INTRODUÇÃO

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) tem sido um marco importante na reforma educacional no Brasil, priorizando o desenvolvimento integral dos estudantes. Além das competências cognitivas, a BNCC destaca as competências socioemocionais como essenciais para preparar os alunos para os desafios acadêmicos, profissionais e sociais do século XXI. Nesse cenário, a evolução do mercado de trabalho exige habilidades que vão além do conhecimento técnico, como empatia, comunicação eficaz, resiliência e autoconhecimento. Tais habilidades são fundamentais para o sucesso profissional e a adaptação a um mundo em constante transformação.

Diversas iniciativas inovadoras em escolas técnicas reforçam esse movimento, como o projeto realizado em parceria com o Instituto Ayrton Senna e o apoio de empresas como a Arcos Dorados, por meio da campanha McDia Feliz. Esse projeto serve como um exemplo prático de como a educação socioemocional pode ser integrada ao currículo escolar de maneira eficiente.

Este artigo analisa como a educação socioemocional, aliada às tecnologias emergentes, pode melhorar a experiência educacional, preparando os alunos das escolas técnicas para o mercado de trabalho e para a vida adulta. Além disso, discutiremos os desafios e as oportunidades da implementação dessa integração, propondo estratégias eficazes para o desenvolvimento de competências socioemocionais no ambiente escolar.

BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC) E SUAS COMPETÊNCIAS GERAIS

As Escolas Técnicas Estaduais (ETECs) do Centro Paula Souza (CPS) em São Paulo alinham-se à BNCC ao incorporar as dez competências gerais em seus currículos, especialmente nos cursos de Ensino Médio integrado ao Técnico. Esses cursos combinam as disciplinas da BNCC com a formação profissional, desenvolvendo os estudantes tanto para o mercado de trabalho quanto para a continuidade dos estudos no Ensino Superior.

Competências da BNCC nas ETECs:

• Conhecimento: Os currículos valorizam o conhecimento científico e técnico, atendendo às demandas do mercado de trabalho.
• Pensamento científico, crítico e criativo: Incentivam a investigação e a resolução de problemas práticos, capacitando os alunos para desafios profissionais.
• Trabalho e projeto de vida: Proporciona recursos para o planejamento de carreira e projetos pessoais, com alto índice de empregabilidade.
• Empatia e cooperação: A estrutura dos cursos incentiva o trabalho em equipe, essencial para o ambiente profissional.
• Responsabilidade e cidadania: Enfatizam a ética e a responsabilidade, capacitando os alunos para atuar de forma consciente na sociedade.

As ETECs oferecem modalidades como o Ensino Médio integrado ao Técnico em período integral, parcial ou noturno, com parte da carga horária ministrada a distância, ajustando-se às necessidades dos estudantes que trabalham. Essa integração entre a BNCC e a formação técnica reforça o preparo dos alunos para o mercado de trabalho e para a vida cidadã, alinhando-se às competências essenciais definidas pela Base.

EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL: DEFINIÇÃO E RELEVÂNCIA

A educação socioemocional visa o desenvolvimento de habilidades relacionadas ao autoconhecimento, autocontrole, empatia, habilidades sociais e à tomada de decisões responsáveis. Como destacado por Pereira (2018), essas competências são fundamentais não apenas para a vida escolar, mas também para a vida pessoal e profissional dos indivíduos. O ensino dessas habilidades socioemocionais melhora a forma como os alunos lidam com suas emoções, comunicam-se e se relacionam com os outros, impactando positivamente o desempenho acadêmico e o bem-estar geral.

O desenvolvimento socioemocional prepara os alunos para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo, tornando-os cidadãos mais responsáveis, empáticos e resilientes. Tomazi (2020) também ressalta que, apesar do crescente interesse pela educação emocional, a integração das tecnologias no ensino dessas competências ainda precisa ser mais explorada para garantir eficácia.

Adicionalmente, a educação socioemocional cria ambientes escolares mais inclusivos e colaborativos. Segundo Weissberg et al. (2013), a implementação de programas socioemocionais nas escolas está associada à redução de problemas de conduta e ao aumento da empatia e cooperação entre os alunos. Esses programas ajudam os estudantes a desenvolverem uma consciência social mais aguçada, permitindo-lhes compreender e respeitar as perspectivas dos outros, essencial para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Marin et al. (2017) destacam que essa abordagem é especialmente importante para indivíduos com necessidades especiais, contribuindo para o desenvolvimento de uma identidade positiva e o reconhecimento de seus direitos e valor. 

PROJETO INOVADOR NAS ESCOLAS TÉCNICAS DE SÃO PAULO

Em 2024, foi implementado um projeto inovador nas escolas técnicas do estado de São Paulo, em parceria com o Instituto Ayrton Senna e com o apoio da campanha McDia Feliz. O projeto beneficia 4 mil estudantes do 1º ano do Ensino Médio e tem como objetivo integrar as competências socioemocionais ao currículo técnico. Para isso, foram inseridas disciplinas complementares focadas no desenvolvimento emocional dos alunos, como oficinas sobre como falar em público, postura profissional e trabalho em equipe.

Esse projeto se mostra fundamental para preparar os estudantes para os desafios do mercado de trabalho, promovendo o desenvolvimento de competências essenciais, como comunicação, empatia e colaboração. Tais habilidades são trabalhadas por meio de atividades práticas e do uso de tecnologias, como a criação de apresentações digitais, que combinam conteúdo técnico com o fortalecimento das competências socioemocionais.

Marie Tarisse, gerente sênior de sustentabilidade da Arcos Dorados, destacou a importância da parceria com o Instituto Ayrton Senna e as Escolas Técnicas: “Como uma das maiores geradoras de primeiro emprego formal para jovens no País, acreditamos que investir no desenvolvimento e na capacitação das pessoas é o melhor caminho para avançar como sociedade. A parceria com o Instituto Ayrton Senna, em um projeto tão importante quanto o Diálogos Socioemocionais, é fundamental para a realização de um dos nossos compromissos: ter a educação como base para o desenvolvimento individual e coletivo, além de levá-la a um novo patamar, atingindo milhares de pessoas.”

1. Papel estratégico na geração de empregos dos jovens

A Arcos Dorados se posiciona como uma das principais geradoras de primeiros empregos formais para jovens no Brasil. Dados internos da empresa indicam que 82% de seus colaboradores ingressaram no mercado de trabalho por meio da rede, refletindo um forte compromisso com a inclusão profissional. Esse posicionamento é ainda mais relevante em um contexto em que 62% da força de trabalho tem entre 16 e 24 anos.

2. Sinergia entre educação e desenvolvimento socioemocional

A parceria com o Instituto Ayrton Senna no projeto Diálogos Socioemocionais demonstra uma abordagem integrada entre a formação técnica e o desenvolvimento das competências não cognitivas. O programa é aplicado em 40 ETECs do Centro Paula Souza, com o objetivo de capacitar professores para trabalharem habilidades como autoconhecimento, resiliência e gestão emocional, alinhando-se ao preparo dos alunos para o mercado de trabalho.

3. Impacto sistêmico como diretriz estratégica

A frase “educação como base para o desenvolvimento individual e coletivo” reforça a visão da Arcos Dorados de que investimentos em capacitação geram efeitos multiplicadores. Essa abordagem se conecta com a Receita do Futuro, que busca maximizar o impacto de suas iniciativas educacionais e sociais, criando uma cadeia de desenvolvimento sustentável tanto para os indivíduos quanto para a sociedade como um todo.

TECNOLOGIAS EMERGENTES NA EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL

As tecnologias emergentes têm o potencial de transformar o ensino, personalizando a experiência educacional e adaptando-a às necessidades individuais de cada aluno. No campo da educação socioemocional, as tecnologias podem ser aliadas poderosas no desenvolvimento de habilidades como empatia, autocontrole e colaboração. Segundo Moran (2015), as tecnologias oferecem novas formas de interação e aprendizado, tornando o processo mais dinâmico e centrado no aluno.

A ETEC Adhemar Batista Heméritas onde ministro aulas na área de tecnologia foi umas das 40 escolas escolhidas para desenvolver o projeto socioemocional. Nos projetos práticos em laboratório, são utilizadas plataformas digitais que ajustam no desenvolvimento dos estudantes, fornecendo feedback imediato dos processos realizados e acompanhamento pedagógico do professor na solução de problemas que possam ocorrer. As tecnologias como a inteligência artificial (IA) têm sido exploradas para criar situações que desafiem os alunos a praticar habilidades socioemocionais em um ambiente seguro e controlado.

Durante as aulas também são utilizadas ferramentas de IA e tecnologias emergentes, como a realidade virtual (RV) e a realidade aumentada (RA), para expandir as possibilidades do ensino socioemocional. Essas tecnologias criam experiências imersivas e interativas. Por exemplo, a RV é empregada para simular cenários sociais complexos, permitindo que os alunos pratiquem habilidades como resolução de conflitos e comunicação assertiva em um ambiente seguro e controlado. Segundo Mendes e Ferreira (2020), essas tecnologias oferecem oportunidades únicas para o desenvolvimento de competências socioemocionais, pois possibilitam que os alunos vivenciem e aprendam com situações difíceis de replicar em contextos tradicionais.

 Ferramentas baseadas em IA, como chatbots educacionais, fornecem suporte emocional personalizado, auxiliando os alunos a lidarem com desafios cotidianos e a desenvolverem resiliência emocional. Essa integração de tecnologias não só enriquece o aprendizado, mas também prepara os estudantes para um mundo cada vez mais digital e interconectado, fortalecendo suas habilidades para enfrentar os desafios do futuro.

DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIONAL EM SALA DE AULA

A integração de tecnologias na educação socioemocional traz benefícios significativos, mas também enfrenta desafios que exigem atenção cuidadosa. Esses desafios e oportunidades foram divididos em sete conceitos principais. Como destacado por Piaget (2020), “o desenvolvimento social e emocional está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento cognitivo”. Essa perspectiva reforça a importância de integrar tecnologias que não apenas promovam habilidades socioemocionais, mas também apoiem o crescimento cognitivo dos alunos, criando uma abordagem holística para a educação. Apesar dos obstáculos, quando utilizadas de forma equilibrada, as tecnologias oferecem amplas oportunidades para personalizar a experiência de aprendizagem, aumentar o engajamento dos alunos e criar ambientes colaborativos e inclusivos.

DESAFIOS

Acesso e Equidade

Nem todas as escolas e estudantes têm acesso igualitário a dispositivos digitais e conexão à internet, o que cria uma divisão digital e afeta a igualdade de oportunidades educacionais. Essa disparidade limita o alcance das tecnologias em contextos socioeconômicos desfavorecidos.

Capacitação Docente

Muitos educadores não estão familiarizados com as novas tecnologias ou não sabem como integrá-las de forma eficaz em suas práticas pedagógicas. A falta de treinamento adequado impede o aproveitamento pleno dessas ferramentas.

Eficácia das Ferramentas

Nem todas as soluções tecnológicas são igualmente eficazes ou adequadas para todos os alunos. É essencial realizar pesquisas rigorosas para identificar as melhores práticas e garantir que as ferramentas promovam efetivamente o desenvolvimento socioemocional.

OPORTUNIDADES

Personalização da Aprendizagem

As tecnologias permitem adaptar a experiência de aprendizagem ao ritmo e às necessidades individuais dos alunos, promovendo um ensino mais inclusivo e eficaz.

Engajamento e Interatividade

Ferramentas digitais, como aplicativos interativos e plataformas de gamificação, aumentam o engajamento dos estudantes e transformam a aprendizagem em uma experiência mais envolvente. Jogos focados em habilidades socioemocionais, por exemplo, fortalecem a resiliência e a cooperação.

Monitoramento e Feedback

Plataformas tecnológicas oferecem dados em tempo real sobre o progresso emocional e social dos alunos, permitindo que os educadores ajustem suas abordagens de forma responsiva. Ferramentas como o Mood Meter ajudam os alunos a refletirem sobre suas emoções e receber feedback contínuo.

Inclusão e Acessibilidade

Recursos digitais podem superar barreiras linguísticas e físicas, tornando a educação socioemocional mais acessível para alunos com deficiências ou de contextos multiculturais. Isso democratiza o acesso a programas de desenvolvimento socioemocional, especialmente em áreas remotas ou subtendidas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A integração entre educação socioemocional e tecnologias emergentes tem mostrado um grande potencial para transformar a experiência educacional e preparar os alunos para os desafios futuros. O projeto nas escolas técnicas de São Paulo é um exemplo de como essa abordagem pode ser aplicada com sucesso, promovendo o desenvolvimento integral dos estudantes. Ao garantir que os alunos desenvolvam tanto competências cognitivas quanto socioemocionais, as escolas contribuem para formar cidadãos mais preparados para atuar de forma responsável e ética na sociedade.

Escrever este artigo sobre a integração da educação socioemocional com as tecnologias emergentes também gerou resultados positivos para a compreensão e aplicação desse tema. A pesquisa aprofundou meu conhecimento sobre como as tecnologias podem potencializar o desenvolvimento das competências socioemocionais, proporcionando uma visão mais clara de como educadores e gestores podem implementar essas metodologias em diferentes contextos educacionais. Também, ao analisar os desafios e as oportunidades, pude identificar formas práticas de superar obstáculos, como a falta de acesso à tecnologia, e criar soluções mais inclusivas.

A reflexão sobre o uso de tecnologias como a inteligência artificial, realidade virtual e aumentada, e plataformas digitais interativas mostrou o grande potencial dessas ferramentas para enriquecer o processo de aprendizagem, tornando-o mais envolvente e personalizado. Isso me mostrou como as tecnologias emergentes podem transformar a forma como os alunos se relacionam com o aprendizado e com o desenvolvimento de suas habilidades socioemocionais.

Para que essa transformação seja efetiva, é fundamental que educadores, gestores e formuladores de políticas públicas continuem a investir na integração de metodologias inovadoras e no uso responsável das tecnologias na educação. Este artigo contribui, assim, para um debate mais amplo sobre como a educação socioemocional e as tecnologias emergentes podem caminhar juntas, preparando os alunos para um futuro mais adaptado às exigências do mercado de trabalho e às necessidades pessoais e sociais de um mundo cada vez mais complexo e digitalizado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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