
Os jogos educativos são recursos que possibilitam o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e motoras, favorecendo a construção do conhecimento por meio da ludicidade. Para Brougère (1998), o jogo é uma atividade cultural carregada de significados e potencial pedagógico, podendo ser incorporado ao processo educacional com vistas à promoção de aprendizagens ativas e prazerosas.
No contexto do TEA, os jogos contribuem para a superação de barreiras relacionadas à comunicação, interação social e rigidez de comportamento. Segundo Silva e Schmidt (2016), o uso de jogos no ensino da matemática para crianças com autismo permite adaptar o conteúdo à realidade do aluno, promovendo maior engajamento, interesse e autonomia. Além disso, atividades lúdicas ajudam a estabelecer rotinas de forma estruturada e previsível, o que é fundamental para o conforto e a segurança desses alunos.
Vygotsky (1991) enfatiza que o desenvolvimento cognitivo ocorre por meio da mediação social, sendo o ambiente e as interações essenciais para a aprendizagem. Nesse sentido, os jogos permitem ao professor atuar como mediador no processo de ensino da matemática, oferecendo suporte individualizado e respeitando o ritmo e as particularidades do aluno com TEA.
Já Piaget (1971) destaca que o jogo é uma forma natural de aprendizagem na infância, permitindo à criança experimentar, explorar e assimilar conceitos matemáticos por meio da ação. Essa abordagem concreta é especialmente importante para crianças com TEA, que frequentemente apresentam dificuldades com abstrações.
Estudos recentes também apontam que o uso de jogos digitais e manipulativos matemáticos pode potencializar o ensino da matemática no contexto da educação inclusiva. Conforme Oliveira et al. (2020), os jogos digitais interativos oferecem estímulos visuais e auditivos que facilitam a compreensão de conceitos matemáticos e aumentam a motivação dos alunos com autismo.
Assim, observa-se que os jogos, quando planejados de forma intencional e adaptada, podem transformar o ensino da matemática em uma experiência positiva, acessível e eficaz para crianças com TEA, contribuindo para seu desenvolvimento integral e para a efetivação de uma educação verdadeiramente inclusiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inclusão de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) no ambiente educacional é um desafio que exige a constante adaptação de metodologias pedagógicas para garantir que esses alunos possam desenvolver suas habilidades de maneira plena e equitativa. O uso de jogos como recurso pedagógico no ensino da matemática surge como uma estratégia eficaz e inovadora para promover a aprendizagem dessas crianças, atendendo às suas necessidades específicas e favorecendo seu engajamento com o conteúdo.
Os jogos oferecem uma abordagem concreta e interativa, o que é essencial para crianças com TEA, que muitas vezes têm dificuldades com conceitos abstratos e com a socialização em ambientes tradicionais de ensino. Como mostrado ao longo deste trabalho, jogos bem estruturados não só ajudam na aprendizagem de conceitos matemáticos, como também favorecem o desenvolvimento de habilidades cognitivas, emocionais e sociais, como a resolução de problemas, a tomada de decisões e a cooperação.
Além disso, o uso de jogos no ensino de matemática cria um ambiente mais inclusivo, onde as crianças com TEA se sentem mais motivadas e confiantes para aprender. O fator lúdico pode ser um grande aliado, pois proporciona momentos de prazer e de interação, permitindo que o aluno se envolva de maneira mais espontânea e prazerosa com o conteúdo matemático. Dessa forma, os jogos podem transformar a sala de aula em um ambiente de aprendizagem mais dinâmico e acolhedor, onde as diferenças são respeitadas e celebradas.
É importante destacar que a implementação de jogos como ferramenta pedagógica exige uma preparação cuidadosa do professor, que deve conhecer profundamente as necessidades individuais dos alunos com TEA e adaptar as atividades conforme essas especificidades. O planejamento deve ser flexível, de modo a possibilitar a adaptação das atividades durante o processo de ensino-aprendizagem, garantindo que todos os alunos, independentemente de suas particularidades, possam participar ativamente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
APA – AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
Borba, Marcelo de Carvalho; Penteado, Miriam Godoy. Informática e educação matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
Brougère, Gilles. Brincar e aprender: o jogo na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 1998.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
Kishimoto, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. 6. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2010.
Oliveira, Ana Paula de; Santos, Maria da Penha; Costa, Letícia Mendes da. Jogos digitais e autismo: contribuições para o ensino da matemática. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v. 26, n. 1, p. 43–58, jan./mar. 2020.
Piaget, Jean. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1971.
Silva, Patrícia de Souza; Schmidt, Adriana Aparecida. O uso de jogos no ensino de matemática para alunos com Transtorno do Espectro do Autismo. Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 29, n. 57, p. 55–70, set./dez. 2016.
Vygotsky, Lev Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
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