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Resumo
INTRODUÇÃO
Viveiros são os locais destinados à produção, à manutenção e ao crescimento de mudas até o seu transporte para plantio definitivo. Nesses locais são reunidos instalações e utensílios próprios e são empregadas técnicas que visam aprimorar a produção e a manutenção das plântulas. Em geral, eles são instalados próximos aos espaços onde as mudas serão plantadas em caráter definitivo. No Brasil a demanda para a produção e o uso de plantas nativas tem aumentado cada vez mais. Além da necessidade de restauração da vegetação nativa, o interesse pelo cultivo de espécies nativas também está crescendo, para produção de alimentos, paisagismo e outras finalidades.
Para se construir um viveiro, o produtor deve saber que tipos de planta ele deseja produzir. Cada espécie tem sua particularidade e muitas das técnicas usadas podem ser adaptadas para um maior aproveitamento da infraestrutura e organização do trabalho. Durante todo o período, seja no plantio das sementes, manejo ou até mesmo no momento do transporte das mudas, é importante que se mantenha a observância das boas práticas agrícolas. Essas medidas auxiliam a produtividade do cultivo e minimizam impactos negativos na saúde dos produtores.
Outro aspecto a ser considerado na construção de um viveiro é a sua rentabilidade. Viveiros com fins econômicos possuem estruturas e instalações maiores e mais complexas que viveiros comunitários ou educativos. Eles são, em geral, menores e mais simples de serem implantados e podem produzir, além de mudas comerciais, mudas nativas ou de reposição para restauração florestal ou recuperação de áreas degradadas. Neste caso, a demanda social ou educativa irá direcionar o planejamento da produção.
Existem muitas obrigações legais e diversas políticas públicas que estimulam a recuperação de florestas e a implantação de sistemas agroflorestais. Além da proteção da biodiversidade, as mudanças climáticas têm exigido o plantio de árvores para mitigar a emissão de carbono e para convivermos melhor com a insegurança hídrica e do próprio clima. A recuperação da vegetação nativa também pode contribuir para a segurança alimentar, como a produção de frutas, e para a geração de emprego e renda. Vários estudos mostram que existem muitos viveiros no Brasil. Mas em muitos casos a produção está abaixo do potencial dos viveiros. São muitos os problemas, como dificuldades na comercialização, demanda irregular, falta de assistência técnica e de legalização das atividades.
Fortalecer os viveiros de mudas significa fortalecer uma relação saudável, de benefício mútuo entre o produtor rural e a mata nativa que o cerca.
A FUNÇÃO DOS VIVEIROS
A implantação de viveiros florestais está diretamente relacionada à conservação e ampliação da cobertura vegetal, inclusive em áreas degradadas, criando possibilidades de utilização sustentável de recursos naturais, bem como alternativas de trabalho e renda.
As florestas são fundamentais para a vida no planeta, pois além de fornecerem insumos para a vida dos seres vivos, como: madeira, frutos, raízes, látex e a produção de plantas medicinais, também armazenam carbono, ajudam a regular o clima, reduzem o impacto de inundações e deslizamentos de terra.
As florestas plantadas alcançam produtividade maior em relação às florestas naturais, ampliando oportunidades futuras para o crescimento econômico e o emprego a partir da nova economia verde. As florestas plantadas podem ajudar a recuperar as florestas naturais, onde a terra sofreu degradação ou erosão. Junto às atividades do viveiro encontra-se o trabalho de educação ambiental. Este proporciona uma transformação de valores, levando-se a uma nova postura entre os seres humanos e a biodiversidade (Mônico, 2004). O manejo e a localização adequada das plantações contribuem para a conservação da biodiversidade, atendendo as necessidades dos seres vivos, além disso, a preservação da biodiversidade caminha junto. Quando um ecossistema é equilibrado, não há ameaça de animais extintos.
A promoção do reflorestamento também é importante pela ampliação da capacidade de absorção de carbono, contribuindo para a redução do chamado “efeito estufa”. Com a baixa oferta de madeiras nativas, o plantio de mudas florestais se torna uma opção das mais interessantes em razão da consciência ecológica que as pessoas estão assumindo de forma crescente, além das novas leis ambientais brasileiras que impõem grandes multas ao desmatamento, e a pressão de organismos e mercados internacionais contra os produtos de origem florestal originários de matas nativas.
A produção de mudas nativas é uma atividade empresarial rentável e cada vez mais surgem viveiros com perfil comercial buscando conquistar esse mercado (Lemos & Maranhão, 2008). Por essas e outras razões, começam a surgir florestas de pequeno e médio porte, que são implantadas em programas de reflorestamento para produzir madeira com objetivos variados. Além da possibilidade de retorno financeiro do investimento, tornando-se interessante o aproveitamento de áreas íngremes, solos degradados, áreas em processo de desertificação e impróprias para agricultura, o que valoriza o terreno na dimensão estética e financeira.
As florestas plantadas, em sua maioria são monoculturas, ou seja, são sistemas de exploração do solo através de um único produto. Os serviços e produtos ambientais fornecidos pelas florestas plantadas são essenciais para a economia do Brasil. A produção está diretamente ou indiretamente ligada a ela. O setor de base florestal atua basicamente em seis cadeias de produtividade, como a lenha e carvão, a madeira sólida, o papel e celulose, os paineis reconstituídos, os produtos não madeireiros e os serviços ambientais. Com a atuação dessa produtividade, ocorre um aumento do PIB brasileiro e a geração de mais empregos.
ASPECTOS LEGAIS
Em âmbito nacional, as atividades de produção de sementes e mudas são regidas pela Lei nº 10.711, de 05 de agosto de 2003, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas (SNSM), visando a garantir a qualidade do material produzido, comercializado e utilizado, em todo o território nacional. Esta lei apresenta as definições técnicas, registros, competências e penalidades a serem aplicadas nas atividades de produção e comercialização de sementes e mudas, em todo o país. No ano de 2004, através do Decreto 5.153, foram regulamentadas as atividades previstas no SNSM, definindo os critérios para produção, beneficiamento, reembalagem, armazenamento, análise, comércio, importação e exportação de sementes e mudas, através do Registro Nacional de Sementes e Mudas – RENASEM. De acordo com este decreto, todo o viveiro ou profissional que exerça as atividades de produção, beneficiamento, embalagem, armazenamento, análise, comércio, importação e exportação de sementes e mudas fica obrigado à inscrição no RENASEM, ficando isentos da inscrição apenas os agricultores familiares, assentados da reforma agrária e os indígenas que multipliquem sementes ou mudas para uso próprio, distribuição, troca ou comercialização entre si. Neste caso, é importante destacar que tanto os viveiros comerciais como os municipais devem contar com um técnico responsável, registrado no RENASEM e no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia.
VIVEIROS
É um espaço físico destinado ao crescimento e multiplicação das mais diversas espécies de plantas, como frutíferas e nativas. Nele, são observadas e cuidadas até que se tornem fortes o suficiente para serem transportadas para os locais onde serão inseridas de forma definitivas ou comercializadas. Segundo Lemos & Maranhão (2008), os viveiros de produção de mudas, sobretudo as nativas, podem ser também “viveiros educadores”, buscando estimular o espaço de aprendizagem, estimulando também os viveiros já existentes a perceberem, valorizarem e a incorporarem a dimensão educadora em suas atividades.
Para que um viveiro seja bem-sucedido, é importante entender sobre os tipos de viveiros existentes, qual o manejo adequado e os equipamentos necessários para o dia a dia do plantio.
LOCALIZAÇÃO DO VIVEIRO
A escolha do local para a construção de viveiros para produção de mudas florestais nativas deve satisfazer algumas condições a fim de aperfeiçoar a ocupação do terreno, minimizar custos de implantação, e assegurar que as futuras instalações ofereçam condições para um bom manejo. A implantação de um viveiro somente deve ser feita após uma análise cuidadosa da situação do local onde será instalado o viveiro, levando-se em conta diferentes aspectos que formarão as condições de um bom desenvolvimento das mudas (Macedo, 1993). Para tal, o terreno escolhido para implantação do viveiro deve: apresentar baixa declividade; ser aberto, evitando-se o sombreamento excessivo; conter água limpa e em abundância; ter boa drenagem do solo; ter energia elétrica (caso necessite bomba de irrigação); ser de fácil acesso para pessoas e veículos; e apresentar mecanismos de proteção contra animais e ventos (quebra-ventos).
TIPOS DE VIVEIROS
Os viveiros podem ser classificados de acordo com o tempo de uso ou duração, por exemplo. Dessa forma, é possível classificá-los em:
Viveiros permanentes – são aqueles cujas instalações são maiores e melhor planejadas, permitindo a produção contínua de mudas. Geralmente ocupa um terreno grande, fornece mudas para uma ampla região, possui instalações permanentes especializadas e definitivas, assim como equipamentos, procedimentos e mão de obra também especializada. Devem estar localizados em lugares de fácil acesso aos seus consumidores e fornecedores para reduzir gastos de transporte e movimentação. Requer planejamento detalhado que garanta as metas de produção e manejo com qualidade, assim como a viabilidade econômica. Pode requerer um projeto de marketing e mídia para facilitar que os consumidores conheçam seus produtos (tipos de mudas).
Viveiros temporários – destinam-se à produção de mudas em um determinado período, próximo ao local de plantio, utilizando-se de materiais rústicos. É um viveiro onde as mudas são produzidas para uma determinada área e por um período limitado. São poucos utilizados na fruticultura comercial de larga escala, mas podem ser encontrados em regiões com predominância da agricultura familiar
DAS SEMENTES
As sementes são organismos responsáveis pela perpetuação e disseminação das espécies na natureza (Medeiros, 2001). A semente é o fator principal no processo de produção de mudas, já que representa um pequeno custo no valor final do processo e tem uma importância fundamental no valor das plantações. Após a germinação das sementes nos canteiros, realiza-se a repicagem das mudas para os recipientes (Macedo, 1993). É na repicagem onde acontece a maior porcentagem de perda (Lemos & Maranhão, 2008).
Portanto, um cuidado especial deve ser tomado com a produção e aquisição de sementes, levando sempre em consideração a qualidade, a diversidade (de espécies e genética) e a regularidade para o abastecimento do viveiro. Sementes imaturas e danificadas não resistem bem ao armazenamento, enquanto as sementes maduras e não danificadas permanecem viáveis por mais tempo (Floriano, 2004). Segundo Medeiros (2001), uma semente deve ter qualidade física e sanitária. A qualidade física está relacionada à qualidade genética, pois o lote deve ser composto por sementes puras, ou seja, de material pertencente à espécie coletada, além disso, a pureza física reflete a eficiência da coleta
COMO CUIDAR DAS MUDAS
Este será o trabalho para que as mudas se desenvolvam adequadamente: irrigar diariamente; realizar a poda da copa para reduzir o tamanho da muda quando há atraso no plantio definitivo; realizar a poda de raízes para facilitar a repicagem, ultrapassam os limites do recipiente; suprimir a adubação e reduzir a irrigação, para evitar o crescimento excessivo das mudas e a penetração de raízes no chão; Mensalmente é necessária a mudança de posicionamento das mudas nos canteiros, essa prática evita que as raízes das mudas penetrem no solo (Felfili et al., 2000); trocar as mudas de lugar para evitar a fixação no solo das raízes que transpuseram o recipiente; proteger as mudas do sol, usando tela ou equivalente logo após a repicagem; trocar de recipiente, quando estes começarem a rachar ou estiverem com aparência envelhecida; manter o controle de ervas daninha.
QUANTO TEMPO AS MUDAS DEVEM PERMANECER NO VIVEIRO?
Esse tempo é variável pois depende da espécie e das condições do clima e do substrato. É possível afirmar que o tempo médio para espécies pioneiras nativas é entre 70 a 90 dias, porém estes períodos servem apenas como indicadores. As espécies de crescimento muito lento podem necessitar de até 180 ou mais dias de viveiro. A muda estará pronta para o plantio quando apresentar a haste e a região do colo com diâmetro do caule adequado, o que indica presença de substâncias de reserva nos tecidos internos da planta, que facilitará o início de seu estabelecimento em campo e formação de raízes rapidamente (Dias et al., 2006). No final desse prazo, inicia-se o processo de preparação das mudas para transporte.
O tempo em que a muda vai permanecer no pátio de espera vai depender da finalidade de sua utilização, caso sejam destinadas à arborização urbana, ou recuperação de áreas degradadas, é desejável que as mudas permaneçam mais tempo, para que sejam rustificadas (Lemos & Maranhão, 2008). É importante que nos períodos que acontecem o transporte, as mudas ganhem resistência elevando o aumento da sobrevivência após o plantio no espaço definitivo, num processo conhecido como rustificação. Para tal, deverão ser eliminadas as adubações, como também reduzir as irrigações, como também em volume de água. Nesse período as mudas deverão ser expostas à radiação solar direta, caso estejam sob cobertura. Estes cuidados tomados com a escolha das árvores matrizes corroboram com os cuidados sugeridos por Paiva (2001). Nesse caso, os cuidadores devem estar atentos para o fato de que algumas espécies apresentam sérios problemas de adaptação quando expostas diretamente ao sol.
DO PLANTIO
É importante salientar que o resultado positivo de revegetação ou o simples plantio de árvores em propriedades rurais não depende apenas da produção de mudas de qualidade, mas também das operações de transporte, manejo de plantio e tratos culturais subsequentes
Durante o processo de aquisição de mudas, deve-se considerar alguns fatores importantes como: a distância em relação ao viveiro; da condição de conservação da área de plantio; da espécie de vegetação original e das características do tipo que serão plantadas. Importante ter alguns cuidados básicos com a finalidade de obter resultados satisfatórios durante a etapa de plantio e assim pleno desenvolvimento das mudas no espaço, como: cercar as áreas de plantio para impedir a entrada de agentes como animais; implantar medidas para o controle de formigas cortadeiras; ter o cuidado de manusear as mudas sempre pelas embalagens; quando as mudas foram transportadas para lugares distantes, manter as mudas irrigadas e protegidas contra o vento; sempre retirar as embalagens das mudas antes do plantio; no momento do plantio deve-se ter o máximo de cuidado para que o colo da muda fique no nível da superfície do terreno e evitando-se amontoar terra sobre o caule. Assim finalizadas as operações de plantio, deve-se realizar a manutenção periódica da área, visando o combate a formigas, fazendo as capinas devidas e manutenção do coroamento, irrigação e adubação para o bom desenvolvimento da planta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos ao longo do artigo, a produção de mudas é uma ação importante para o cultivo e desenvolvimento das plantas, e é fundamental que haja um acompanhamento adequado para garantir que as mudas se desenvolvam de forma saudável e possam ser transportadas para o destino definitivo.
Para isso, é importante entender os diferentes tipos de viveiros existentes e quais as ferramentas e práticas necessárias para manter as boas condições do meio ambiente e dos cuidados. Com essas informações em mãos, é possível estabelecer um processo de produção eficiente, utilizando ferramentas como o termômetro digital, o higrômetro, o medidor de pH e o medidor de luminosidade, entre outras, para garantir uma boa sucessão das mudas, permitindo que as mesmas se desenvolvam de forma saudável. Neste sentido, viveiros florestais podem ser vistos como atividades complementares numa gestão podendo se constituir numa ferramenta para facilitar tanto a sustentabilidade ambiental como a econômica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Lemos, G. N.; Maranhão, R. R. Viveiros educadores: plantando vida. Brasília, DF, Ministério do Meio Ambiente, 2008.
Macedo, A. C. Produção de mudas em viveiros florestais: espécies nativas. In: Paulo Y. Kageyama, Luiz G. S. da Costa. São Paulo, SP, Fundação Florestal, 1993.
Medeiros, A. C. S. Armazenamento de Sementes de Espécies Florestais Nativas. Embrapa Florestas, p.24, 2001.
Monico, I. M. Árvores e Arborização Urbana na Cidade de Piracicaba-SP: Um Olhar Sobre a Questão à Luz da Educação Ambiental. Piracicaba, SP, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”- USP, , p.184,n.1, 2ª ed., 2001.
Felfili, J. M.; Ribeiro, J. F.; Fagg, C. W.; Machado, J. W. B. Recuperação de matas de galeria. Doc. Embrapa Cerrados, Planaltina, n.21, p.1-45, dezembro 2000.
Floriano, E. P. Armazenamento De Sementes Florestais. Caderno Didático, 1ª ed., n.1, p.10, Santa Rosa, 2004.
Paiva, H. N.; Gonçalves, W. Produção de mudas. Viçosa: Aprenda Fácil, p.128, 2001.
Trujillo Navarrete, E. Manejo de semillas, viveros y plantación inicial. [S.I.]: CEDE TRABAJO, [198-]. 151 p.
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