INTRODUÇÃO

O desenvolvimento infantil é um processo complexo e multifacetado, que envolve não apenas o crescimento físico, mas também o desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Nesse contexto, a psicomotricidade se apresenta como uma abordagem integradora, que reconhece a importância do corpo e do movimento como pilares fundamentais para o desenvolvimento global da criança. A psicomotricidade engloba o estudo da relação entre o movimento e os processos mentais, promovendo a integração das funções motoras, cognitivas e emocionais.

Nos primeiros anos de vida, o desenvolvimento psicomotor desempenha um papel crucial na formação de habilidades essenciais, como a coordenação motora, o equilíbrio, a lateralidade e a percepção espacial. Essas habilidades são fundamentais para a aprendizagem e para a interação social, uma vez que influenciam diretamente a capacidade da criança de explorar o ambiente ao seu redor, se comunicar, e construir vínculos afetivos.

A literatura científica tem evidenciado que a prática de atividades psicomotoras pode trazer benefícios significativos para o desenvolvimento infantil, prevenindo dificuldades de aprendizagem e promovendo o bem-estar emocional. A psicomotricidade não apenas auxilia no desenvolvimento de habilidades motoras, mas também no desenvolvimento de competências cognitivas, como a atenção, a memória e o raciocínio lógico, e socioemocionais, como a autoestima, a autoconfiança e a empatia.

Este artigo tem como objetivo explorar a importância da psicomotricidade no desenvolvimento infantil, com ênfase em sua aplicação no ambiente escolar, especialmente na educação infantil. A pesquisa busca destacar como a integração de atividades psicomotoras no currículo escolar pode contribuir para o desenvolvimento integral das crianças, favorecendo a aprendizagem, a socialização e o bem-estar emocional.

REFERENCIAL TEÓRICO

CONCEITO E PRINCÍPIOS DA PSICOMOTRICIDADE

A psicomotricidade é uma ciência que integra as dimensões motora, cognitiva e afetiva do desenvolvimento humano, focando na importância do corpo e do movimento como mediadores da relação do indivíduo com o mundo (Fonseca, 2023). Segundo Oliveira e Silva (2022), a psicomotricidade se baseia na compreensão de que o desenvolvimento motor está intimamente ligado ao desenvolvimento psicológico e emocional, sendo essencial para a aprendizagem e adaptação social das crianças.

A psicomotricidade possui duas abordagens principais: a psicomotricidade funcional, que enfoca o desenvolvimento das habilidades motoras e sua relação direta com a aprendizagem, e a psicomotricidade relacional, que considera o movimento como uma forma de expressão e interação social, integrando aspectos emocionais e afetivos (Carvalho & Silva, 2024). Ambas as abordagens compartilham a visão de que o corpo e o movimento são fundamentais para o desenvolvimento integral da criança, servindo como base para a construção do conhecimento e para a formação de vínculos afetivos.

DESENVOLVIMENTO MOTOR E PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL 

Conforme Oliveira (2013), a psicomotricidade evoluiu de forma significativa, tanto que se transformou em uma matéria específica, soberana e necessária. Com tudo, o Brasil demorou mais para aplicar os estudos pedagógicos e psicológicos. Na década de 1970, recebeu grandes visitas de pesquisadores estrangeiros para palestrar cursos para a formação de profissionais brasileiros. Desde então o Brasil vem se aprimorando para melhorar os estudos da área, com investimentos altos, tanto que reconhecemos a diferença entre postura de novas aprendizagens e terapêuticas, assim valorizando os aspectos emocionais e afetivos das crianças para as intervenções da psicomotricidade. 

A palavra psicomotricidade tem origem grega psyché (alma) e do verbo latino moto (mover frequentemente). Le Boulch (1984) afirma que a psicomotricidade tem nascido nos serviços de neuropsiquiatria infantil com o nome de reeducação psicomotora. 

A psicomotricidade é o termo utilizado para uma relação de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é resultante de sua individualidade, sendo pela sua linguagem ou socialização. A musculatura e articulações formam uma estrutura corporal dos seres humanos que é preparada para fins de movimentos, a evolução corporal, funcional, cognitiva e física dos seres humanos é resultado do que ele faz como seu próprio corpo, sua vida em cada etapa, respeitando as fases de desenvolvimento (Almeida, 2014). 

A psicomotricidade abrange o estudo de várias habilidades que se relacionam e trabalhar em conjunto corporal. São várias as terminologias e classificações utilizadas para denominar formações psicomotoras, de toda forma, os conceitos são praticamente os mesmos, a diferença está na maneira de identificá-los como esquema corporal, imagem corporal, coordenação global e fina, ritmo, lateralidade, equilíbrio, postura e estruturação espacial. Tais elementos são de extrema importância para a criação corporal e intelectual da criança, que em conjunto a afetividade e a inteligência ligada a vivências e experiências da mesma, tendo como desenvolvimento em maturidade, formação e conhecimento do seu próprio corpo (Barros, 2007). 

DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL 

As partes práticas que trazem a estimulação do corpo são fundamentais nas séries iniciais, pois com os movimentos realizados e que a criança mostra o que realmente quer expressando seus sentimentos, assim evoluindo sua autonomia e criatividade, como desenvolve sua cidadania. A escola não interfere na sociedade, mas contribui com um papel muito importante com um ensino criticamente, e mostrando para os alunos elementos iniciais para um viver em sociedade com ensinamentos básicos para cidadania (Kramer, 1999). 

A psicomotricidade pode ser trabalhada de forma coletiva ou individual, através de brincadeiras, jogos, canções ou atividades que envolvem o manuseio como recorte e colagem, pintura, desenhos, pontilhados, etc. Essas atividades devem ser redirecionadas de acordo com a faixa etária e com a necessidade e limitação de cada um levando em conta a especificidade na turma de alunos, a fim de contribuir positivamente para o desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança, além de ajudar a criança a reconhecer e melhorar limitações apresentadas. 

A educação psicomotora vem para ajudar a melhorar as praticas pedagógicas ensinadas e torná-las, de certa forma, mais lúdicas, para os professores distinguirem as limitações dos discentes e perceberem a dificuldade que cada aluno individualmente possui e trabalhá-la para que o mesmo cresça e se desenvolva da melhor maneira possível (Monteiro, 2015). 

A busca de espaço para o movimento de forma prática dentro das escolas e o conceito de se criar um espaço para expressão da criança para que ela se sinta confortável naquele ambiente. Neste espaço, a criança teria um encontro consigo mesma, através de suas atividades psicomotoras livres e espontâneas, de jogos criativos e de dramatizações criadas por si própria (Santos; Cavalari, 2010). Por isso o ambiente em que está é tão importante para seu desenvolvimento psicomotor. 

Todas as preparações fundamentais para a psicomotricidade estão apoiadas no procedimento praticado do cérebro, visto que a alteração contínua na capacidade motora de um indivíduo é estimulada pela interação desse indivíduo com seu ambiente externo e com a tarefa em que ele esteja praticando. Assim, as características hereditárias de uma pessoa, em conjunto com condições ambientais específicas que está sujeito a passar e os próprios requerimentos da tarefa que o indivíduo desempenha, determinam a quantidade e a extensão da aquisição de destrezas motoras e a melhoria da aptidão física (Gallahue; Ozmun, 2002). 

Santos e Cavalari (2010) mostram que a psicomotricidade é reconhecida nas escolas como um procedimento psicopedagógico, planejando diminuir disfunções e preencher omissão no desenvolvimento intelectual das crianças. Dentro dessa abordagem instrumentalista, os autores apontam que surgiram os exercícios conhecidos hoje como coordenação visual motora, orientação, estruturação espacial, organização do esquema corporal, lateralidade, ritmo entre outros. 

Numa perspectiva de investir no processo pedagógico da educação infantil é papel fundamental do professor ter um embasamento teórico-prático, compreender a criança para que ela possa se encaixar e entender as práticas pedagógicas. Além disso, estimular e criar condições para que o educando possa explorar as riquezas do seu meio, oferecendo uma diversidade de materiais cujo manuseio lhe permita crescer e se desenvolver através da curiosidade de descoberta, pois a manipulação de materiais concretos e jogos pedagógicos estará estimulando tanto a parte intelectual como também a motor da criança (Jesus, 2017). 

O atraso na evolução do desenvolvimento é causado por diversos fatores relacionados à falta de conhecimento em relação à psicomotricidade pelos pais e profissionais da educação. Considera-se que a partir do conhecimento sobre psicomotricidade, tanto os pais dentro de casa saberão desenvolver e investigar o movimento corporal de seus filhos, quanto os professores, no grau de desenvolvimento corporal mais elevado da criança reconhecer dificuldades que seus alunos possam apresentar, assim trabalhar com o aluno propondo exercícios satisfatórios para o processo de aprendizagem. O fato é que a ciência do movimento constitui em uma importante ferramenta para desenvolver a capacidade postural, uma imagem mental do corpo por trabalhar o intelectual da criança, uma vez que corpo e mente são ligados no ser humano (Oliveira, 2013). 

A criança teria condição de realizar e confrontar com seus desejos e buscar sua própria identidade corporal por meio de atividades que possam incentivá-las, que tragam a criança a vontade de se mexer e de realizar movimentos corporais posicionar-se frente às frustrações necessárias humanização e, consequentemente, aceitar as faltas e os limites que demarcam os desejos e ter acesso à comunicação simbólica e à socialização demostram nos tempos de hoje (Santos ; Cavalari, 2010). 

O movimento é reconhecido como sendo o objeto de estudo e aplicação da educação física. Seja qual for à área de atuação, a educação física trabalha com movimento aplicável a qual faixa etária e sem distinção, sendo inegável a sua contribuição ao desenvolvimento global do ser humano em todos os aspectos físicos e mentais, desde que estes trabalhos sejam adequados individualmente para cada indivíduo (Gotani, 1988). 

É na escola que a criança começa a presenciar experiências de curiosidade sobre as coisas, e a vontade de tocar e realizar movimentos, assim se conhecendo a si mesma, tendo o prazer de reconhecer o que consegue ou não fazer, e sempre buscando coisas novas (Freitas, 2017). 

Segundo Forte (2010), todos estão a cada dia conhecendo a relação da movimentação, controle e a competência do corpo, em reação aos obstáculos que enfrentamos diariamente em um mundo que sempre está passando por mudanças. Nas idades iniciais o desenvolvimento motor se ressalta através de uma ampla conquista de novas de habilidades motoras, que incentiva a criança a ter um desenvolvimento mais apurado do seu corpo em diferentes posturas, se locomover no ambiente de várias formas e também mexer em objetos de várias formas. 

Quanto mais apurada e mais estimuladora uma habilidade, maior deve ser a prática para o desenvolvimento do controle indispensável. Assim, uma vez que a criança obtém o comando sobre seu corpo novos horizontes estarão abertos para explorar. 

PSICOMOTRICIDADE E DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

A relação entre psicomotricidade e desenvolvimento cognitivo é amplamente reconhecida na literatura. Atividades que envolvem orientação espacial, ritmo, lateralidade e sequência lógica ajudam a desenvolver habilidades cognitivas como a percepção, a atenção, a memória e o raciocínio (Santos & Oliveira, 2024). Segundo Almeida e Reis (2022), crianças expostas a atividades psicomotoras desde cedo demonstram um desempenho superior em tarefas de resolução de problemas e habilidades matemáticas, evidenciando a importância da integração de práticas psicomotoras no currículo escolar.

A psicomotricidade também contribui para a preparação das crianças para a alfabetização. Através do desenvolvimento da coordenação motora fina e da consciência corporal, as crianças são capacitadas para atividades de escrita e leitura, o que facilita o processo de alfabetização (Gomes & Santos, 2022). Estudos recentes indicam que a intervenção psicomotora pode melhorar significativamente as habilidades de leitura e escrita, especialmente em crianças com dificuldades de aprendizagem.

DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL E SOCIAL ATRAVÉS DA PSICOMOTRICIDADE

A psicomotricidade é uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento emocional, pois permite que as crianças expressem seus sentimentos e emoções por meio do movimento e do jogo simbólico. Atividades psicomotoras, como jogos de imitação e expressão corporal, incentivam a criança a explorar e entender suas emoções, promovendo o autoconhecimento e o controle emocional (Lima & Moreira, 2023).

Além disso, a psicomotricidade favorece o desenvolvimento social ao promover a interação em grupo, a cooperação e o respeito pelas regras. Barreto e Silva (2023) destacam que atividades psicomotoras em grupo proporcionam às crianças oportunidades para aprender habilidades sociais essenciais, como compartilhar, negociar e resolver conflitos. 

Estudos mostram que crianças envolvidas em atividades psicomotoras apresentam maior empatia e melhores habilidades de comunicação, facilitando sua integração em grupos sociais (Barros & Martins, 2024).

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Este estudo investigou a importância da psicomotricidade no desenvolvimento infantil, destacando suas contribuições para o desenvolvimento motor, cognitivo, emocional e social das crianças, especialmente no contexto da educação infantil. A revisão integrativa da literatura revelou que a psicomotricidade desempenha um papel fundamental na formação integral da criança, oferecendo uma abordagem que valoriza o corpo e o movimento como mediadores essenciais para a construção do conhecimento e para o desenvolvimento de habilidades essenciais para a vida.

A psicomotricidade mostrou-se crucial para o desenvolvimento motor, promovendo melhorias significativas na coordenação motora grossa e fina, no equilíbrio e na percepção espacial. Essas habilidades são essenciais para a realização de tarefas cotidianas, a prática de atividades físicas e a independência da criança. A prática regular de atividades psicomotoras facilita a maturação dos sistemas neuromusculares, aprimorando a capacidade de a criança controlar e coordenar seus movimentos, o que é fundamental para o seu desenvolvimento físico e bem-estar geral.

A análise dos estudos revisados indicou que a psicomotricidade contribui para o desenvolvimento cognitivo ao estimular funções executivas como a atenção, a memória, o planejamento e o raciocínio lógico. Essas funções são essenciais para o aprendizado escolar e para a resolução de problemas no dia a dia. Atividades psicomotoras que envolvem orientação espacial, ritmo, lateralidade e sequências lógicas ajudam a desenvolver habilidades cognitivas, facilitando o processo de alfabetização e a aquisição de outras competências acadêmicas. A inclusão de atividades psicomotoras no currículo escolar, portanto, não apenas apoia o desenvolvimento motor, mas também potencializa o desempenho cognitivo das crianças.

A psicomotricidade também desempenha um papel vital no desenvolvimento emocional e social das crianças. Por meio de atividades lúdicas e simbólicas, a psicomotricidade permite que as crianças expressem seus sentimentos e emoções, promovendo o autoconhecimento e o controle emocional. Essas atividades ajudam a criança a desenvolver a autoestima, a autoconfiança e a empatia, habilidades fundamentais para a construção de relacionamentos saudáveis e para a adaptação em diferentes contextos sociais. Além disso, as atividades psicomotoras em grupo promovem a cooperação, o respeito às regras e a resolução de conflitos, fortalecendo as habilidades sociais e a capacidade de trabalho em equipe.

A revisão revelou que a incorporação da psicomotricidade no ambiente escolar, especialmente na educação infantil, é de extrema importância para o desenvolvimento integral das crianças. Atividades psicomotoras bem planejadas e executadas proporcionam um ambiente de aprendizagem que valoriza a ludicidade, a experimentação e a criatividade, elementos essenciais para o desenvolvimento infantil. 

A formação contínua de professores em práticas psicomotoras é crucial para que essas atividades sejam implementadas de maneira eficaz, garantindo que sejam adaptadas às necessidades individuais das crianças e que promovam um desenvolvimento equilibrado e inclusivo.

As evidências apontam para a necessidade de políticas educacionais que promovam a integração da psicomotricidade no currículo da educação infantil. Instituições de ensino e educadores devem reconhecer a importância de um desenvolvimento integral, que inclua o corpo e o movimento como elementos centrais na formação da criança. Investir na formação de professores e na criação de espaços adequados para a prática psicomotora é essencial para maximizar os benefícios dessa abordagem

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