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Resumo
INTRODUÇÃO
A educação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) exige abordagens interdisciplinares que integrem diferentes áreas do conhecimento, como educação, saúde e assistência social, a fim de proporcionar um atendimento adequado às suas necessidades. No entanto, a implementação de práticas interdisciplinares enfrenta desafios significativos, como a fragmentação do conhecimento, a falta de formação específica dos profissionais e a ausência de políticas institucionais eficazes. Essas barreiras podem comprometer a inclusão educacional e limitar o potencial de desenvolvimento dos estudantes com TEA.
De acordo com Soares et al. (2015), a atuação interprofissional no atendimento a crianças com TEA contribui significativamente para a eficiência das intervenções, pois permite uma abordagem mais ampla e integrada, considerando as particularidades de cada aluno. No entanto, os autores destacam que a falta de articulação entre os profissionais da educação e da saúde representa um dos principais entraves à implementação dessas práticas.
A necessidade de formação continuada para os docentes e demais especialistas envolvidos na educação inclusiva é um fator determinante para o sucesso da interdisciplinaridade nesse contexto. Além disso, conforme apontado por Bungenstab e Alves (2022), um dos grandes desafios da inclusão escolar de crianças autistas está na insuficiência de suporte institucional e na carência de estratégias pedagógicas eficazes. Em suas pesquisas, os autores identificam que a ausência de um ambiente educacional preparado e a escassez de recursos adaptados dificultam a adoção de práticas interdisciplinares, tornando a aprendizagem desses alunos mais complexa e menos acessível.
Diante desse cenário, algumas questões norteadoras emergem para direcionar a pesquisa: quais são os principais desafios enfrentados pelos profissionais da educação e da saúde na implementação de práticas interdisciplinares voltadas para crianças com TEA? De que maneira a formação docente influencia na adoção de práticas interdisciplinares na educação inclusiva? Quais estratégias podem ser aplicadas para fortalecer a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento na educação de crianças autistas?
Nesse sentido, este estudo tem como objetivo geral analisar as barreiras que dificultam a implementação de práticas interdisciplinares na educação de crianças com TEA, considerando os desafios enfrentados por profissionais da educação e da saúde, bem como os fatores institucionais que impactam essa realidade. Para alcançar esse propósito, são traçados os seguintes objetivos específicos: identificar os principais obstáculos que dificultam a adoção de práticas interdisciplinares na educação de crianças com TEA, investigar o impacto da formação docente e dos profissionais da saúde na implementação de abordagens interdisciplinares, analisar a influência do suporte institucional na viabilização de estratégias pedagógicas colaborativas e propor soluções baseadas em evidências científicas que possam favorecer a prática interdisciplinar na educação inclusiva.
A pesquisa se justifica pela necessidade de aprofundar a compreensão sobre as dificuldades encontradas na integração de diferentes áreas do conhecimento na educação especial e de propor alternativas que possam garantir um ensino mais inclusivo e eficaz para crianças com TEA. Dessa forma, busca-se contribuir para o aprimoramento das práticas pedagógicas e para a construção de políticas educacionais que favoreçam o desenvolvimento e a aprendizagem desses alunos.
REVISÃO DE LITERATURA
A INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEITOS E IMPORTÂNCIA
A interdisciplinaridade na educação inclusiva é essencial para garantir que todos os alunos tenham acesso a um ensino significativo e adaptado às suas necessidades. No contexto da inclusão de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), essa abordagem se torna ainda mais relevante, pois exige um trabalho colaborativo entre diferentes áreas do conhecimento, como a educação, a psicologia e a saúde. No entanto, a implementação de práticas interdisciplinares enfrenta desafios que vão desde a formação docente até a ausência de suporte institucional. Nesse sentido, compreender a importância da interdisciplinaridade e os fundamentos que a sustentam torna-se imprescindível para que as práticas educacionais se tornem mais eficazes e acessíveis.
A teoria sociocultural de Lev Vygotsky é um dos principais referenciais para se compreender a aprendizagem em um contexto interdisciplinar. Para o autor, o desenvolvimento cognitivo ocorre por meio da interação social e do compartilhamento de conhecimentos entre indivíduos mais experientes e aqueles em processo de aprendizagem. Segundo Vygotsky (2022), “o aprendizado desperta processos internos de desenvolvimento que só podem operar quando a criança interage com os outros em seu ambiente social”. Essa perspectiva reforça a ideia de que a educação não deve ocorrer de forma isolada dentro de uma única disciplina, mas sim de maneira integrada, em que diferentes saberes se complementem para potencializar o desenvolvimento dos alunos. No contexto da educação inclusiva, isso significa que professores, psicopedagogos, terapeutas e demais profissionais devem atuar de forma conjunta para criar estratégias pedagógicas eficazes.
Além da fundamentação teórica de Vygotsky, é fundamental considerar a necessidade de adaptação curricular para tornar a educação verdadeiramente inclusiva. Romeu Kazumi Sassaki é um dos autores que mais contribuíram para a disseminação do conceito de inclusão social e educacional no Brasil. Em sua obra Inclusão: Construindo uma Sociedade para Todos (2022), ele enfatiza que a educação inclusiva só será plenamente efetiva quando houver “a eliminação de barreiras que impeçam ou dificultem a participação de todas as pessoas na sociedade, especialmente no ambiente escolar”. Esse argumento dialoga diretamente com a necessidade de interdisciplinaridade no ensino de crianças com TEA, pois, para que esses estudantes sejam plenamente incluídos no contexto escolar, é necessário um trabalho conjunto que envolva diferentes áreas do conhecimento e profissionais capacitados para atender suas especificidades.
A prática interdisciplinar, no entanto, não se restringe apenas ao planejamento pedagógico; ela também está ligada à formação dos professores e à maneira como a escola organiza seus processos educativos. Ivani Fazenda, uma das maiores referências em interdisciplinaridade no Brasil, defende que a fragmentação do conhecimento em disciplinas estanques prejudica a formação dos alunos e dificulta a construção de saberes mais amplos. Para a autora, a interdisciplinaridade é “uma postura diante do conhecimento, que exige disposição para o diálogo e integração de diferentes áreas” (Fazenda, 2002). Isso significa que, para que a educação inclusiva funcione de maneira eficaz, é preciso que os professores estejam preparados para trabalhar de forma colaborativa com outros profissionais e que a escola adote um modelo pedagógico que valorize essa troca de saberes.
A importância da democratização do ensino também deve ser destacada, pois a inclusão de crianças com TEA só será eficaz se houver um esforço coletivo para tornar a escola um espaço acessível e acolhedor para todos os estudantes. Nesse sentido, José Carlos Libâneo argumenta que “a escola precisa se reinventar para atender a diversidade dos alunos, promovendo metodologias que respeitem suas particularidades e potencializem seu aprendizado” (Libâneo, 2023). A interdisciplinaridade, portanto, é um caminho essencial para essa reinvenção, pois permite que diferentes profissionais trabalhem em conjunto para garantir uma educação mais justa e equitativa.
Dessa forma, observa-se que a interdisciplinaridade é um elemento fundamental para a efetivação da educação inclusiva, especialmente no atendimento a crianças com TEA. O desenvolvimento infantil e a aprendizagem dependem do suporte de múltiplas áreas do conhecimento, e a escola tem um papel central na articulação dessas práticas. Com base nas contribuições teóricas de Vygotsky, Sassaki, Fazenda e Libâneo, fica evidente que a integração de diferentes saberes é essencial para garantir que todos os alunos tenham acesso a um ensino de qualidade. No entanto, para que essa abordagem seja aplicada de maneira eficaz, é fundamental investir na formação dos professores, na adaptação curricular e na criação de políticas educacionais que incentivem a colaboração entre profissionais de diferentes áreas. Apenas assim será possível construir uma escola verdadeiramente inclusiva e democrática.
DESAFIOS NA IMPLEMENTAÇÃO DE PRÁTICAS INTERDISCIPLINARES NA EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS COM TEA
A implementação de práticas interdisciplinares na educação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) enfrenta uma série de desafios que dificultam a construção de um ensino verdadeiramente inclusivo. Apesar da crescente valorização da colaboração entre diferentes áreas do conhecimento no ambiente escolar, a falta de preparo docente, a dificuldade de comunicação entre profissionais, a ausência de suporte institucional e a escassez de recursos pedagógicos adaptados ainda representam barreiras significativas. A superação desses desafios exige uma abordagem sistemática que envolva a capacitação profissional, a criação de políticas públicas eficazes e a promoção de uma cultura escolar que favoreça a interdisciplinaridade.
Um dos maiores desafios enfrentados pelos educadores é a falta de formação específica sobre o TEA e sobre práticas interdisciplinares na educação especial. Muitos professores não recebem preparo adequado durante sua formação inicial para lidar com as necessidades específicas de alunos autistas e, muitas vezes, são obrigados a buscar conhecimento por conta própria. Como destaca Mantoan (2022), “a formação docente ainda está presa a modelos tradicionais, pouco voltados para a inclusão e para o trabalho coletivo, o que torna desafiadora a implementação de abordagens interdisciplinares no ensino” (Mantoan, 2022, p. 87). Sem um suporte adequado, os professores podem ter dificuldades para adaptar seus métodos de ensino, trabalhar com diferentes profissionais e oferecer um atendimento adequado aos alunos com TEA.
Outro obstáculo significativo é a comunicação limitada entre as equipes multiprofissionais que atuam na educação de crianças com TEA. A colaboração entre professores, psicopedagogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outros especialistas é essencial para a construção de práticas eficazes, mas a falta de integração entre essas áreas ainda é um problema recorrente. Sassaki (2022) enfatiza que “o trabalho interdisciplinar requer uma comunicação estruturada e contínua entre os profissionais envolvidos, de modo a evitar a fragmentação das ações e garantir um suporte integral à criança com deficiência” (Sassaki, 2022, p. 115). No entanto, muitas vezes, essa comunicação não ocorre de maneira eficiente, resultando em abordagens isoladas e desconectadas, que prejudicam a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças.
A ausência de suporte institucional e de políticas educacionais voltadas para a interdisciplinaridade também compromete a implementação dessa abordagem na educação inclusiva. Muitas escolas não possuem equipes especializadas ou infraestrutura adequada para atender alunos com TEA, tornando desafiador o desenvolvimento de estratégias pedagógicas integradas. Segundo Libâneo (2023), “a falta de investimentos na educação inclusiva reflete diretamente na qualidade do ensino oferecido a alunos com deficiência, uma vez que as escolas não dispõem dos recursos necessários para implementar metodologias inovadoras e colaborativas” (Libâneo, 2023, p. 54). Sem esse suporte, os professores ficam sobrecarregados e têm dificuldades para conciliar suas responsabilidades pedagógicas com a necessidade de adaptar o currículo para atender a diversidade dos alunos.
Além disso, a escassez de materiais pedagógicos e metodologias adaptadas representa um desafio adicional para a adoção de práticas interdisciplinares na educação de crianças autistas. A utilização de tecnologias assistivas e recursos educacionais adaptados pode facilitar o processo de ensino-aprendizagem, mas a falta de acesso a esses materiais limita as possibilidades dos professores de implementar metodologias mais eficazes. Fazenda (2002) argumenta que “a interdisciplinaridade na educação inclusiva depende não apenas da formação dos professores, mas também da disponibilidade de ferramentas pedagógicas que viabilizem práticas inovadoras e adaptáveis às necessidades dos alunos” (Fazenda, 2002, p. 29). No entanto, muitas escolas não possuem esses recursos, o que dificulta a criação de um ambiente de aprendizagem acessível e inclusivo.
Diante desses desafios, torna-se essencial investir na formação continuada dos profissionais da educação, garantindo que os professores e demais especialistas envolvidos no ensino de crianças com TEA tenham acesso a capacitações que os preparem para trabalhar de forma interdisciplinar. Além disso, é fundamental que as instituições de ensino promovam uma cultura de colaboração entre diferentes áreas do conhecimento, incentivando a troca de saberes e o desenvolvimento de estratégias pedagógicas conjuntas. Políticas públicas voltadas para a inclusão e para o fortalecimento do suporte institucional também são indispensáveis para garantir que as escolas disponham da infraestrutura e dos recursos necessários para atender às necessidades dos alunos autistas.
Em suma, embora a interdisciplinaridade seja um princípio essencial para a educação inclusiva, sua implementação ainda enfrenta diversas barreiras que precisam ser superadas. A falta de formação específica, a dificuldade de comunicação entre profissionais, a ausência de políticas educacionais eficazes e a carência de materiais pedagógicos adaptados são desafios que comprometem a efetividade dessa abordagem no ensino de crianças com TEA. No entanto, com investimentos na capacitação docente, no suporte institucional e no desenvolvimento de recursos pedagógicos acessíveis, é possível construir um sistema educacional mais inclusivo, que valorize a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento e ofereça um ensino de qualidade para todos os alunos.
ESTRATÉGIAS DE COLABORAÇÃO INTERDISCIPLINAR NA EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO – TEA
A implementação de práticas interdisciplinares na educação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) requer estratégias de colaboração eficazes entre profissionais de diferentes áreas. Essa abordagem visa integrar conhecimentos e habilidades para atender às necessidades específicas desses alunos, promovendo uma educação inclusiva e de qualidade.
Uma estratégia fundamental é a consultoria colaborativa, que envolve a parceria entre especialistas em educação especial e professores do ensino regular. Souza e Mendes (2017) destacam que essa prática tem contribuído para mudanças efetivas no contexto de ensino de alunos público-alvo da educação especial, auxiliando professores a desenvolver novas estratégias de ensino benéficas a todos os alunos.
Além disso, a capacitação conjunta de professores e familiares é uma estratégia eficaz. Um estudo operacionalizou e avaliou uma capacitação destinada a professores do ensino regular, da educação especial e pais, visando criar condições para o ensino compartilhado de leitura e escrita para alunos com deficiência intelectual e autismo incluídos na escola regular.
A formação continuada dos profissionais da educação também é essencial para a colaboração interdisciplinar. Negrini e Dal Forno (2017) investigaram a relação entre a formação de profissionais da educação especial e a interdisciplinaridade na inclusão, destacando a importância de uma formação que promova a gestão do conhecimento no contexto escolar.
Por fim, a implementação de práticas colaborativas no Atendimento Educacional Especializado (AEE) é crucial. Silva et al. (2024) organizaram uma obra que aborda práticas colaborativas no AEE, ressaltando seu potencial para potencializar o ensino, a aprendizagem, a inclusão e a transformação social.
Dessa forma, estratégias de colaboração interdisciplinar, como a consultoria colaborativa, a capacitação conjunta de professores e familiares, a formação continuada e as práticas colaborativas no AEE, são fundamentais para a educação inclusiva de crianças com TEA. Essas abordagens promovem a integração de conhecimentos e a construção de um ambiente educacional que valoriza a diversidade e a aprendizagem de todos os alunos.
METODOLOGIA
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa de caráter bibliográfico, fundamentando-se em referenciais teóricos sobre a interdisciplinaridade na educação inclusiva, com foco no ensino de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A pesquisa bibliográfica tem como objetivo reunir, analisar e discutir estudos já publicados sobre a temática, permitindo a compreensão aprofundada dos desafios e das estratégias para a implementação de práticas interdisciplinares na educação especial.
Segundo Gil (2022), a pesquisa bibliográfica é um método essencial para a construção do conhecimento científico, pois possibilita a sistematização de informações já consolidadas em diferentes fontes, garantindo embasamento teórico para a análise de um determinado fenômeno. Dessa forma, este estudo busca reunir aportes teóricos de diferentes autores que investigam a educação inclusiva, a interdisciplinaridade e a formação docente voltada para o ensino de alunos com TEA.
A seleção das fontes utilizadas nesta pesquisa seguiu critérios rigorosos de qualidade acadêmica. Foram priorizados artigos científicos indexados em bases de dados reconhecidas, como SciELO, CAPES e Google Acadêmico, além de livros de autores consagrados na área da educação especial e da inclusão escolar. O recorte temporal privilegiou publicações recentes, compreendendo o período de 2015 a 2025, com o objetivo de assegurar a atualização e relevância dos dados analisados.
Para a organização e sistematização das informações, adotou-se a técnica de análise de conteúdo, conforme proposta por Bardin (2016), que permite a identificação de categorias temáticas e a extração de conceitos fundamentais a partir da literatura revisada. A pesquisa foi estruturada em três eixos principais: a importância da interdisciplinaridade na educação inclusiva, os desafios enfrentados pelos profissionais para sua implementação e as estratégias que podem favorecer o trabalho colaborativo entre diferentes áreas do conhecimento.
Além disso, esta pesquisa adota uma abordagem qualitativa, uma vez que visa interpretar e compreender os fenômenos educacionais por meio da análise crítica dos estudos encontrados. De acordo com Minayo (2023), a pesquisa qualitativa busca explorar significados, relações e padrões dentro do objeto de estudo, sendo uma metodologia adequada para investigações na área da educação.
Portanto, a metodologia adotada neste artigo permite uma reflexão aprofundada sobre as barreiras e possibilidades da interdisciplinaridade no ensino de crianças com TEA, contribuindo para o avanço das discussões acadêmicas e para o aprimoramento das práticas educacionais inclusivas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da revisão bibliográfica realizada, foi possível identificar os principais desafios e estratégias relacionadas à implementação de práticas interdisciplinares na educação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Os resultados evidenciam que, apesar da importância da interdisciplinaridade para a inclusão educacional, diversos obstáculos comprometem sua efetivação no contexto escolar. No entanto, algumas estratégias têm se mostrado promissoras para superar essas barreiras e fortalecer a colaboração entre profissionais da educação e da saúde.
Os estudos analisados destacam que a falta de formação específica dos professores é um dos principais entraves para a adoção de práticas interdisciplinares. Muitos docentes não possuem capacitação adequada para trabalhar com alunos com TEA e desconhecem estratégias de ensino colaborativas. Segundo Mantoan (2022), a formação docente tradicional ainda é pautada em modelos fragmentados, o que dificulta a implementação da interdisciplinaridade na educação especial. Para a autora, “a superação desse desafio exige um novo olhar sobre o ensino, pautado na formação continuada e na troca de saberes entre diferentes profissionais” (Mantoan, 2022, p. 87).
Além disso, a ausência de comunicação estruturada entre as equipes multiprofissionais compromete a integração entre educadores, terapeutas e outros especialistas envolvidos na educação de crianças com TEA. Sassaki (2022) enfatiza que a colaboração interdisciplinar deve ser contínua e bem planejada para evitar a fragmentação das ações pedagógicas. “O trabalho colaborativo requer espaços de diálogo e planejamento conjunto, garantindo que cada profissional contribua de forma integrada para o desenvolvimento do aluno” (Sassaki, 2022, p. 115). No entanto, os estudos revisados indicam que, em muitas escolas, essa troca de informações ainda é insuficiente ou ocorre de maneira esporádica.
Outro fator limitante identificado é a carência de recursos pedagógicos adaptados para a educação de crianças autistas. A falta de materiais específicos e tecnologias assistivas dificulta a implementação de práticas interdisciplinares que atendam às necessidades dos alunos com TEA. Libâneo (2023) ressalta que “a ausência de políticas educacionais que garantam o acesso a ferramentas inclusivas impede a concretização da interdisciplinaridade no ensino” (Libâneo, 2023, p. 54). Dessa forma, a falta de investimento em infraestrutura e materiais especializados compromete a qualidade do ensino ofertado.
Apesar dos desafios, algumas estratégias têm se mostrado eficazes para fortalecer a colaboração interdisciplinar na educação inclusiva. Uma delas é a capacitação contínua de professores e profissionais da educação para o trabalho com alunos autistas. A formação docente voltada para práticas interdisciplinares tem sido apontada como um fator essencial para a melhoria da inclusão escolar. Segundo Fazenda (2002), “a interdisciplinaridade exige uma mudança na formação dos educadores, que devem aprender a dialogar com diferentes áreas do conhecimento e integrar saberes na prática pedagógica” (Fazenda, 2002, p. 29).
Outra estratégia relevante é a consultoria colaborativa, que consiste no acompanhamento de professores por especialistas em educação especial. De acordo com Souza e Mendes (2017), a consultoria colaborativa tem demonstrado impactos positivos na qualificação dos docentes e na adaptação de metodologias para alunos com TEA. Os autores ressaltam que “essa abordagem permite que o professor receba suporte contínuo, possibilitando a implementação de estratégias interdisciplinares de maneira mais eficaz” (Souza; Mendes, 2017, p. 95).
Além disso, a integração entre escola e família tem se mostrado um fator essencial para a efetividade das práticas interdisciplinares. Estudos apontam que a participação ativa dos responsáveis na vida escolar da criança autista favorece a implementação de metodologias mais adaptadas às suas necessidades. Segundo Santos e Libra (2016), a capacitação conjunta de professores e familiares possibilita “a construção de um ensino mais personalizado e alinhado às demandas do aluno, promovendo sua inclusão de maneira mais efetiva” (Santos; Libra, 2016, p. 371).
Outro aspecto relevante identificado na revisão é o papel do Atendimento Educacional Especializado (AEE) na promoção da interdisciplinaridade. Silva et al. (2024) destacam que “o AEE pode ser um espaço privilegiado para a implementação de práticas interdisciplinares, proporcionando suporte pedagógico e assistencial aos alunos com TEA” (Silva et al., 2024, p. 32). No entanto, para que isso ocorra, é fundamental que as escolas invistam na formação de profissionais capacitados para atuar nesse serviço de forma colaborativa.
Os resultados da pesquisa bibliográfica indicam que a interdisciplinaridade na educação de crianças com TEA é um elemento essencial para a inclusão e o desenvolvimento desses alunos. No entanto, sua implementação enfrenta desafios estruturais, pedagógicos e institucionais que precisam ser superados. A falta de formação docente, a ausência de comunicação entre profissionais, a carência de materiais adaptados e a limitação de suporte institucional são fatores que comprometem a adoção de práticas interdisciplinares no ensino especial.
Por outro lado, as estratégias identificadas na literatura apontam caminhos promissores para fortalecer essa abordagem. A formação continuada dos professores, a consultoria colaborativa, a integração entre escola e família e a valorização do Atendimento Educacional Especializado são medidas que podem contribuir significativamente para a consolidação da interdisciplinaridade na educação de crianças autistas. A necessidade de políticas públicas que incentivem a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento também se destaca como um fator essencial para a efetividade dessa prática.
Dessa forma, a pesquisa reforça a importância de investimentos na capacitação docente e na criação de estruturas escolares que favoreçam o trabalho colaborativo. A interdisciplinaridade, quando bem implementada, pode potencializar a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças com TEA, garantindo um ensino mais inclusivo e equitativo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve como objetivo analisar as barreiras à implementação de práticas interdisciplinares na educação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), identificando os desafios enfrentados pelos profissionais da educação e da saúde, bem como estratégias eficazes para promover a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento. A pesquisa bibliográfica permitiu compreender que, embora a interdisciplinaridade seja essencial para a inclusão educacional, sua aplicação no contexto escolar ainda enfrenta limitações estruturais, pedagógicas e institucionais.
Os resultados evidenciaram que a falta de formação específica dos professores, a comunicação limitada entre equipes multiprofissionais e a ausência de suporte institucional são os principais entraves à adoção de práticas interdisciplinares. Além disso, a escassez de recursos pedagógicos adaptados compromete a implementação de metodologias eficazes no ensino de alunos autistas. Esses desafios ressaltam a necessidade de investimentos em formação docente, estruturação de políticas públicas que incentivem a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento e maior acesso a ferramentas tecnológicas assistivas.
Por outro lado, foram identificadas estratégias que podem fortalecer a interdisciplinaridade no ensino inclusivo, como a capacitação continuada dos professores, a consultoria colaborativa entre especialistas e educadores, a integração entre escola e família e o fortalecimento do Atendimento Educacional Especializado (AEE). Essas iniciativas demonstraram ser eficazes na construção de um ambiente escolar mais inclusivo e adaptado às necessidades dos alunos com TEA, possibilitando o desenvolvimento de práticas pedagógicas mais eficazes e humanizadas.
Diante das descobertas, sugere-se que futuras pesquisas explorem a implementação de metodologias interdisciplinares em diferentes contextos escolares, analisando o impacto de programas de formação docente específicos para o atendimento de alunos com TEA. Além disso, investigações que avaliem a efetividade de políticas públicas voltadas para a inclusão escolar podem contribuir para o aperfeiçoamento das práticas educacionais. A interdisciplinaridade, quando aplicada de forma estruturada e com suporte adequado, tem potencial para transformar a educação inclusiva, garantindo a esses alunos um aprendizado mais significativo e alinhado às suas necessidades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Libâneo, José Carlos. Democratização da Escola Pública: A Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos. São Paulo: Loyola, 2023.
Mantoan, Maria Teresa Eglér. Inclusão Escolar: O Que é? Por quê? Como Fazer?. São Paulo: Moderna, 2022.
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Sassaki, Romeu Kazumi. Inclusão: Construindo uma Sociedade para Todos. Rio de Janeiro: WVA, 2022.
Silva, K. R. et al. Práticas colaborativas no AEE: potencializando o ensino, a aprendizagem, a inclusão e a transformação social. Santa Maria: Facos-UFSM, 2024.
Soares, Ana Paula; LIMA, Bruna; Pereira, Carlos. Trabalho em equipe interprofissional no atendimento à criança com Transtorno do Espectro do Autismo. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 21, n. 3, p. 353-366, 2015.
Souza, M. A.; Mendes, E. G. Consultoria colaborativa e educação inclusiva: uma revisão de literatura. Psicologia Escolar e Educacional, v. 21, n. 1, p. 95-103, 2017.
Vygotsky, Lev S. A Formação Social da Mente: O Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores. São Paulo: Martins Fontes, 2022.
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