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Resumo
INTRODUÇÃO
Os dados obtidos por meio de uma revisão sistemática com meta-análise realizada no Brasil mostram alta prevalência de tempo excessivo diante do celular e da televisão em adolescentes excedendo o limite de duas horas diárias recomendado pela AAP (Schan et. al 2019).
O que de fato acontece é que os adolescentes tem se tornado bastante sedentários, por que passam muito tempo sentados diante das telas, não praticam atividades físicas, não se alimentam bem e se afastam dos pais (Pate,2008).
Conforme Council on Communication Media (2013) eles devem utilizar as telas apenas por duas horas. Em se tratando do nível nacional, 78% dos alunos que fazem o 9º ano do Ensino Fundamental de escolas públicas e privadas das capitais brasileiras afirmaram que passam mais de duas horas ou mais diante das telas (Dados da pesquisa nacional de saúde escolar- PENSE).
A pesquisa nacional por amostra em domicílios (PNAD,2013) ressalta que nas regiões sul e sudeste, cerca de 52,9% tem computador e na região nordeste, cerca de 29,4% dos domicílios têm computador.
A realidade que se configura é um quadro preocupante com adolescentes que tem ficado muito tempo exposto a tela e isso por causa dos diversos problemas de saúde, como a obesidade, diabetes e colesterol ( Kang,2010).
Quando eles estão defronte as telas, observa-se que eles estão refugiados e esse “refúgio” termina os escravizando. É de reconhecimento geral que a Organização Mundial de Saúde possui diretrizes para esse uso, no entanto, uma análise recente indicou que menos de ¼ das crianças menores de 2 anos e somente 1/3 das crianças entre 02 e 05 anos efetivamente cumprem os tempos máximos diários sugeridos (OMS,2023).
São diversos os pontos negativos porque nessa etapa o cérebro e o corpo estão em pleno desenvolvimento, além da irritabilidade. Há uma série de fatores que não podem ser descartados considerando o uso desenfreado de telas pelos adolescentes.
As famílias reconhecem que o uso desmedido de eletrônicos tem tornado muitos dependentes e outros estudos mostram que essa dependência tem trazido problemas neurológicos ao cérebro. De fato, isso tem se alastrado por várias camadas populares.
Cheng et al (2010) ressalta que a era digital tornou-se um modismo e cada vez mais o uso tem se tornado precoce. Bucksch et al ( 2016) destaca que a mídia interativa e móvel tem sido usada por todos.
A RELAÇÃO DA FAMÍLIA X ADOLESCENTES
A família e a escola estão integradas por longos anos, mas há de se considerar que a família é o primeiro grupo social onde o indivíduo nasce, cresce e se educa. Na verdade, é onde se prepara o ser para viver em sociedade.
A escola é o espaço onde acontece a aprendizagem, ou seja, na verdade seu papel está ancorado na promoção do “pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Assim, só se aprende através das inúmeras experiências em sala de aula.
Portanto, este artigo trata-se de uma pesquisa bibliográfica sobre a relação família e os adolescentes que utilizam demais as telas. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é identificar o quanto isso pode favorecer ou dificultar a relação entre esses protagonistas, tendo como pressuposto que é preciso desenvolver ações entre ambos para que de fato tenham essa integração da família e escola .
Os caminhos metodológicos adotados neste trabalho partiram por meio de pesquisa bibliográfica através de livros, artigos, sites, e através de observações em escolas, realização de entrevistas destinadas à diretora e aos professores e por meio de questionário e análise dos dados coletados. Torna-se visível, assim, uma construção de parceria para qualificar o educar e o cuidar, de forma indissociável e com qualidade.
Abordar o tema da família e sua vivência com adolescentes retoma em primeiro lugar o papel fundamental que ela desempenha na sociedade, e por considerar a parceria com a família muito importante para o desenvolvimento do trabalho educativo. A escola tem papel fundamental para estimular o desenvolvimento das competências, habilidades e atitudes, ou seja, tem a finalidade de desenvolver o educando de maneira plena, de preparar-lhe para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.”(LDB, Art. 22, 1996).
A família também deverá participar dessa conexão, pois, tem papel importante na vida deles e que deve estabelecer uma relação de parceria com a escola. A família desempenha um papel fundamental na formação dos seus filhos. Compreende-se que é uma instituição responsável por promover a educação dos filhos e influenciar o comportamento dos mesmos no meio social. Portanto, a escola necessita dessa parceria permanente com a família. Dela depende em grande parte a personalidade do adulto que essa criança deverá ser.
É importante assinalar que esse papel exercido pela escola norteará a apropriação de informações e conhecimentos, conexão necessária para uma inserção no mundo do trabalho.
O tema proposto para esta pesquisa foi escolhido considerando identificar o que favorecem ou dificulta a integração entre família e escola, por perceber a participação insatisfatória dos mesmos na vida escolar de seus filhos. Para a compreensão do contexto em que se deu a pesquisa foi necessário analisar a maneira em que a escola envolve a família no processo educacional do aluno através de uma pesquisa de campo.
Diante do exposto, torna-se visível construir uma parceria entre família e escola para qualificar o educar e o cuidar, de forma indissociável e com qualidade, pois ambas constituem os dois principais ambientes de desenvolvimento humano.
Nesse sentido, o presente trabalho justifica-se em destacar porque essas relações são importantes e devem ser resgatadas para conhecer a realidade de cada educando. Ressaltando que a família e sua relação na escola é algo primordial no bom desempenho dos educandos.
Tanto uma quanto a outra precisam trabalhar juntas e não ficar uma isolada da outra. A família deve contribuir e incentivar as atividades que forem realizadas na escola, além de exercer respeito sobre todos os membros e a escola com os pais, visando sempre à qualificação necessária e incentivando o desenvolvimento desses na escola.
A TECNOLOGIA E INCLUSÃO
De fato, alunos de vários setores sociais já experimentaram ficar longe das telas. Mas, é necessário entender que as dificuldades se transformam em problemas na medida em que não sabemos como fazer, não queremos ou não dispomos de meios para enfrentá-las. Em relação a questão da tecnologia é uma falta de entendimento a respeito de como elas devem ser usadas.
A sociedade em geral e as comunidades escolares vêem o problema se tornar cada vez maior. Mas, ainda são indiferentes e não traçam um plano para resolver.
Tratando-se de família e inserção da tecnologia, evidencia-se que há uma preparação para ensiná-los a utilizar os recursos tecnológicos, mas não há a preocupação em que isso não os domine.
Teixeira (2010) afirma que foi as aulas remotas que fizeram com que os adolescentes passassem a usar mais ainda o celular (Teixeira, 2010).
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios realizada em 2021 pelo IBGE, a internet já é acessível em 90% dos domicílios brasileiros. Entre as pessoas com 10 anos ou mais de idade, os estudantes foram os que mais acessaram a internet (90,3%). Entre esses, os estudantes da rede privada (98,2%) têm mais acesso à internet da rede pública (87%). A pesquisa revelou ainda que 95% dos estudantes utilizam a internet com o principal intuito de assistir a programas, filmes e séries. A segunda maior finalidade dos estudantes em navegar na rede é conversar por chamadas de voz ou vídeo (94,6%).
Diversos fatores passaram a influenciar o processo de desenvolvimento e .o uso das telas interferiu no desenvolvimento neuropsicomotor, causando déficits e atrasos na linguagem, comunicação, habilidades motoras e saúde emocional (Madigan et al., 2019).
O que se configura é uma luta diária para manter o equilíbrio entre os meios didáticos e o uso tecnológico , porque se anular uma e ficar apenas com a outra, pode haver problemas sérios e o que se quer mesmo é que o uso das telas não represente um bloqueio no percurso da aprendizagem.
A tecnologia não é maléfica, o que causa problemas é o exagero na sua utilização. De fato, a tecnologia oferece informações em tempo real, conectando muitas pessoas em diversos lugares do mundo e assim trocar experiência, e ainda criar novas expectativas de buscar novas realidades.
As pessoas pensam que todo adolescente é igual, mas não é assim. Cada fase vivenciada é diferente e a maneira de enfrentar também. Há momentos em que as atitudes são mais intensas ou não, depende muito de cada um. Segundo Frota (2007):
Para a maior parte dos estudiosos do desenvolvimento humano, ser adolescente é viver um período de mudanças físicas, cognitivas e sociais que, juntas, ajudam a traçar o perfil desta população. Atualmente, fala-se da adolescência como uma fase do desenvolvimento humano que faz uma ponte entre a infância e a idade adulta. Nessa perspectiva de ligação, a adolescência é compreendida como um período atravessado por crises, que encaminham o jovem na construção de sua subjetividade. (Frota, 2007, p.152).
Na adolescência acontece muitas mudanças físicas e por isso ela está relacionada à puberdade, mas de fato é uma transição importante para a vida adulta. O jovem deixa de ser criança e passa a ser inserido no mundo das responsabilidades do adulto. Infelizmente, muitos vícios e problemas de autocontrole, ele já leva para essa fase.
Com a evolução tecnológica, o ensino resolveu adotá-la para não ficar pra trás, e vem sendo utilizada para o êxito da aprendizagem no ambiente escolar. As informações oferecidas não são seletivas e isso é que torna a situação grave. Porque, se por um lado a educação usa a tecnologia a seu favor, por outro lado, a tecnologia oferece um leque de informações que pode destruir todo o saber adquirido, se não houver uma orientação.
Conforme Varella(2023) a preocupação é com a maneira como isso afeta o desenvolvimento escolar e a saúde mental de crianças e adolescentes. Damasio (2017) reitera que ela hoje está na moda. Mas, antes a comunicação precisava de interação. E talvez por isso, as relações eram mais concretas.
Os avanços tecnológicos foram criados para que o conhecimento se expandisse, quanto mais se aprendesse, a qualidade de vida melhoraria. Isso avançou bastante e trouxe muitos conhecimentos, mudando completamente a nossa forma de viver e aprender, tornando o nosso trabalho mais fácil.
Dessa forma, surgiu a urgência em buscar por conhecimentos. Essa busca ocultou as verdadeiras intenções das telas, pois o homem passou a transferir toda sua atenção para as telas, como uma dependência. Hoje, mais da metade da população não consegue se manter distante das telas e um diálogo , na maioria das vezes, é substituído por palestras online(Damasio, 2007, p.03).
A família buscou ajuda para entender o que fazer porque a situação de crianças e adolescentes com ansiedade, síndrome do pânico e depressão era gritante. No contexto educacional , os educadores veem hoje uma perspectiva onde no meio escolar não haja a entrada dos celulares, como uma medida necessária para não bloquear o processo ensino-aprendizagem ( Varella, 2023).
Young ( 2017) ressalta que existem muitos meios para a família e a escola identificar quando as telas estão prejudicando os adolescentes, mas a mais segura delas é quando passa do limite, mais especificamente quando o uso é de horas e afetam o desenvolvimento até físico da criança.
Quando a utilização da tecnologia diminui o parecer escolar dos adolescentes, está explícito o problema e quanto mais ele se estende, pior vai ficando. Para identificar as mudanças do comportamento dos adolescentes e crianças é preciso estar próximo deles e considerar o contexto, ou seja, irritabilidade pode também indicar fome, cansaço, tristeza, ou ainda um problema familiar ou na escola.
Existem transformações na adolescência, por exemplo, que estão relacionadas com as alterações hormonais e de comportamento, também devem ser consideradas. Em termos de funcionamento da mente, podemos especificar um pouco mais e fazer algumas considerações ( Nelsen, 2019) . Muitas vezes, esquecemos que o uso desenfreado das telas também surge no âmbito familiar, quando o lar não tem diálogo e os adolescentes se sentem isolados dentro de sua própria casa.
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