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Resumo
INTRODUÇÃO
Define-se a competência motora como estabilização, locomoção e manipulação, sendo possível a partir desta, a estabilidade e a capacidade de movimentar-se, utilizando diferentes objetos. As competências motoras podem ser divididas em coordenação motora grossa e coordenação motora fina.
Segundo Costa e Neto, a motricidade fina demanda mais tempo para o seu refinamento, devido à exigência de precisão e de velocidades específicas, bem como uma força mínima.
A motricidade fina refere-se à capacidade de controlar um conjunto de atividades de movimento de certos segmentos do corpo, com emprego de força mínima, com capacidade de controlar os músculos pequenos do corpo (Rosa Neto, 2002; Gallahue; Ozmun; Goodway, 2013 )
No dia a dia, temos várias tarefas que demandam o controle dos músculos pequenos do corpo. Isso inclui atividades cotidianas, como escovar os dentes, pentear o cabelo e vestir ou despir roupas. Além disso, também envolve outras ações, como usar uma tesoura para recortar papel, pegar um lápis para escrever ou pintar, e até preparar um lanche, entre muitas outras.
De acordo com Harrow (1988), é nas atividades do dia a dia que a criança vai desenvolvendo suas habilidades para realizar esses movimentos comuns. No entanto, é importante que a criança receba incentivos para explorar diferentes tarefas, o que a ajudará a vivenciar e aprimorar suas habilidades, desde as mais simples até as mais complexas.
Maronesi et al. explicam que as atividades que exigem coordenação entre objeto/olho/mão também dependem do nível de aprendizado da criança e da evolução de seu desenvolvimento motor. Sendo assim, compreende-se que a motricidade fina é aprimorada entre os 6 e 7 anos de idade, sendo de fundamental importância para o desempenho ocupacional escolar.
REFERENCIAL TEÓRICO
É importante compreender o desenvolvimento motor típico, para que seja possível identificar déficits de funcionalidade e atrasos de importantes aquisições motoras. Entender como a criança constroi a postura e o movimento, emerge da cooperação entre vários subsistemas dentro de um contexto orientado à tarefa.
Durante o primeiro ano de vida, o recém-nascido vivencia uma série de transformações, que o levam gradativamente a: alcançar e soltar objetos, a alimentar-se, a alcançar a posição em pé e a comunicar-se.
ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO DA MANIPULAÇÃO DE OBJETOS NO BEBÊ
O recém-nascido apresenta ativação dos músculos manguito rotador e extensores de pescoço; já é capaz de localizar objetos, sugar a própria mão e começa a fixar o olhar em um rosto.
No primeiro mês de vida, combina os extensores de pescoço com os músculos escapulares e já é capaz de prestar atenção em objetos em movimento e iniciar o sorriso social.
Com dois meses, começa a ativar a musculatura antigravitacional do peito e do pescoço; consegue arranhar a superfície com as suas mãos, pode levantar cabeça acima do nível de ombros e pode mover seus olhos em relação ao estímulo.
Em seguida, com três meses, ativa a porção externa do peitoral maior e do músculo serrátil; apresenta a sinergia flexora de braço; é capaz de tocar suas mãos em linha média, pode pegar um objeto e segurar por alguns segundos.
Com quatro meses, ativa de maneira simultânea flexores e extensores de pescoço, peitoral maior e deltoides, bíceps e tríceps, extensores lombares e fortalece adutores e abdutores de escápula. É capaz de alcançar objetos na posição supino, toca sua própria cabeça e seus joelhos e pode rodar um objeto para olhá-lo.
Aos cinco e seis meses, os músculos flexores e extensores de punho atuam em sinergia; devido à transferência de peso em membros superiores, alonga lado cubital e radial da mão, separadamente; aumenta força muscular em membros superiores e realiza a supinação e extensão de cotovelo contra a gravidade. Funcionalmente, alcança com uma mão, transfere objeto de uma mão para outra, consegue comer um alimento semissólido sozinho e melhora a exploração em prono. Apresenta a reação de proteção anterior.
Entre os quatro e os seis meses, o bebê abre e fecha a mão como preparação para uma compreensão madura; e aos cinco e seis meses, o bebê usa a hiperextensão metacarpofalangeana para aproximar a mão do objeto devido à falta de estabilidade da mão.
Segundo Mendes et al., bebês pré-termos (antes de 37 semanas), fatores genéticos, condições socioeconômicas e nível de escolaridade dos pais são considerados fatores de extrema importância para o pleno desenvolvimento de uma criança. Neste sentido, Pilatti et al. e Araújo et al. discorrem sobre a importância do ambiente como um facilitador do desenvolvimento normal do bebê, pois compreende-se que um ambiente favorável é aquele que permite que a criança explore e interaja com o meio, sendo capaz de construir respostas adaptativas.
É importante enfatizar que se forem identificadas dificuldades no desenvolvimento da motricidade fina, a criança juntamente com sua família, deverão ser direcionadas para uma avaliação com um terapeuta ocupacional, que é o profissional habilitado para avaliar e elaborar estratégias de intervenções frente a essa demanda.
A IMPORTÂNCIA DA MOTRICIDADE FINA
A motricidade fina é de extrema importância para diversas competências de desempenho ocupacional:
A motricidade fina é importante porque é essencial para o desempenho das tarefas que a criança realiza diariamente: vestir-se, abotoar botões e atar atacadores, abrir a lancheira, lavar os dentes, e todas as tarefas que se realizam com lápis e canetas (pintar, escrever, etc.). Sem estas competências de motricidade fina, a criança vê seu desempenho diminuído, afetando a autoestima e a aprendizagem escolar (Serrano e de Luque, 2015, p.20).
A exploração do meio em que a criança está inserida é fundamental para o desenvolvimento de sua motricidade fina, pois é a partir dessa exploração que serão oportunizadas experiências sensoriais referentes às texturas, pesos e formas dos objetos.
Esta informação será importante no futuro, quando se relacionar com o que a rodeia, uma vez que vai lhe permitir perceber, quando olha para um objeto, como deve colocar a mão e que força necessita para o manipular (Serrano e de Luque, 2015, p.40).
É necessário compreender a influência que os adultos representam no desenvolvimento da coordenação motora fina das crianças, pois uma atitude que favoreça a participação da criança na rotina e nas tarefas de casa, contribui para o pleno desenvolvimento de habilidades e efetivos desempenhos ocupacionais. Segundo Serrano (9), “a realização das atividades da vida diária pela criança, permite treinar uma grande variedade de preensões e movimentos das mãos” (p.42).
ESTRATÉGIAS E ATIVIDADES
Segundo Serrano e de Luque, diferentes atividades lúdicas podem contribuir para estimular o desenvolvimento da motricidade fina. É importante realizar a análise da atividade que a criança realiza, para que se possa incrementar desafios e possibilitar amplas vivências e diferentes explorações.
Neste sentido, é recomendado que sejam oportunizadas atividades que possibilitem o fortalecimento das mãos e dos dedos, tais como massinhas de modelar e bolas de diferentes texturas; atividades para desenvolver os arcos das mãos, que envolvam dissociação dos dedos; atividades com foco em promover a estabilidade de extensão do punho, como por exemplo brincadeiras que envolvam transferências de pesos em membros superiores e brincadeiras que possibilitem o fortalecimento da pinça polegar-indicador, importante movimento para futuras habilidades motoras.
METODOLOGIA
Este estudo adotou uma abordagem qualitativa, de caráter exploratório, com análise de obras e artigos científicos sobre o tema. Para a produção deste artigo foram lidas na íntegra fontes bibliográficas brasileiras e estrangeiras, selecionadas a partir da leitura dos títulos e resumos, identificando a temática e ressaltando a relação com a ideia central deste artigo.
O objetivo do presente artigo é explicar sobre o desenvolvimento da motricidade fina nos primeiros seis meses de vida dentro do desenvolvimento infantil típico, bem como as estratégias utilizadas como facilitadoras deste processo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As habilidades de motricidade fina envolvem principalmente os membros superiores, contudo também é necessário um bom desenvolvimento global para que as crianças sejam capazes de executar com funcionalidade as tarefas que estão inseridas em seu cotidiano.
Quando existem dificuldades na motricidade fina, a criança habitualmente é encaminhada para um terapeuta ocupacional para que este possa realizar uma avaliação abrangente referente aos aspectos motores, percepto-cognitivos e sensoriais para que seja possível a identificação das áreas com defasagens e então a elaboração de um plano de intervenção.
Neste sentido, é importante a continuidade de pesquisas referentes ao desenvolvimento da motricidade fina correlacionando com o que é esperado em cada fase do desenvolvimento infantil e como as atividades do cotidiano podem contribuir para o desenvolvimento pleno da criança, bem como a divulgação científica acerca do tema.
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