A aplicação da telemedicina na medicina geral e de família

THE APPLICATION OF TELEMEDICINE IN GENERAL AND FAMILY MEDICINE

LA APLICACIÓN DE LA TELEMEDICINA EN MEDICINA GENERAL Y FAMILIAR

Autor

Alcir Rosa Soares
ORIENTADOR
 Luisa Rocha Tinoco Bonadiman

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/8C1B46

DOI

Soares, Alcir Rosa. A aplicação da telemedicina na medicina geral e de família. International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

A telemedicina apresenta uma série de benefícios e desafios na área da saúde, por meio do uso de tecnologias de informação e comunicação (TICs). Este estudo objetivou-se a explorar por meio de uma revisão de literaturas, a evolução cronológica da telemedicina no Brasil, desde seu surgimento até esta fase contemporânea, destacando seu conceito e aplicabilidade desta ferramenta tecnológica na Medicina Geral e de Família. Os resultados evidenciaram que a telemedicina tem desempenhado um papel essencial na medicina geral e de família, ampliando o acesso a serviços de saúde em locais remotos ou com poucos recursos médicos, no acompanhamento de pacientes com doenças crônicas, intervenções precoces, entre outros, oferecendo suporte contínuo das condições de saúde e a realização de ajustes nos tratamentos conforme necessário. Contudo, é necessário um esforço contínuo para superar os desafios e assegurar que a tecnologia seja utilizada de forma ética, segura e integrada ao sistema de saúde.
Palavras-chave
Telemedicina. Medicina geral. Medicina da família.

Summary

Telemedicine presents a series of benefits and challenges in the health area, through the use of information and communication technologies (ICTs). This study aimed to explore, through a literature review, the chronological evolution of telemedicine in Brazil, from its emergence to this contemporary phase, highlighting its concept and applicability of this technological tool in General and Family Medicine. The results showed that telemedicine has played an essential role in general and family medicine, expanding access to health services in remote locations or with few medical resources, in the monitoring of patients with chronic diseases, early interventions, among others, offering continuous support for health conditions and making adjustments to treatments as necessary. However, continuous effort is needed to overcome the challenges and ensure that the technology is used ethically, safely and integrated into the health system.
Keywords
Telemedicine. General medicine. Family medicine.

Resumen

La Telemedicina presenta una serie de beneficios y desafíos en el área de la salud, mediante el uso de las tecnologías de la información y la comunicación (TIC). Este estudio tuvo como objetivo explorar, a través de una revisión de la literatura, la evolución cronológica de la telemedicina en Brasil, desde su surgimiento hasta esta fase contemporánea, destacando su concepto y aplicabilidad de esta herramienta tecnológica en la Medicina General y Familiar. Los resultados demostraron que la telemedicina ha jugado un papel esencial en la medicina general y familiar, ampliando el acceso a servicios de salud en lugares remotos o con pocos recursos médicos, seguimiento de pacientes con enfermedades crónicas, intervenciones tempranas, entre otros, ofreciendo apoyo continuo a condiciones de salud y realizando ajustes en los tratamientos según sea necesario. Sin embargo, se necesita un esfuerzo continuo para superar los desafíos y garantizar que la tecnología se utilice de manera ética, segura y se integre en el sistema de atención médica.
Palavras-clave
Telemedicina. Medicina general. Medicina familiar.

INTRODUÇÃO

A telemedicina apresenta uma série de benefícios e desafios na área da saúde, os quais são essenciais para entender sua implementação e impacto, e consiste no uso de tecnologias de informação e comunicação (TICs) para oferecer atendimento remoto de qualidade na área da saúde. Com essa ferramenta inovadora, busca-se ampliar o acesso aos serviços de saúde, garantindo sempre um atendimento humanizado e eficiente.

De início, a primeira ideia surgida a partir da telemedicina, era centrada exclusivamente na área médica. No entanto, com o tempo, o seu conceito foi se expandindo para alcançar outras áreas da saúde, como enfermagem, fisioterapia e nutrição, tornando-se um recurso essencial para diversos profissionais (Oliveira et al., 2024). Além de fornecer assistência a diferentes localidades, a telessaúde também desempenha um papel fundamental na educação continuada dos profissionais da área, contribuindo para pesquisas e aprimoramento de práticas de saúde (OMS, 1997).

No aspecto organizacional, a telessaúde se destaca pelo uso de tecnologias para aprimorar a gestão dos serviços, fortalecendo a conexão entre profissionais de saúde, pacientes e gestores. Desta forma, o compartilhamento de informações ocorre de maneira ágil e segura, permitindo um melhor monitoramento do cuidado prestado e a otimização dos processos dentro do sistema de saúde (Harzheim et al., 2020).

No Brasil, a telemedicina tem sido inovadora de forma estratégica para fortalecer as Redes de Atenção à Saúde, promovendo um impacto positivo no bem-estar da população. Ao eliminar barreiras geográficas e fornecer atendimento mais acessível, essa modalidade garante procedimentos organizados e eficientes, sempre respeitando princípios de equidade e a adoção de práticas seguras para evitar excessos ou inadequações médicas (Bashshur et al., 2014).

Apesar dos avanços, a integração permanente da telessaúde no sistema de saúde brasileiro ainda enfrenta desafios. Embora o uso de prontuários eletrônicos seja avançado gradativamente, outras possibilidades tecnológicas ainda são pouco exploradas. Há um vasto potencial a ser desenvolvido para solução de problemas históricos da área da saúde, promovendo um atendimento mais integrado, acessível e eficiente (Harzheim et al., 2020).

O grande desafio desta atualidade, é estabelecer a telemedicina como uma alternativa viável e duradoura dentro do sistema de saúde. Nesse contexto, surge a necessidade de refletir sobre como essa modalidade de atendimento se firmou como um recurso essencial durante a pandemia de COVID-19 e quais foram os principais impactos, benefícios e dificuldades relatados nos estudos científicos disponíveis (Soares, 2025a). No entanto, a consolidação definitiva dessa prática exige a superação de obstáculos como a ampliação do acesso a tecnologias digitais, a qualificação dos profissionais da saúde para o uso dessas ferramentas e a implementação de políticas que garantam equidade e inclusão no atendimento remoto.

Dessa forma, este estudo objetivou-se a apresentar a evolução cronológica da telemedicina no Brasil, desde seu surgimento até esta fase contemporânea, destacando seu conceito e aplicabilidade desta ferramenta tecnológica na Medicina Geral e de Família.

Além disso, este trabalho pretende contribuir para o aprofundamento do conhecimento sobre a telemedicina, demonstrando seu potencial para transformar a prestação de serviços em saúde. Quando aplicada de maneira estruturada e com suporte adequado, essa tecnologia pode se tornar uma grande aliada na ampliação do acesso aos serviços médicos, garantindo mais eficiência e qualidade no atendimento aos pacientes.

Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica, com abordagem qualitativa e caráter descritivo, baseado em publicações científicas que discutem o uso da telemedicina. Para isso, foram consultadas fontes acadêmicas renomadas, incluindo artigos científicos, livros, monografias e dissertações, disponíveis em bases de dados como Google acadêmico, National Library of Medicine (PUBMED), Scientific Electronic Library Online (SciELO), compreendendo o período de 2020 a 2024.

UMA ANÁLISE CRONOLÓGICA DA HISTÓRIA DA TELEMEDICINA NO BRASIL

A telemedicina, caracterizada como a prestação de serviços de saúde à distância, que se utiliza de tecnologias de comunicação, teve sua origem internacional impulsionada pela necessidade de ampliar o acesso à saúde em regiões remotas. No Brasil, essa trajetória se consolidou ao longo das últimas décadas, marcando avanços significativos em infraestrutura tecnológica e regulamentação jurídica.

As primeiras experiências com telemedicina no Brasil foram inspiradas por programas desenvolvidos em outros países, principalmente em áreas militares e aeroespaciais, e ocorreram entre as décadas de 1960-1970, com foco em comunicações médicas militares e aeroespaciais. Essas experiências iniciais utilizavam tecnologias simples, como o rádio e o telefone, para permitir a comunicação entre médicos e pacientes em locais remotos, ou seja, buscavam oferecer suporte médico a astronautas e militares em locais de difícil acesso (Sabbatini, 2001). No Brasil, a implantação inicial se deu em ambientes universitários e hospitalares, utilizando telefone e rádio como meios de transmissão de informações (Pinheiro et al., 2024).

A década de 1980 representou um marco para a telemedicina no Brasil, com a implementação de projetos acadêmicos voltados à educação médica continuada e ao atendimento remoto. Esse período foi marcado pela introdução de tecnologias de videoconferência, que possibilitaram a transmissão de imagens médicas, ampliando as possibilidades de diagnóstico (Sabbatini, 2001). 

Carvalho e Castro (2024) reforçam que as universidades desempenharam um papel fundamental ao desenvolver iniciativas que conectavam profissionais de saúde em diferentes regiões do país. Projetos pioneiros foram desenvolvidos em instituições acadêmicas para viabilizar consultas remotas e educação médica continuada. 

Entre as décadas de 1990-2000, houve a implementação de redes formais de telemedicina em hospitais universitários, facilitando a colaboração entre especialistas de diferentes áreas e localidades (Sabbatini, 2001). O Programa Nacional de Telessaúde, lançado em 1994, representou um marco importante ao expandir o atendimento remoto a municípios isolados, e além do suporte assistencial, essas redes possibilitaram o compartilhamento de conhecimento técnico e científico entre profissionais de saúde (Pinheiro et al., 2024).

O primeiro foi protagonizado pelo Instituto do Coração (InCor), que desenvolveu a Telecardiologia, um projeto inovador voltado à análise de eletrocardiogramas de pacientes situados em locais distantes. No mesmo ano, a Rede Sarah de hospitais implementou um sistema de videoconferências entre suas unidades, facilitando o intercâmbio de informações clínicas no tratamento de doenças musculoesqueléticas (Khouri, 2003; Louzada et al., 2004).

Já em 1996, o InCor ampliou suas iniciativas ao disponibilizar um serviço de eletrocardiograma remoto, permitindo que pacientes fossem monitorados diretamente em casa, um avanço significativo para o acompanhamento médico à distância (Louzada et al., 2004).

O ano de 1998 também foi marcante: a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) passou a oferecer uma disciplina específica sobre telemedicina, o que representou um importante passo na formação de profissionais capacitados nessa área. Nesse mesmo período, o laboratório Fleury passou a disponibilizar resultados de exames online, enquanto hospitais começaram a usar a internet para compartilhar exames, realizar videoconferências e monitorar pacientes remotamente (Khouri, 2003).

Apesar dessas inovações, até o início dos anos 2000, as ações governamentais ainda eram discretas e fragmentadas, com pouca participação efetiva do Estado. Muitos profissionais da área de saúde ainda viam a telemedicina com desconfiança. No entanto, havia um horizonte promissor, sustentado por ações conjuntas entre instituições públicas, privadas e parcerias interinstitucionais, com destaque para o estado de São Paulo (Khouri, 2003).

O ano 2000 trouxe novos desdobramentos. Em Recife, o Instituto Materno Infantil realizou suas primeiras teleconsultas internacionais, incluindo áreas como telepatologia e teleradiologia, em parceria com o hospital Saint Jude Children’s Research, nos Estados Unidos. Em Curitiba, o Hospital Santa Cruz lançou um projeto de educação e diagnóstico à distância, enquanto o InCor começou a monitorar seus leitos remotamente. Já o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, foi além e realizou a primeira telecirurgia do país, em conjunto com o Hospital Johns Hopkins. A cirurgia foi acompanhada por robôs e computadores portáteis e transmitida ao vivo para o 18º Congresso Mundial de Endo-Urologia (Khouri, 2003; Louzada et al., 2004; Lisboa, 2023).

O Sírio-Libanês também teve um papel importante na consolidação da telemedicina ao estabelecer acordos com instituições de referência internacional. Um dos projetos de destaque foi o programa de segunda opinião médica na área oncológica, realizado em parceria com o Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, de Nova York. Essa iniciativa permitiu que pacientes brasileiros recebessem uma avaliação complementar de seus casos sem a necessidade de sair do país. Além disso, o hospital estruturou um centro de videoconferências voltado à formação médica contínua, promovendo intercâmbio de experiências com especialistas de diversos países (Santos et al., 2020).

Com o avanço da internet de alta velocidade e das tecnologias de transmissão digital, a telemedicina se consolidou no Brasil, com isso, ocorreu a primeira regulamentação oficial da telemedicina no território brasileiro, no ano de 2002, com a publicação da Resolução nº 1.643/2002 do Conselho Federal de Medicina (CFM), que normatizou o uso da tecnologia na prática médica (Sabbatini, 2001). 

A partir de 2006, o Ministério da Saúde passou a investir mais consistentemente na área, principalmente no fortalecimento da atenção primária por meio do Programa Saúde da Família. Foram incorporadas ferramentas de teleconsultoria, telediagnóstico e teleducação, permitindo maior suporte aos profissionais da rede pública (Lopes et al., 2019).

Como resultado desses esforços, surgiu o Programa Telessaúde Brasil Redes, com a proposta de minimizar as desigualdades regionais e sociais no acesso à saúde. O programa visava reduzir filas, evitar deslocamentos desnecessários de pacientes e oferecer suporte técnico e científico aos profissionais da atenção básica (Santos et al., 2020).

Ainda em 2006, a criação da Rede Universitária de Telemedicina (RUTE) representou um avanço importante para a integração entre instituições acadêmicas e serviços de saúde (Carvalho; Castro, 2024). Pinheiro et al. (2024) enfatiza que, durante esse período, a telemedicina passou a ser vista como uma ferramenta estratégica para reduzir desigualdades regionais no acesso à saúde. 

A RUTE foi concebida para integrar hospitais universitários, centros de pesquisa e instituições de ensino, promovendo iniciativas de telessaúde em todo o território nacional (Silva; Moraes, 2012; Rute, 2020).

Atualmente, a RUTE é uma das iniciativas mais abrangentes no campo da telemedicina no país, realizando centenas de videoconferências anualmente. Esses encontros proporcionam um ambiente de troca constante entre profissionais de diferentes regiões, colaborando com pesquisas, formação profissional e qualificação do atendimento à saúde (Messina et al., 2014; Rute, 2020).

A partir de 2010, a telemedicina ampliou-se significativamente, com destaque para o Programa Telessaúde Brasil Redes, que proporcionou acesso remoto a especialidades médicas em regiões carentes (Carvalho; Castro, 2024). Esse crescimento trouxe à tona questões bioéticas relevantes, como a confidencialidade das informações médicas e a humanização do atendimento à distância. Os debates sobre a segurança dos dados e a responsabilidade médica tornaram-se centrais para a definição de novas diretrizes (Pinheiro et al., 2024).

Porém, foi a partir da pandemia de COVID-19, em 2020, que se acelerou a utilização e modernização da telemedicina no Brasil. Esta pandemia foi como um divisor de águas para a telemedicina brasileira, que diante da necessidade de evitar deslocamentos e reduzir a sobrecarga dos serviços presenciais, levou à publicação da Lei nº 13.989/2020, que autorizou, em caráter emergencial, a realização de consultas médicas virtuais (Carvalho; Castro, 2024). 

Além de acelerar a aceitação pública da telemedicina no contexto brasileiro, a pandemia do COVID-19 também impulsionou debates sobre a permanência desse modelo de atendimento no pós-crise, consolidando a telemedicina como parte do sistema de saúde brasileiro contemporâneo (Pinheiro et al., 2024).

O QUE É A TELEMEDICINA? 

A telemedicina, segundo diversos autores, pode ser definida como a prática da assistência à saúde realizada à distância, utilizando tecnologias de telecomunicações. De acordo com a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), ela envolve a oferta de serviços de saúde onde a distância é um fator crítico, com o objetivo de prevenir, diagnosticar e tratar doenças, além de proporcionar educação médica e capacitação para profissionais de saúde. A telemedicina não se limita apenas ao atendimento clínico, mas também à promoção de saúde por meio de ações educativas, pesquisas e intervenções para melhorar a saúde de comunidades inteiras (OMS, 1997).

Soares (2025b), conceitua a telemedicina é uma modalidade de atendimento em saúde que se utiliza das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para facilitar a realização de diagnósticos, tratamentos, ações de prevenção e a capacitação de profissionais, especialmente em situações onde a distância física entre o paciente e o profissional de saúde é um obstáculo. Embora a prática não seja completamente nova, foi a pandemia de COVID-19 que impulsionou sua adoção de forma exponencial, tornando-se uma ferramenta essencial no cuidado à saúde. O contexto pandêmico, com suas restrições de mobilidade e distanciamento social, destacou a relevância da telemedicina, consolidando-a como um recurso indispensável para garantir o acesso à saúde em tempos de crise. 

Silva e Ramos (2011) ampliam a definição ao enfatizar que a telemedicina não se restringe à troca de informações, mas sim ao “acesso à experiência médica”, ou seja, a consulta médica realizada de forma remota, permitindo que o paciente receba o atendimento necessário sem a necessidade de deslocamento físico até o profissional. Já o Instituto de Medicina (IOM) vai além, destacando que a telemedicina abrange um espectro mais amplo, envolvendo o uso de tecnologias eletrônicas para o fornecimento de assistência médica não apenas a pacientes, mas também entre profissionais de saúde que se encontram em locais separados geograficamente (Romero et al., 2018).

Para Meneses e Oliveira (2019), a telemedicina é um conceito multifacetado, onde os recursos tecnológicos e as práticas clínicas se entrelaçam. Eles sugerem que a implementação dessa prática deve considerar não apenas as tecnologias, mas também as condições organizacionais e os recursos humanos envolvidos, que impactam diretamente a qualidade e a sustentabilidade dos serviços oferecidos.

Do ponto de vista de Louzada et al. (2004), a telemedicina é benéfica por permitir a aproximação entre médicos e pacientes, especialmente em regiões remotas ou com recursos limitados, proporcionando cuidados médicos a custos mais baixos. Entretanto, esses benefícios são acompanhados por desafios como a falta de investimentos adequados e a necessidade de maior capacitação profissional.

APLICAÇÃO DA TELEMEDICINA NA MEDICINA GERAL E DE FAMÍLIA

O avanço da tecnologia e a digitalização têm provocado mudanças profundas em vários setores, e na área da saúde isso não é diferente. Esse cenário vem gerando debates cada vez mais frequentes entre autoridades públicas e instituições internacionais, especialmente sobre como tornar os serviços de saúde mais eficientes e com melhor qualidade no atendimento ao cidadão (Barbosa; Senne, 2016).

É nesse contexto que o conceito de e-saúde – também chamado de saúde digital – ganha relevância. Trata-se do uso de recursos tecnológicos no cuidado com a saúde, com a intenção de melhorar a forma como os serviços são prestados. De acordo com Santos et al. (2020), a e-saúde reúne conhecimentos e práticas voltadas à aplicação da tecnologia digital para promover melhorias reais na saúde da população.

As mudanças digitais que marcaram o setor da saúde são sustentadas por ferramentas como a microeletrônica, a informática e as telecomunicações – as chamadas tecnologias da informação e comunicação (TIC). Esses recursos ampliaram as possibilidades de acesso remoto a dados e serviços de saúde, utilizando principalmente a internet e redes telefônicas (Camargo; Ito, 2012).

A presença dessas tecnologias modificou a forma como as informações circulam no ambiente da saúde: elas se tornaram mais rápidas, mais acessíveis e com maior alcance. Isso transformou também o cotidiano dos profissionais da área, exigindo novas formas de trabalho e de interação (Santos et al., 2017). Hoje, é possível encontrar prontuários digitalizados, troca de informações clínicas por plataformas online, emissão de laudos a distância, monitoramento de pacientes em tempo real e até cirurgias conduzidas com o apoio de robôs e especialistas que nem sempre estão no mesmo local físico (Barbosa; Senne, 2016).

Segundo Kirshenbaum et al. (2021), o uso das TICs na saúde está abrindo caminho para inovações na medicina, como o cuidado domiciliar remoto e o acompanhamento contínuo de pacientes fora do ambiente hospitalar. Além disso, iniciativas como telediagnósticas por imagem, consultas por videoconferência e colaborações entre médicos para uma segunda opinião têm ampliado o acesso da população a serviços especializados, ajudando não só no diagnóstico, mas também na prevenção e tratamento de várias doenças (Simpson, Doarn; Garber, 2020).

A telemedicina tem desempenhado um papel essencial na medicina geral e de família ao permitir a ampliação do acesso a serviços de saúde em locais remotos ou com poucos recursos médicos (Carvalho; Castro, 2024). Através de plataformas digitais, médicos de família conseguem realizar consultas virtuais, acompanhar pacientes crônicos e oferecer orientações em tempo real, reduzindo as barreiras geográficas e otimizando o atendimento (Pinheiro et al., 2024). 

Através das plataformas de teleconsulta, médicos podem realizar triagens de maneira eficiente, fornecendo orientações sobre os próximos passos no cuidado da saúde. Essa prática se revela um excelente meio de orientar pacientes, principalmente aqueles que não têm acesso imediato a um profissional de saúde (Catapan; Calvo, 2020).

A telemedicina se destaca no acompanhamento de pacientes com doenças crônicas, permitindo o monitoramento contínuo das condições de saúde e a realização de ajustes nos tratamentos conforme necessário. Com essa prática, é possível evitar complicações e promover intervenções precoces, proporcionando uma gestão mais eficiente das condições de saúde a longo prazo (Harzheim et al., 2018).

Um dos principais benefícios na área da medicina de família é a possibilidade de fornecer suporte contínuo a pacientes com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão (Sabbatini, 2001). Por meio de consultas remotas, é possível monitorar a evolução do quadro clínico, ajustar tratamentos e reforçar a adesão a terapias de longo prazo, evitando hospitalizações desnecessárias.

A telemedicina também viabiliza a realização de teleconsultorias, em que médicos de atenção primária podem discutir casos clínicos com especialistas em diversas áreas. Isso melhora a qualidade das decisões médicas, reduzindo a necessidade de encaminhamentos presenciais para especialistas e proporcionando diagnósticos mais precisos e ágeis (Carvalho; Castro, 2024).

Outro aspecto relevante é a utilização da telemedicina para a educação permanente dos profissionais de saúde. Médicos de família em áreas mais afastadas podem participar de programas de capacitação e atualizações científicas, mantendo-se atualizados em relação às melhores práticas clínicas (Pinheiro et al., 2024).

Em um país de grande extensão territorial, como o Brasil, a telemedicina é uma solução importante para levar atendimento médico a regiões afastadas. Ela supera obstáculos geográficos e permite que mais pessoas tenham acesso à saúde de qualidade, com a vantagem de reduzir a necessidade de deslocamentos longos (Meneses; Oliveira, 2019). 

A telemedicina também tem um papel crucial no suporte à saúde mental, oferecendo atendimento psicológico à distância. Essa modalidade de cuidado é essencial para garantir que o paciente receba o acompanhamento necessário, respeitando sua privacidade e mantendo a qualidade do atendimento, mesmo com as limitações da ausência de exames físicos (Catapan; Calvo, 2020). 

A implementação de prontuários eletrônicos e sistemas de saúde digital integrados facilita a troca de informações entre profissionais e melhora a coordenação do cuidado. Isso não só reduz o risco de erros médicos, mas também otimiza o fluxo de dados de saúde, tornando o processo de atendimento mais eficiente e seguro (Silva; Ramos, 2011). 

A telemedicina também pode ser uma ferramenta poderosa na promoção da educação em saúde, oferecendo programas de capacitação para profissionais e pacientes por meio de plataformas online. Isso fortalece a prevenção de doenças e melhora a gestão da saúde pública, ao mesmo tempo em que incentiva a adoção de hábitos saudáveis (Bashshur et al., 2014). 

Médicos que atuam em regiões remotas podem contar com o auxílio de especialistas por meio de plataformas de telemedicina, podendo discutir casos complexos e buscar orientação para aprimorar o cuidado ao paciente. Esse tipo de consultoria contribui para a qualidade do atendimento e fortalece a rede de saúde local (Harzheim et al., 2018).

Após cirurgias, a telemedicina facilita o monitoramento remoto dos pacientes, permitindo a detecção precoce de complicações. Com isso, é possível tomar as providências necessárias de forma rápida, sem a necessidade de deslocamentos frequentes, o que contribui para uma recuperação mais tranquila e segura (Harzheim et al., 2018).

A telemedicina pode ser integrada a programas de saúde pública, como campanhas de vacinação e rastreamento de doenças. Com isso, é possível expandir o alcance dessas iniciativas e melhorar a eficiência das ações de saúde pública, superando as limitações geográficas e tornando o atendimento mais flexível (Bashshur et al., 2014).

Combinando a análise de grandes volumes de dados e o uso de inteligência artificial, a telemedicina tem o potencial de melhorar o diagnóstico e personalizar tratamentos. A integração dessas tecnologias no atendimento médico pode não só aumentar a precisão dos diagnósticos, mas também prever surtos de doenças e otimizar a gestão da saúde (Bashshur et al., 2014).

Contudo, Soares (2025) ressalta que, é essencial fortalecer a estrutura dos serviços de saúde, investir na formação contínua dos profissionais e adotar estratégias que integrem a tecnologia sem abrir mão da sensibilidade no cuidado. Assim, será possível assegurar que todas as mulheres tenham acesso justo, seguro e digno aos recursos e benefícios oferecidos pelo SUS.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pandemia de COVID-19 evidenciou a importância da telemedicina na continuidade do atendimento em medicina geral e de família. Durante esse período, as consultas virtuais foram essenciais para garantir o cuidado aos pacientes, especialmente aqueles em grupos de risco, evitando a exposição ao vírus e reduzindo a sobrecarga dos serviços de saúde presenciais.

Contudo, os artigos destacam que ainda existem desafios na implementação ampla da telemedicina em medicina de família. Barreiras tecnológicas, como a falta de infraestrutura adequada em regiões mais isoladas, e questões éticas, como a privacidade e a segurança dos dados dos pacientes, são preocupações relevantes.

Além disso, é fundamental garantir a humanização do atendimento virtual, preservando a relação médico-paciente. Embora as tecnologias digitais facilitem a comunicação, a interação presencial ainda é insubstituível em muitos casos, especialmente em situações que exigem avaliação física detalhada.

Em síntese, a telemedicina tem se consolidado como uma ferramenta valiosa na medicina geral e de família, ampliando o acesso, qualificando o atendimento e promovendo a educação continuada dos profissionais de saúde. Apesar dos avanços, é necessário um esforço contínuo para superar os desafios e assegurar que a tecnologia seja utilizada de forma ética, segura e integrada ao sistema de saúde.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, A. F.; Senne, F. Indicadores sobre a adoção de tecnologias de informação e comunicação (TIC) na saúde. Journal of Health Informatics, v. 8, n. 4, p. 1-2, Nov. 2016. Doi: https://jhi.sbis.org.br/index.php/jhi-sbis/article/view/527.

BASHSHUR, R.; et al. The Empirical Foundations of Telemedicine Interventions for Chronic Disease Management. Telemedicine and e-Health, v. 20, n. 9, p. 769-800, 2014. DOI: 10.1089/tmj.2014.9981.

CAMARGO, A. L.; Ito, M. Utilização das tecnologias de informação e comunicação na área da saúde: uso das redes sociais pelos médicos. J. Health Inform, v. 4, n. 4, p. 164-169, Dez. 2012. Doi:  https://jhi.sbis.org.br/index.php/jhi-sbis/article/view/220.

CARVALHO, R. C.; Castro, R. C. O. S. A Telemedicina no Processo de Democratização da Saúde no Brasil: Uma Revisão Integrativa. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 6, Issue 2, p. 1737-1751, 2024. DOI: https://doi.org/10.36557/2674-8169.2024v6n2p1737-1751.

HARZHEIM, E. et al. Novo financiamento para uma nova Atenção Primária à Saúde no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n. 4, p. 1361-1374, Mar. 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232020254.35062019.

CATAPAN, S. C.; Calvo, M. C. M. Teleconsultation: an Integrative Review of the Doctor-Patient Interaction Mediated by Technology. Rev. bras. educ. med., v. 44, n. 01, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/1981-5271v44.1-20190224.ING.

KIRSHENBAUM, E. M. D.; et al. Telemedicine in Urology: The Socioeconomic Impact.  Urol. Clin. N. Am., v. 48, p. 215–222, 2021. Doi: https://doi.org/10.1016/j.ucl.2021.01.00 

KHOURI, S. G. E. Telemedicina: análise da sua evolução no Brasil. Dissertação [ Mestrado em Ciências] – Universidade São Paulo. São Paulo, 2003. 247p. Disponível em: file:///C:/Users/user/Downloads/Telemedicina%20An%C3%A1lise%20da%20sua%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20no%20Brasil%20(p.99).pdf. Acesso em: 06 abr. 2025.

LISBOA, K. O.; et al. A história da telemedicina no Brasil: desafios e vantagens. Saúde Soc. São Paulo, v. 32, n. 1, e210170pt, 2023. Doi: 10.1590/S0104-12902022210170pt.

LOPES, M. A. C. Q. et al. Janela para o Futuro ou Porta para o Caos? Arq. Bras. Cardiol., São Paulo, v. 112, n. 4, abr. 2019, p. 461-465. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2019000400461&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 01/07/2020. p. 462.

LOUZADA, L. A. C.; et al. Telemedicina: uma visão geral do estado da arte. Anais… IX Congresso Brasileiro de Informática em Saúde – CBIS. Ribeirão Preto-SP, 2004, p. 969-974. Disponível em: https://telemedicina.unifesp.br/pub/SBIS/CBIS2004/trabalhos/livro.pdf. Acesso em: 28 ago. 2024.

MENESES, D. A. O.; Oliveira, A. A. Análise das taxonomias de telessaúde e telemedicina: uma revisão sistemática da literatura. In: MACHADO, M. W. K. Information Systems and Technology Management. (Livro Eletrônico). Ponta Grossa-PR: Tena, 2019. p. 91–107. 

MESSINA, J. P.; et al. Propagação global de tipos de vírus da dengue: mapeando a história de 70 anos. Tendências Microbiol., v. 22, n. 3, p. 138-146, Mar. 2014. Doi: 10.1016/j.tim.2013.12.011.

SILVA, A. B.; Moraes, I. H. S. O caso da Rede Universitária de Telemedicina: análise da entrada da telessaúde na agenda política brasileira. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 22, n. 3, p. 1211–1235, 2012. 

OLIVEIRA, B. S. S. B. Análise e evolução da telemedicina no Brasil nos anos 2019-2023 e sua importância atual. Revista Contemporânea, [S.l.], v. 12, n. 2, p. 1-15, 2024.  https://doi.org/10.56083/RCV4N10-088

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE – OMS.  A health telematics policy in support of WHO’s Health-for-all strategy for global health development: report of the WHO Group Consultation on Health Telematics, 11-16 December, Geneva, 1997. Genebra: Organização Mundial da Saúde, 1997. Disponível em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/63857. Acesso em: 19 mar. 2025.

PINHEIRO, A. H. O.; et al. Aspectos Históricos e Bioéticos da Telemedicina: Um Artigo de Atualização. Ciências da Saúde, v. 28, n. 131, fev. 2024. DOI: 10.5281/zenodo.10658509.

ROMERO, M. P.; et al. A segurança do paciente, qualidade do atendimento e ética dos sistemas de saúde. Rev. Bioét. v. 26, n. 3, Oct-Dec., 2018. Doi: https://doi.org/10.1590/1983-80422018263252.

SABBATINI, R. M. E. A Telemedicina no Brasil: Evolução e Perspectivas. 2001. 12p. In: Informática em Saúde, São Bernardo do Campo: Editora Yendis, 1912. Disponível em: https://www.sabbatini.com/renato/papers/ Telemedicina_Brasil_Evolucao_Perspectivas.pdf. Acesso em: 15 Mar. 2025.

SANTOS, B. S. A Cruel Pedagogia do Vírus. ed. Almedina, abr. 2020. 

SANTOS, A. F.; et al., Incorporação de Tecnologias de Informação e Comunicação e qualidade na atenção básica em saúde no Brasil. Cad. Saúde Pública, v. 33, n. 5, e00172815. 2017. Doi: 10.1590/0102-311X00172815.

SANTOS, W. S.; et al. Reflexões acerca do uso da telemedicina no Brasil: oportunidade ou ameaça? Revista de Gestão em Sistemas de Saúde, v. 9, n. 3, p. 433-453; Set./Dez. 2020. Doi: https://doi.org/10.5585/rgss.v9i3.17514

SILVA, W. G.; Ramos, M. P. Telesaúde no brasil: uma visão geográfica. Enciclopédia Biosfera, Goiânia, v. 7, n. 12, p. 1-12, Mai. 2011.

SILVA, A. B.; Moraes, I. H. S. O caso da Rede Universitária de Telemedicina: análise da entrada da telessaúde na agenda política brasileira. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 22, n. 3, p. 1211-1235, Abr./Set., 2012. Doi: https://doi.org/10.1590/S0103-73312012000300019 

SIMPSON, A. T.; et al. Interagency Cooperation in the Twilight of the Great Society: Telemedicine, NASA, and the Papago Nation. Journal of Policy History, v. 32, n. 1, p. 25-51, Jan. 2020. Doi: https://doi.org/10.1017/S0898030619000265.

SOARES, A. R. A telemedicina no acesso à saúde no pós-pandemia. International Integralize Scientific, Florianópolis, v. 5, n. 44, p. 151-158, Fev. 2025a- ISSN/3085-654X.

SOARES, A. R. O uso da telemedicina no câncer do colo do útero. International Integralize Scientific, Florianópolis, v. 5, n. 44, p. 108-116, Fev. 2025b – ISSN/3085-654X.

Soares, Alcir Rosa. A aplicação da telemedicina na medicina geral e de família.International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

Share this :

Edição

v. 5
n. 46
A aplicação da telemedicina na medicina geral e de família

Área do Conhecimento

Autoeficácia e envelhecimento bem-sucedido
autoeficácia; envelhecimento bem-sucedido; idoso.
Impacto da acreditação ONA na melhoria da qualidade, segurança e eficiência dos serviços hospitalares no Brasil
acreditação; certificação; cultura organizacional; eficiência; qualidade.
Ginástica Geral ou Ginástica para Todos (GPT): Em busca da qualidade de vida, hábitos saudáveis e prevenção de doenças – Estudo de Caso
amplitude de movimentos; força muscular; qualidade de vida.
Percepção dos pacientes em relação à UTI e a humanização do cuidado
percepção; UTI; humanização; cuidado.
As políticas públicas voltadas para o controle do câncer de mama e o papel da mulher e a melhor estratégia de prevenção e diagnóstico precoce dentro da atenção básica
A desvalorização profissional e seus efeitos na saúde mental dos professores: pressões institucionais, falta de empatia e a utilização da neurociência como ferramenta de apoio no contexto brasileiro
saúde mental;assédio moral; neurociência; professores; Burnout.

Últimas Edições

Confira as últimas edições da International Integralize Scientific

maio

Vol.

5

47

Maio/2025
feature-abri-2025

Vol.

5

46

Abril/2025
MARCO

Vol.

5

45

Março/2025
FEVEREIRO (1)

Vol.

5

44

Fevereiro/2025
feature-43

Vol.

5

43

Janeiro/2025
DEZEMBRO

Vol.

4

42

Dezembro/2024
NOVEMBRO

Vol.

4

41

Novembro/2024
OUT-CAPA

Vol.

4

40

Outubro/2024

Fale com um com um consultor acadêmico!

O profissional mais capacitado a orientá-lo e sanar todas as suas dúvidas referentes ao processo de mestrado/doutorado.