Análise do comportamento aplicada como recurso para o professor no processo de ensino e aprendizagem do aluno autista

APPLIED BEHAVIOR ANALYSIS AS A RESOURCE FOR TEACHERS IN THE TEACHING AND LEARNING PROCESS OF AUTISTIC STUDENTS

ANÁLISIS DEL COMPORTAMIENTO APLICADO COMO RECURSO PARA EL PROFESOR EN EL PROCESO DE ENSEÑANZA Y APRENDIZAJE DEL ALUMNO AUTISTA

Autor

Marcia Maria Barbosa Gonçalves Marques
ORIENTADOR
Prof. Dr. Tobias do Rosário Serrão

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/F7B220

DOI

Marques, Marcia Maria Barbosa Gonçalves . Análise do comportamento aplicada como recurso para o professor no processo de ensino e aprendizagem do aluno autista. International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

Este estudo tem como objetivo principal avaliar a efetividade da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) como ferramenta para facilitar a aprendizagem de indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Para isso, foi conduzida uma pesquisa bibliográfica abrangente, englobando estudos e intervenções voltadas ao tema. A partir da revisão da literatura, foram identificadas as principais características do TEA, bem como os fundamentos teóricos da ABA. Além disso, foram analisados estudos de caso e pesquisas que evidenciam a eficácia dessa abordagem no desenvolvimento de habilidades sociais, comunicativas, adaptativas e acadêmicas de pessoas autistas. Os achados da pesquisa indicam que a ABA pode contribuir significativamente para a inclusão e melhoria da qualidade de vida desses indivíduos, por meio de intervenções estruturadas e individualizadas. No entanto, destaca-se a necessidade de investimentos na formação de profissionais e na ampliação do acesso a programas de intervenção para otimizar a efetividade dessas práticas.
Palavras-chave
Análise do comportamento aplicada. Autismo. Aprendizagem. Educação.

Summary

This study aims to evaluate the effectiveness of Applied Behavior Analysis (ABA) as a tool for facilitating learning in individuals with Autism Spectrum Disorder (ASD). To achieve this, an extensive bibliographic research was conducted, encompassing studies and interventions related to the topic. Through the literature review, the main characteristics of ASD and the theoretical foundations of ABA were identified. Additionally, case studies and research highlighting the effectiveness of this approach in developing social, communicative, adaptive, and academic skills in autistic individuals were analyzed. The findings indicate that ABA can significantly contribute to the inclusion and improvement of the quality of life of these individuals through structured and individualized interventions. However, it is essential to invest in professional training and expand access to intervention programs to enhance the effectiveness of these practices.
Keywords
Applied behavior analysis. Autism. Learning. Education.

Resumen

Este estudio tiene como objetivo principal evaluar la eficacia del Análisis de la Conducta Aplicado (ABA) como herramienta para facilitar el aprendizaje en personas con Trastorno del Espectro Autista (TEA). Para ello, se realizó una exhaustiva investigación bibliográfica que abarcó estudios e intervenciones relacionadas con el tema. A través de la revisión de la literatura, se identificaron las principales características del TEA, así como los fundamentos teóricos del ABA. Además, se analizaron estudios de caso e investigaciones que evidencian la efectividad de este enfoque en el desarrollo de habilidades sociales, comunicativas, adaptativas y académicas en personas autistas. Los hallazgos indican que el ABA puede contribuir significativamente a la inclusión y a la mejora de la calidad de vida de estos individuos mediante intervenciones estructuradas e individualizadas. No obstante, se resalta la necesidad de invertir en la formación de profesionales y en la ampliación del acceso a programas de intervención para optimizar la efectividad de estas prácticas.
Palavras-clave
Análisis de la conducta aplicado. Autismo. Aprendizaje. Educación.

INTRODUÇÃO

A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) tem sido amplamente reconhecida como uma abordagem eficaz no processo de ensino e aprendizagem de indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), uma condição neurobiológica que afeta o desenvolvimento da comunicação e da interação social (Barcelos et al., 2020). Compreender como a aplicação dos princípios da ABA pode contribuir para o progresso desses indivíduos é essencial para promover maior autonomia e qualidade de vida. A crescente prevalência do TEA e seu impacto significativo na vida dos indivíduos e de suas famílias têm motivado inúmeras pesquisas acadêmicas (Borba e Barros, 2018).

Diante desse cenário, este estudo busca responder à seguinte questão: como a Análise do Comportamento Aplicada pode ser utilizada como um recurso facilitador de aprendizagem para indivíduos com Transtorno do Espectro Autista? Algumas hipóteses podem auxiliar na resposta a essa problemática. Acredita-se que a aplicação dos princípios da ABA, como reforço positivo e modelagem comportamental, favorece a aquisição de habilidades sociais, comunicativas e de autonomia em indivíduos com TEA. 

Além disso, supõe-se que a intervenção precoce e intensiva, combinada com a participação ativa da família e da escola, pode potencializar os resultados obtidos, promovendo um desenvolvimento mais significativo. O objetivo deste estudo é analisar a eficácia da Análise do Comportamento Aplicada como ferramenta para facilitar a aprendizagem de indivíduos com TEA. 

A importância deste estudo reside na necessidade de ampliar o conhecimento sobre o uso da ABA como recurso pedagógico para indivíduos com TEA. A partir dessa compreensão, espera-se oferecer suporte teórico e prático a profissionais da saúde, da educação e às famílias, contribuindo para o desenvolvimento de intervenções personalizadas e eficazes, favorecendo a inclusão social e a qualidade de vida dos indivíduos autistas.

Os principais aspectos abordados incluem os conceitos e características do TEA, com ênfase na definição, diagnóstico e principais manifestações comportamentais associadas ao transtorno. Também são discutidos os fundamentos da ABA, abrangendo seus princípios teóricos, metodologias e técnicas utilizadas na intervenção comportamental (Borba e Barros, 2018). Além disso, o estudo enfatiza a ABA como recurso facilitador da aprendizagem, destacando seus benefícios no desenvolvimento de habilidades sociais, comunicativas e acadêmicas em indivíduos autistas.

Assim, este estudo busca contribuir para a compreensão e aprimoramento das estratégias educacionais voltadas para o ensino de indivíduos com TEA, reforçando a importância da ABA como um recurso essencial para a promoção da aprendizagem e do desenvolvimento dessas pessoas.

METODOLOGIA

Este estudo foi desenvolvido com base em uma análise qualitativa de caráter bibliográfico, utilizando referências teóricas sobre a aplicação da Análise do Comportamento Aplicada como ferramenta facilitadora da aprendizagem de indivíduos com Transtorno do Espectro Autista. A pesquisa qualitativa tem como objetivo compreender fenômenos complexos por meio da interpretação de dados, enfatizando a construção do conhecimento a partir de múltiplas fontes de informação.

A revisão bibliográfica foi realizada em bases de dados acadêmicas reconhecidas, incluindo Google Acadêmico, SciELO, Periódicos CAPES e ResearchGate, além de repositórios institucionais de universidades brasileiras. Foram utilizadas palavras-chave como “Análise do Comportamento Aplicada”, “ABA e Autismo”, “Educação Inclusiva e ABA” e “Transtorno do Espectro Autista e aprendizagem” para refinar a busca dos artigos.

No total, 45 artigos científicos e trabalhos acadêmicos foram inicialmente identificados com base nesses critérios de busca. Após a análise dos resumos e da relevância dos estudos para o tema proposto, 18 artigos foram selecionados para compor o referencial teórico deste estudo. O critério de inclusão considerou artigos publicados nos últimos sete anos (2018-2025), garantindo atualidade às discussões. Além disso, foram priorizados estudos que apresentassem embasamento metodológico sólido, foco na aplicação da ABA no contexto educacional e acesso ao texto completo para análise detalhada.

Os artigos foram escolhidos de forma crítica, permitindo a construção de um referencial teórico sólido para discutir a aplicabilidade da ABA na inclusão e no desenvolvimento educacional de alunos autistas. A análise qualitativa dos estudos selecionados possibilitou a identificação dos principais desafios e benefícios da implementação dessa abordagem, contribuindo para a compreensão de seu impacto na promoção da aprendizagem e da autonomia de crianças com TEA.

REFERENCIAL TEÓRICO 

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA): CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS 

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é reconhecido como um transtorno do neurodesenvolvimento, conforme estabelecido pela Associação Americana de Psiquiatria (APA, 2013) no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5). Trata-se de uma condição que afeta o desenvolvimento da comunicação, interação social e comportamento do indivíduo, manifestando-se de diferentes formas e graus de intensidade ao longo da vida.

O termo “autismo” foi inicialmente utilizado em 1911 pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler, que buscava descrever características relacionadas à esquizofrenia. No entanto, foi Leo Kanner, em 1943, quem ampliou a concepção do transtorno e forneceu as primeiras descrições detalhadas das características clínicas do autismo infantil precoce (Cunha, 2015). Paralelamente, Hans Asperger, em 1944, conduziu estudos que levaram à identificação da Síndrome de Asperger, considerada uma condição dentro do espectro autista. Com o avanço das pesquisas, consolidou-se a compreensão de que o TEA não se trata de uma única condição, mas sim de um espectro que abrange diversas manifestações clínicas e níveis de suporte necessários para cada indivíduo (Pereira, 2021). 

O TEA é caracterizado por déficits nas dimensões sociocomunicativa e comportamental, que estão interligadas e variam conforme o nível de suporte necessário. A APA (2013) define o TEA como um distúrbio que envolve comprometimentos qualitativos na comunicação social e a presença de comportamentos restritivos e repetitivos, que podem impactar significativamente o funcionamento diário do indivíduo (Nascimento; Souza, 2018). Os déficits no desenvolvimento da linguagem podem se manifestar como ausência ou atraso significativo na aquisição da fala, dificuldades na reciprocidade social, restrição no compartilhamento de interesses e expressões emocionais limitadas. No campo comportamental, são comuns padrões repetitivos de movimentos, apego inflexível a rotinas, interesses altamente restritos e hipersensibilidade a estímulos sensoriais (Rosa; Matsukura; Squassoni, 2019).

Dentro desse contexto, é fundamental compreender que o TEA abrange diferentes níveis de suporte, classificados como leve, moderado e severo, de acordo com a intensidade dos desafios enfrentados pelo indivíduo no dia a dia. Dessa forma, não é possível generalizar as manifestações do transtorno, pois cada pessoa apresenta particularidades que podem incluir habilidades intelectuais preservadas, dificuldades motoras ou um desenvolvimento cognitivo atípico. Além disso, fatores ambientais e intervenções precoces influenciam diretamente o desenvolvimento das habilidades sociais, comunicativas e adaptativas (Dorigon e Velasco, 2018).

As manifestações do TEA no cotidiano da criança são perceptíveis desde os primeiros anos de vida e podem impactar sua interação social e independência funcional. A dificuldade na comunicação pode ser observada na ausência de gestos, atraso na fala ou falhas na compreensão da linguagem não verbal. O déficit na interação social se expressa pela dificuldade em compreender normas sociais, estabelecer contato visual e desenvolver relacionamentos significativos. Além disso, o déficit comportamental se manifesta na necessidade de seguir padrões rígidos de rotina, bem como em comportamentos repetitivos, como balançar o corpo, alinhar objetos e ecolalia (repetição de palavras ou frases). Esses sinais variam em intensidade e impacto conforme o grau de severidade do TEA (Chaves, 2019).

Um aspecto essencial a ser destacado é que o Transtorno do Espectro Autista não é uma condição linear, pois suas manifestações variam significativamente entre os indivíduos. Não existe uma fórmula única para evidenciar os sintomas do autismo, sendo cada caso singular. O reconhecimento da diversidade dentro do espectro é essencial para evitar generalizações que possam comprometer o suporte adequado a cada indivíduo. Embora os desafios sejam evidentes, é fundamental compreender que as características do autismo não devem ser encaradas como um impeditivo absoluto para a vida pessoal, educacional e profissional das pessoas autistas (Nascimento; Souza, 2018).

A legislação brasileira estabelece importantes diretrizes para garantir os direitos das pessoas com TEA. A Lei nº 12.764/2012, conhecida como Lei Berenice Piana, institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, assegurando direitos fundamentais, como o acesso a diagnóstico precoce, tratamento multiprofissional e inclusão escolar. A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) reforça o direito à educação inclusiva e adaptações necessárias para garantir o aprendizado e a participação efetiva dos alunos com TEA no ambiente escolar. Além disso, o Decreto nº 10.502/2020 institui a Política Nacional de Educação Especial, visando à oferta de atendimento especializado e estratégias que favoreçam a inclusão e o desenvolvimento dos estudantes autistas.

No que se refere às práticas de intervenção, manuais internacionais, como o Manual de Intervenção Precoce para Crianças com TEA da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2019) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5, APA, 2013), fornecem orientações fundamentais para o diagnóstico e acompanhamento clínico do autismo. No Brasil, o Protocolo de Diretrizes para o Atendimento da Pessoa com TEA do Ministério da Saúde (2014) apresenta diretrizes para a assistência médica, terapêutica e educacional dessas pessoas.

Diante da complexidade do TEA, é essencial que a sociedade busque conhecimento, acompanhamento especializado e melhores condições para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social das pessoas autistas. O transtorno não deve ser visto apenas pelos desafios que impõe, mas como uma oportunidade para ampliar perspectivas, aprofundar estudos e promover o reconhecimento do indivíduo como parte integrante da sociedade. O fortalecimento de políticas públicas, a capacitação de profissionais e o acesso a intervenções baseadas em evidências científicas são passos fundamentais para garantir o desenvolvimento e a inclusão de pessoas com TEA.

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA (ABA)

A Análise Aplicada do Comportamento (ABA) tem sido amplamente utilizada como abordagem de intervenção comportamental no tratamento dos sintomas do autismo. Diversas metodologias intensivas de ensino baseadas na ABA têm sido desenvolvidas, como o Early Start Denver Model, Early and Intensive Behavioral Intervention (EIBI) e Discrete Trial Teaching (DTT). A terapia ABA possui um sólido respaldo científico e é amplamente adotada nos Estados Unidos e Canadá para melhorar a qualidade de vida das pessoas com TEA (Dorigon; Velasco, 2018). 

A abordagem da Análise do Comportamento é fundamentada na ideia de que o comportamento é moldado pelo ambiente e suas consequências. Comportamentos seguidos por consequências favoráveis têm maior probabilidade de ocorrer novamente, enquanto comportamentos não reforçados ou com reforços menos gratificantes tendem a diminuir ou extinguir (Barcelos et al., 2020). 

Uma intervenção baseada na ABA envolve a identificação de comportamentos e habilidades a serem melhorados, definição de objetivos, e a implementação de estratégias comprovadamente eficazes para a modificação do comportamento. Durante as sessões de aplicação da ABA, o profissional utiliza manejo comportamental, como brincar de diferentes formas com brinquedos, elogiar, imitar e reproduzir o comportamento da criança. São estabelecidas instruções claras, os comportamentos-alvo são definidos e mensurados continuamente, a motivação é aumentada por meio de reforços variados e são utilizados métodos explícitos para promover a generalização e a manutenção dos comportamentos aprendidos (Dorigon; Velasco, 2018). 

A coleta de dados é uma parte fundamental da ABA, sendo realizada antes, durante e após a intervenção. Essa análise de dados auxilia na avaliação do progresso individual da criança e na tomada de decisões relacionadas aos programas de intervenção e estratégias mais eficazes para promover a aquisição de habilidades específicas (Borba e Barros, 2018). 

A ABA pode ser aplicada por diversos profissionais da área da saúde, desde que tenham a certificação da Behavior Analyst Certification Board (BACB). No entanto, a intensidade e os custos associados a essas intervenções geralmente tornam-nas inacessíveis para uma grande proporção da população afetada, especialmente em países em desenvolvimento com pouco apoio governamental, como o Brasil (Barcelos et al., 2020).

Assim, esse cenário representa um desafio para garantir o acesso e a implementação ampla dessa abordagem efetiva no tratamento do TEA.

É fundamental que, quando o diagnóstico de autismo é fechado por profissionais capacitados, as intervenções necessárias sejam iniciadas precocemente. Identificar o autismo em estágios iniciais e trabalhar adequadamente com a criança são estratégias primordiais para promover os avanços desejados. É necessário investigar e compreender as ferramentas que têm demonstrado eficácia nas intervenções para crianças autistas, levando em consideração a preparação adequada, de acordo com as possibilidades da família e com a aplicação no ambiente doméstico e escolar (Brites, 2019).

No entanto, ainda é necessário ampliar nosso entendimento sobre esse Transtorno do Desenvolvimento e expandir as redes de apoio, pois o número de profissionais capacitados para intervir junto a essa população é limitado. Uma das abordagens cientificamente comprovadas que tem ganhado destaque no cenário brasileiro é a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), desenvolvendo as habilidades necessárias para a convivência em sociedade. A ABA surge como uma ciência de intervenção para auxiliar no estímulo e no manejo do comportamento dessas crianças. Após o diagnóstico, intensificam-se os tratamentos, inicialmente focados em minimizar os sintomas do autismo (Borba, Barros, 2018).

A ABA é uma abordagem fundamentada em conceitos científicos derivados do campo do Behaviorismo, que observa, analisa e explica a relação entre o ambiente, o comportamento humano e a aprendizagem. Ela tem sido reconhecida como uma das abordagens mais efetivas na intervenção com crianças diagnosticadas com TEA (Oliveira, 2018).

O psicólogo Ivar Lovaas foi um dos pioneiros no uso dos princípios da ABA e do DTT para promover habilidades em crianças com autismo. A ABA propõe intervenções para modificar comportamentos problemáticos, visando uma melhor adaptação social da criança. Quando o diagnóstico é feito precocemente, as intervenções podem ser mais direcionadas, baseando-se no comportamento, que está associado a áreas centrais, como o funcionamento social e a linguagem (Chaves, 2019).

A ABA tem o objetivo de promover um ganho significativo no convívio social da criança autista, por meio de intervenções direcionadas, reduzindo prejuízos e estimulando seu progresso. No entanto, pesquisas e estudos de caso têm confirmado que as intervenções baseadas na ciência da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) são atualmente o modelo conhecido e cientificamente comprovado para promover a inclusão ativa de pessoas autistas, visando sua reabilitação ou, no mínimo, sua integração independente na comunidade (Nascimento; Souza, 2018).  

A ABA não requer a execução de um conjunto fixo e pré-definido de tarefas, procedimentos ou etapas, mas sim intervenções que se baseiam em sete características principais: aplicada, comportamental, analítica, tecnológica, conceitualmente sistemática, efetiva e generalizável. Essas intervenções levam em consideração a personalidade do indivíduo, sua origem social, seu repertório atual e os comportamentos-alvo (Brites e Brites, 2019). 

A ABA tem como objetivo identificar as habilidades que a pessoa autista já domina e ensinar aquelas que ainda não possui controle. É uma abordagem realizada por psicólogos treinados, que consiste no estudo e compreensão do comportamento da criança, de sua relação com o ambiente e com as pessoas com as quais interage. A ABA utiliza várias técnicas comportamentais para promover a aprendizagem, o estímulo e o desenvolvimento de habilidades de linguagem. O uso de reforçadores positivos é uma estratégia amplamente empregada para auxiliar no sucesso do método, contribuindo para o desenvolvimento dessas habilidades e permitindo uma análise mais aprofundada do processo (Pereira, 2021).

De acordo com Oliveira (2021), os objetivos da intervenção baseada na ABA incluem: autossuficiência em atividades da vida diária, comunicação funcional, habilidades sociais, independência na realização de tarefas acadêmicas, controle de comportamentos disruptivos e aumento da autonomia geral no contexto do TEA. A ABA também é considerada uma forma terapêutica lúdica, aproveitando a oportunidade para a criança se divertir e aprender, tornando a terapia agradável.

A aplicação da ABA é altamente individualizada, sendo um programa de ensino personalizado para cada criança, adaptado às suas necessidades individuais. A implementação da ABA exige a criação de um plano de ensino com objetivos claros e individualizados, adequados às necessidades de cada criança, com sessões que podem variar de 30 a 40 horas por semana (Borba, Barros, 2018).

A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é uma abordagem que busca promover a construção de habilidades necessárias para que a criança autista possa alcançar maior independência e qualidade de vida. A colaboração de uma equipe multidisciplinar e a intensa cooperação da família e da escola são elementos fundamentais para o sucesso da aplicação da ABA, sendo importante aumentar a quantidade de intervenção (Barcelos et al., 2020).

Essa abordagem envolve a elaboração de um plano de intervenção no ambiente familiar do autista, contando com os pais como executores desse planejamento. O profissional responsável pela aplicação da ABA deve realizar anotações precisas e meticulosas, buscando informações sobre o desenvolvimento das habilidades-alvo. O objetivo é trabalhar os déficits, identificando os comportamentos nos quais a criança apresenta dificuldades ou inabilidades, prejudicando sua vida e aprendizado (Oliveira, 2018).

A intervenção também visa reduzir a frequência e intensidade de comportamentos problemáticos, como agressividade, estereotipias e outros que prejudicam o convívio social e a aprendizagem da criança. Além disso, busca-se promover o desenvolvimento de habilidades sociais, comunicativas, adaptativas, cognitivas, acadêmicas, entre outras, visando comportamentos socialmente (Rosa, Matsukura e Squassoni, 2019).

A aplicação da ABA requer a construção de um plano de intervenção prático, com objetivos direcionados e procedimentos individualizados que abordem as dificuldades específicas de cada indivíduo. São realizados treinamentos intensivos e intervenções semanais, é importante que as atividades sejam agradáveis e prazerosas para a criança, utilizando reforçadores para manter sua motivação ao longo do processo (Borba; Barros, 2018).

Desta forma, a aprendizagem ocorre por meio de tentativas discretas, estruturadas em etapas tranquilas, utilizando reforços positivos para alcançar os objetivos, dentro das estratégias de desenvolvimento de novos repertórios comportamentais na ABA, utiliza-se a avaliação funcional, priorizando as três etapas conhecidas como “ABCs do Behaviorismo”: antecedente, comportamento e consequência.

CONTRIBUIÇÃO DA TÉCNICA ABA NA INCLUSÃO DE AUTISTAS 

A contribuição da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) para a inclusão de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no ambiente escolar tem sido amplamente discutida em diversas pesquisas. Estudos apontam a importância dessa abordagem na eficácia do desenvolvimento de crianças autistas, destacando sua aplicação na educação infantil e no ensino fundamental. Conforme Felinto et al., (2023), a ABA tem um papel fundamental na mediação do aprendizado, pois possibilita intervenções estruturadas que reduzem frustrações e aumentam a motivação dos alunos no processo educacional. A pesquisa conduzida por esses autores foi de caráter bibliográfico e demonstrou que a utilização da ABA na educação infantil promove avanços tanto no desenvolvimento cognitivo quanto no pedagógico, tornando a aprendizagem mais acessível e eficaz.

No mesmo contexto, Rosa e Albrecht (2021) realizaram uma revisão bibliográfica com o objetivo de compreender e analisar a importância da ABA na educação de alunos com TEA de níveis II e III no ensino fundamental. O estudo destacou que o conhecimento sobre a ABA permite ao professor reconhecer as particularidades e as habilidades básicas do aluno autista, promovendo um trabalho individualizado e de qualidade. Essa personalização no ensino possibilita maior inclusão e adaptação às necessidades de cada estudante, tornando o processo de aprendizagem mais eficiente. Da mesma forma, Moraes, Van-Lume e Silva (2018) enfatizaram a necessidade de um currículo adaptado para crianças com TEA, evidenciando que a formação inicial e continuada dos docentes é um fator determinante para a construção de um ambiente educacional verdadeiramente inclusivo.

Além disso, Silva, Passeto e Barcelos (2022) reforçam a importância do professor como agente da inclusão ao aplicar a ABA em sala de aula. A pesquisa argumenta que, quando a ABA é utilizada de maneira eficaz, há uma colaboração entre professores e terapeutas para facilitar a generalização das habilidades adquiridas pelos alunos, contribuindo significativamente para sua evolução acadêmica e social. Esse aspecto também é destacado na investigação de Silva e Almeida (2021), que analisaram os impactos da ABA no processo de inclusão escolar de crianças autistas. Os autores concluíram que a metodologia da ABA pode possibilitar uma participação mais ativa e autônoma dos alunos no ambiente educacional, tornando o aprendizado mais significativo. 

No entanto, esse mesmo estudo apontou contrapontos frequentemente discutidos na literatura, como a crítica de que a ABA condiciona o comportamento dos alunos de maneira robotizada. Apesar dessas ressalvas, os pesquisadores ressaltam que a ABA, quando aplicada de forma individualizada e respeitando as necessidades de cada criança, promove avanços significativos no desenvolvimento pedagógico, social e emocional.

Brito (2022) também contribui para essa discussão ao investigar o papel do psicólogo no processo de inclusão de alunos autistas em escolas regulares. O estudo destaca que, ao trabalhar o desenvolvimento integral da criança e planejar intervenções personalizadas, é possível promover uma inclusão escolar eficaz, garantindo o aprendizado e a adaptação do aluno ao ambiente acadêmico. Outro estudo relevante, conduzido por Felinto et al., (2023), buscou identificar a percepção de pais e profissionais sobre a aplicação da ABA em crianças com TEA. A pesquisa revelou que essa metodologia auxilia diretamente na aquisição de habilidades sociais e afetivas, permitindo que as crianças desenvolvam maior autonomia e participação no meio escolar.

Dessa forma, a revisão bibliográfica evidencia que a ABA desempenha um papel crucial no contexto educacional, contribuindo significativamente para o desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças autistas. No entanto, para que sua aplicação seja plenamente eficaz, é fundamental a implementação de mudanças nas estratégias pedagógicas, incluindo a formação continuada dos professores em ABA, a adaptação curricular e um trabalho colaborativo entre todos os profissionais envolvidos no processo de aprendizagem das crianças com TEA. A construção de um ambiente inclusivo demanda esforços coordenados entre escola, professores, terapeutas e familiares, garantindo que cada criança autista receba o suporte adequado para sua evolução acadêmica e social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Análise do Comportamento Aplicada tem se consolidado como uma ferramenta eficaz para a inclusão e o desenvolvimento educacional de indivíduos com Transtorno do Espectro Autista. A partir da revisão bibliográfica realizada, foi possível identificar que a ABA oferece estratégias estruturadas para a modificação de comportamentos e a promoção de habilidades sociais, comunicativas e acadêmicas. Sua aplicação no ambiente escolar possibilita que os alunos autistas tenham maior motivação para aprender, reduzindo frustrações e ampliando sua capacidade de interação e autonomia.

A ABA pode ser utilizada como um recurso facilitador da aprendizagem de indivíduos com TEA ao atuar diretamente na construção de habilidades essenciais para o desenvolvimento desses alunos. Por meio do reforço positivo, da modelagem comportamental e da intervenção precoce e intensiva, a abordagem contribui significativamente para a adaptação do estudante ao ambiente escolar, promovendo sua inclusão e participação ativa no processo educacional. Estudos analisados demonstram que a capacitação dos professores no uso da ABA é fundamental para que os benefícios dessa metodologia sejam potencializados, permitindo um ensino mais individualizado e eficaz.

No entanto, apesar de sua eficácia amplamente documentada, a implementação da ABA ainda enfrenta desafios, como a necessidade de maior formação profissional, a adaptação curricular e a ampliação do acesso a essa abordagem, especialmente em contextos educacionais menos estruturados. Além disso, algumas críticas apontam que a ABA pode condicionar o comportamento do aluno de maneira excessivamente padronizada, o que ressalta a importância de sua aplicação de forma flexível e respeitosa às individualidades de cada estudante.

Dessa forma, conclui-se que a ABA é uma metodologia essencial para a inclusão de alunos com TEA no ambiente escolar, promovendo o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais e emocionais. Para que sua aplicação seja plenamente eficaz, é necessário um trabalho conjunto entre educadores, terapeutas, familiares e gestores escolares, garantindo que as estratégias adotadas estejam alinhadas às necessidades específicas de cada estudante. Assim, a ABA se destaca como um instrumento valioso para a construção de uma educação mais inclusiva, acessível e equitativa para pessoas autistas.

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Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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Edição

v. 5
n. 46
Análise do comportamento aplicada como recurso para o professor no processo de ensino e aprendizagem do aluno autista

Área do Conhecimento

A competição como incentivo para a inclusão nas aulas de Educação Física
educação física escolar. inclusão. competição. mediação pedagógica. prática docente.
Políticas de inclusão para autismo e síndromes: Análise de práticas e eficácia
autismo; eficácia; inclusão; práticas; síndromes.
Impacto do autismo e síndromes no ambiente escolar: Intervenções e resultados acadêmicos
autismo; síndromes; educação inclusiva; intervenções pedagógicas; desempenho acadêmico.
Educação de alunos com autismo e síndromes: Métodos de ensino e suporte escolar
autismo; educação; inclusão; métodos de ensino; síndromes.
Desafios e possibilidades na inclusão de alunos com transtorno do espectro autista nas aulas de educação física
educação física; inclusão; transtorno do espectro autista (TEA); práticas pedagógicas; políticas públicas.
Perspectivas sobre a atuação e contribuição dos profissionais de apoio na educação especial
educação inclusiva; profissionais de apoio; formação pedagógica; escola pública; práticas pedagógicas.

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